17 - Elitrópolis

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Por alguma razão, não estava a perceber quem era de início, por estar tão escuro na sala. Mas assim que a criatura se aproximou, percebi quem estava na minha presença: O Mestre de tudo.

— De... Me Me... — digo eu sem me conseguir concentrar.

— Percebo que esteja confusa Elizabeth. No entanto, eu já sabia o que vinha aí, por isso fui eu que encomendei a nave que lhe mandaria para a Terra. Afinal, que alma burra é que ia mandar uma nave topo de gama para um excluído? Normalmente até saem pela escotilha de emergência do governo do planeta, praticamente obrigando-o a morrer no espaço. Devo dizer que quando regressou ao planeta, adorei ver a sua performance de pintar o carro do governador de rosa — ri ao de leve.

— Desculpe interromper... Posso perguntar porque estou aqui? — digo, meio amedrontada.

— Pode, sim. Gostava de ter uma palavra consigo Elizabeth. Afinal, é dever do Mestre de Tudo conhecer todos os governadores dos planetas do seu Universo — O Mestre lança-me um sorriso reconfortante, e abana a mão, desapertando as cordas à minha volta.

Levanto-me e faço-lhe uma vénia. Ele faz-me o mesmo, dando uma ideia completamente diferente daquela que eu estava habituada a ouvir sobre ele.

— Bem, venha Elizabeth. Quero mostrar-lhe A Sede de Tudo.

O Mestre carrega num interruptor da sala que eu pensava ser uma pequena arrecadação, porém umas janelas que eu julgava ser apenas uma parede começaram a abrir-se, eu vejo algo incrédulo: é como se fosse a sede do governo verameriano, exceto que umas 400 vezes maior. Esta sala está situada num ponto alto da sede, dando a entender que é aqui que O Mestre fica a ver as coisas acontecer.

— É aqui na Sede que temos as reuniões acerca dos acontecimentos do Universo, e coisas desse género. Geralmente sou eu que convoco essas reuniões, no entanto, se for importante, é possível convocar uma reunião privada comigo.

— Mestre, desculpe, eu tenho que perguntar. O que é que aconteceu ao Gronos? — pergunto, enquanto vamos a sair da sala e deparamo-nos com um elevador de vidro.

— Prefor Gronos está enjaulado, mas será abatido brevemente — engulo a seco.

— Posso perguntar porquê? — pergunto com um batimento cardíaco a níveis críticos.

— Elizabeth, se tiver alguma coisa para me perguntar, pergunte-me logo. Não precisa de permissão — aceno — O ex-governante Gronos será abatido por ser imortal.

Neste momento sinto que as minhas pernas deixaram de funcionar.

— Não precisa de se preocupar, Elizabeth. Eu sei que também é imortal. Entendo perfeitamente que o desejo que tenha tomado seja para sua própria proteção no que toca aos Veramerianos da época.

— É por isso que não está a fazer isso comigo? — O Mestre acena que sim.

— Por isso, e pelo facto de Gronos ter utilizado uma maneira ilegal de manter a sua imortalidade. Gronos iria a planetas quase desabitados, e aproveitava-se das últimas almas que deles restavam. De seguida, consumia o que restava desses planetas. Por outras palavras: todo o território.

— Isso é terrível — afirmo eu.

— Oh, sim. Muito terrível. Como pode calcular, fiquei bastante revoltado com isso. É como se uma toupeira fosse àquele terreno maravilhoso que é a sua casa e fizesse enormes buracos em todo ele.

— Sim, ficaria muito cha... espere. Como sabe?

— Como Mestre de Tudo, tenho o dever de manter o equilíbrio do universo. O que nunca me contaram, é que se eu morrer, o Universo morre comigo. Mas logo de seguida nasce um novo, com um novo Mestre. Por isso, enquanto eu cá estiver, faço tudo para manter o equilíbrio. E isso inclui vigiá-la 24 horas por dia — pisca-me o olho.

— Sabe Mestre, fiquei com uma impressão totalmente diferente de si. Tinha na ideia que o senhor seria algo pavoroso, com grandes bigodes e uma coroa permanentemente colada na sua cabeça...

O Mestre lança uma risada grave.

— É bom saber que não correspondo a esse perfil um tanto estranho. No entanto tenho que confessar-lhe que apenas sou assim consigo, por algum motivo.

— Como assim?

— Não sei. É como se a imortalidade e os nossos poderes nos ligassem — confessa.

— O senhor também tem poderes? — pergunto como uma criança animada.

— Tenho!

Neste momento, passa por nós um homem formalíssimo, com planos na sua mão. Ao passar pelo Mestre, faz-lhe uma vénia. Depois de se afastar de nós, O Mestre coloca a mão atrás das costas e ouve-se um enorme peido ruidoso vindo do homem. Eu e o Mestre desmanchamo-nos em risos.

— Bem Elizabeth, agora terei de levá-la de volta para o seu planeta. Para Elitrópolis. Devo confessar que esse nome fica no ouvido — O Mestre dá um soco leve no meu ombro.

— Obrigada, Mestre. Porém devo dizer-lhe que o meu planeta é a Terra.

— Mas olhe que governar um planeta é uma grande responsabilidade. Claro que poderá passar os seus tempos de ócio na Terra, mas terá que viver em Elitrópolis para poder estar mais perto do governo.

O Mestre repara que estou com uma cara desapontada.

— Porque é que não fazemos o seguinte: enquanto estiver a transportá-la de volta para Elitrópolis, instalo-lhe um dispositivo que a permita viajar de um planeta para o outro em menos de segundo?

Aceno que sim com um sorriso aberto.

— Foi uma honra poder conhecê-lo Mestre — confesso eu enquanto o venero.

— O prazer foi todo meu — retribui.

Durante isto, vejo o Mestre a levantar a mão, e nesse momento, feixes de luzes purpura irradiam-me a vista e eu volto a acordar no palco onde estava a discursar; exceto que esta vez está uma multidão à minha volta, e Lance está com a sua mão a brilhar colocada no meu cabelo.

— Olá Lance! — digo ao levantar-me, e dou-lhe um abraço.

— Elizabeth! Tu estás bem? — pergunta com os seus olhos azuis a penetrar nos meus.

— Nunca estive melhor, mas porquê?

— Tu caíste, foi como se as tuas pernas se tornassem em gelatina e tu perdesses os sentidos.

— Mas estou ótima. Sabes, conheci o Mestre de Tudo.

— Vamos sair daqui.

Lance agarra-me no braço e retira-me do circulo da multidão. Tira a nave do meu bolso e depois de estar do seu tamanho normal, entramos dentro dela.

— O que é que ele te fez? — pergunta alarmado.

— Nada, ele não...

— Uma vez, também conheci o Mestre. Foi na altura em que fui intitulado como o melhor intruso. Ele era tão arrogante... o que ele me disse quase me fez chorar.

— Bem, mas ele comigo foi super meigo, falamos sobre o que o Gronos fez, sobre como ele também tem poderes, ele até fez um homem se peidar quando se passou por nós, haha — digo eu, entusiasmadíssima.

— Bem, fico feliz por não te ter magoado. Agora vamos sair daqui, este planeta mete-me náuseas.

— Desculpa Lance, mas eu preciso de ficar, pelo menos por enquanto — ele olha para mim — eu sou a nova governante de Elitrópolis. Preciso de ficar aqui a organizar as coisas à minha maneira, e visitar a minha família. Se quiseres, requisito o transporte para te levar à Terra.

Ficámos um tempo a olhar um para o outro. Depois disso, abraço-o e beijo-o.

— Agradeço-te do fundo do meu coração por teres vindo comigo. Apesar da tua ajuda não ter sido precisa, sinto que a última vez que tive uma companhia tão boa foi em Cuba — sorrio

Despedimo-nos com um beijo, e vejo Lance a partir na Nave pelo céu azul que eu ajudei a criar.

A Empregada Extraterrestre Where stories live. Discover now