Causa mortis

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Andre' vinha chegando da faculdade,e ao pisar na entrada do prédio,deu com a irma,se agarrando, com uma colega de escola:

-As amigas se despedem com beijo,agora?

Encarou as duas,que riram

-Mas ainda beijo uns meninos,pra não cair na rotina!

Mey,a coleguinha debochou

"Que cínica!"

O rapaz abriu o elevador,fingindo ajeitar as apostilhas:

-Voces ficam so'nisto,ne'?

Espiou a mana,pelo rabo de olho

-Oh!claro! voce sabe que eu gosto de homem...

A sapeca pulou pro corredor

"O que ela quis dizer?"

Andre' abriu a porta do apartamento,com a cabeça a girar

"Foi um erro lhe dar tanta intimidade! agora pensa que os homens são inofensivos..."

Fora duro para Isabel,perder mãe e pai tao cedo,vir morar de favor,na casa do tio Valdo,ainda que na chique Barra da Tijuca.

"Talvez fosse bom lhe apresentar um bom rapaz,que lhe tirasse essas ideias!Mas em quem confiar?"

Um livro poderia ajudar,e foi a biblioteca procurar algo útil,mas no que puxou um volume,caiu uma pilha de revisitas pornográficas!

-Curioso:não lembro de guardar isto aqui!serão de titio?

-São minhas! Mey emprestou-me..

A irma riu,sentando no sofa'

-Mas so' tem mulher aqui!

-Ah,mano! voce e' muito careta...

A ninfeta gozou,abrindo uma garrafa

-Nem pense em tomar vodka!

Andre' catou o copo impaciente

-Na balada faço coisa pior..

-Mas não na minha frente!

Encarou a garota que se amedrontou

"Deus!ela esta' perdida!"

O irmão correu para o quarto,a chorar

-Parece uma maldição!

Tudo em sua vida dava errado,e sabia por que...

Que força demoníaca havia lhe feito destruir a inocençia daquela menina,e depois,horrorizado com sua ignominia,,lhe arremessara dum penhasco,em sua serra natal...

Não deixara testemunhas,mas um laudo do tio,lhe garantira um álibi,e se lhe acalmara os nervos,alimentara a desconfiança do velho.

Porem,ja' não se contentava com nenhum das versoes,que como réu ou juiz,a si se apresentava...

Sempre possuía a máxima culpa,a condenação irremissível,e sentia que ia explodir,se não confessasse a alguém...

-Mas quem pode entender a podridão humana?

Pudera gozar sua juventude,sob um cadáver,graças ao tio,o medico chamado para dar o laudo,que culpara o acaso pela tragedia,mas que lhe tornara prisoneiro do seu silençio grave,o que fazia com que o evitasse...

Mas talvez, sua vida progressa,como voluntario de um lar de órfas,justificasse tudo,lutando para salvar outros da perdição,que o tomava dia a dia...

Era cada vez com mais dor,que se aproximava do local fatídico,na tarde fria,em que o vento parecia expulsar a paz do mundo para sempre...

Enquanto a mãe,consultava uma mãe de santo,num barraco,sua atenção de menino,fora despertada por uma criança,cuja saia levantava,a cada pulo de amarelinha,num terreno baldio,ao sope' dum monte...

Sua fragilidade,a pobreza,a desolação que envolvia a paisagem,tudo lhe deu um desejo incontrolável de aniquilação,como um cruel deus mitológico....

Quando viu,a perseguia,perdida que ficara dos amigos,e de

repente,o vazio se desenhou a sua frente,ela perdeu o equilíbrio e seu vulto foi engolido pelo precipício...

Ja' não sabia se a violara,ou se apenas o medo fizera com que se atirasse no abismo,o real e o delírio ja' comungavam da mesma língua...

Sentindo que ia explodir,como um automato entrou no banheiro,ligou chuveiro no máximo,e pela milésima vez,tentou esquecer...

Mas quando deixou o box,deu com Isabel,a espera-lo nua na cama:

-Voce não acha que estou doente?

pois me cure!

lhe abraçou,mas Andre' repeliu-a

-Não! voce não e' mais criança,ja' cresceu...

-Voce também cresceu irmãozinho!

Não pode esconder a ereção,e fez o que ela queria,a ver no rosto da irma,a menina que matara...

A chave girou na porta,e o dr.Valdo,chegou do seu plantão,ja' alta madrugada,e atraído pela porta aberta,viu o espetáculo que chocaria,ate' olhos acostumados a podridão,como os seus...

Sem dar palavra,foi para o quarto,e naquela noite,por mais que tentasse,não conseguiu conciliar o sono:

-Por que não revelei a verdade?

ao menos para aquela pobre gente,punir o assassino da filha...

Não quisera contudo,ferir a irma,o ser a quem mais amava no mundo

-Eles no fundo,não são culpados,so' cumprem o destino que ignoram...

Que o mesmo se dera ha'anos,e o pecado gerara Isabel,que buscava no irmão,o mesmo que a mãe...

Se não contava o seu segredo,por que revelaria o deles?

Não justiçara a menina morta,como justiçaria a irma,morta pelo marido,sabedor da traição,que em seguida se suicidara?

Mais digno era um necrotério que o seu lar...

Por fim,não opõs mais resitençia ao organismo e sepultou suas angustias,sob o véu do sono...

No outro dia,os irmãos pareceram constrangidos com sua presença,mas escondeu seu desconforto,sob a barba branca,e saiu pretextando tratar um caso urgente.

-Comam voces,riam voces,gozem voces!

Deu seu grito de liberdade ,ja' na rua

-Como chama-la de filha,se a deixei orfã,duas vezes?

como culpar Andre',pelas taras que também possuo?

Também matei seu pai,e ninguém me puniu....

A lucidez ia pouco a pouco lhe abandonando,entrou no carro e foi ganhando a estrada,ate' o sope do monte ,onde tudo começara:

-Se deus existe,que ponha fim na impiedade!

Com alivio se arremessou,e deixou o caminho para que outros o seguissem,tal qual Timon de Atenas...

Fim

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⏰ Last updated: Nov 26, 2016 ⏰

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