Parceiras

28 1 0
                                    

"Agora estou deitada em meio essa poça e não sei o que acontecerá no instante seguinte. É verdade o que dizem sobre a experiência anterior a morte, vejo tudo que fiz, na maestria desse céu negro estrelado..." Lizzy pensa nessas frases antes de desmaiar.

Era uma manhã limpa, a cidade estava calma e era mais um dia corriqueiro na delegacia. O movimento não estava alto e dava até para ouvir os bocejos de alguns oficiais sonolentos.

"Parece que temos uns homicídios não resolvidos por aqui, Liz." Diz sua colega de trabalho, Laura, sentando enquanto jogava o arquivo na mesa de Lizzy. Ela o abre e vê algo que ainda não tinha visto em seu ramo. Três moças, aparentemente da mesma idade, sem os olhos, deitadas uma ao lado da outra, com os mesmos vestidos. Olhando em direção à uma janela.

Ambas ficam olhando, de uma forma não surpresa, porém, analítica para a foto, durante uns 5 minutos. "Vamos começar por essa daqui" - Lizzy faz uma pequena exclamação, após puxar um teclado para começar a digitar. E então, começa a puxar todo o registo da moça. Classe média, cursava veterinária e não possuía antecedentes criminais, última vez vista em um restaurante chinês da cidade. Então Lizzy vira a página e começa a pesquisar sobre a outra. Classe alta, não cursava nada e tinha uma detenção por dirigir embriagada, última vez vista em um bar popular da cidade. Logo veio a terceira, com informações distintas, assim como a das outras. Após isso Lizzy começa a olhar a aparência delas, traço a traço, cor do cabelo, unhas, pele. Até que por fim, Laura parou as três fotos juntas na altura dos olhos.

"São bem parecidos, Liz." Ela diz apontando para as imagens.

"Sim, encontramos nosso padrão." Lizzy responde com uma fala seca.

Lizzy olha para os olhos das moças antes deles serem removidos bruscamente e pensa: "Onde estão vocês agora?". No dia seguinte, o clima estava ameno e não possuía sol algum, a cidade lá fora pulsava como um coração desesperado. Depois de horas de levantamento de informações, Laura decide ir pegar um café e Lizzy olha pela janela, imaginando o porquê que as faces das moças estavam viradas para a janela. "Os olhos...os olhos" disse suspirando, mordendo de leve a tampa da caneta, "são a janela..." disse novamente olhando para o formigueiro humano que estava lá embaixo. "Os olhos são a janela da alma!" concluiu com uma exclamação, deslizando a cadeira para retornar a sua mesa. Então, ela fez um levantamento do local onde foram encontrados os corpos e decidiu que seria bom que ela e Laura fossem até ele para investigar. Então elas foram, de carro, até o local do crime. Uma casa abandonada e decaída com o tempo, provavelmente foi incendiada há muito tempo e ninguém a restaurou. "Dava pra fazer um filme bacana de terror aqui hein?!" disse Laura saindo do carro e dando um olhar empolgado para o lugar. Alguns galhos de árvore entravam pela casa e a grama estava bem alta. A aparência, junto com o clima, era de um lugar bucólico no meio do coração da cidade. Elas entram lentamente com medo de algo cair em cima delas, andam pelos cômodos e verificaram que não tinha nenhum detalhe importante. Pichações, garrafas quebradas e um cheiro às vezes desagradável, era isso que era a natureza do local, normal, para uma casa abandonada. Lizzy fica em pé no lugar onde os corpos foram deixados e joga as fotos no chão. Irritada por não conseguir nada em horas, começa a se perguntar se aquilo era realmente necessário.

"Liz, vamos embora daqui, já tá ficando de noite e esse lugar já encheu meu saco." Laura disse dando um chute em uma garrafa que se quebra na parede.

"Peraí, tem que ter alguma coisa aqui." retrucou, começando a se deitar no chão.

"Que que você tá fazendo? Vai ficar toda suja e fedendo a mijo!" Laura respondeu com indignação.

Lizzy se deita ao chão e começa a acreditar que Laura estava certa, ela vira a sua cabeça pela janela, na mesma posição que as moças foram deixadas, e não percebe absolutamente nada. Até que por fim, as luzes da cidade e dos letreiros se acendem e ela começa a rir desesperadamente. Laura olha com um olhar incrédulo e acha que sua parceira enlouqueceu de vez, afinal, já achava ela bem biruta pelas filosofias baratas e perspectivas pessimistas.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 23, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Os Olhos da LuxúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora