Sangue, Amor e Glória - A maldição de Slytherin

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    Tayrine estava atrasada pra aula de História da Magia de novo. Voltou correndo para o salão comunal, a luz formando desenhos no chão, vinda dos vitrais com visão para o fundo do lago. Havia esquecido o livro sobre os celtas e a professora Diana tinha curta paciência com omissões.
     Porém, ao chegar lá, ouviu vozes.
     Estava ali, transparente, quase invisível, o fantasma Barão Sangrento, discutindo com um outro fantasma a respeito de seu passado:
     — Ninguém deve achar este livro. — Essa havia sido a primeira vez que Tayrine ouvira a voz grave e rouca do Barão. — Este livro é a minha desgraça. Maldito seja aquele que escreveu o “Sangue, amor e glória”. Vamos, não quero companhia viva.
     O outro fantasma passou pelas paredes e Barão Sangrento foi atrás dele.
     Tayrine voltou correndo para a aula, mas aquela conversa havia ficado em sua mente.
     Passou a tarde inteira a procura do livro misterioso na biblioteca de Hogwarts, sem sucesso.
     Ela entrou no acervo secreto da Slytherin e ficou procurando pelo livro. Até encontrá-lo no começo da noite.
     Era um livro de aspecto velho, com capa de couro e o símbolo da Slytherin gravado.
     Em letras douradas se lia  “Sangue, Amor e Glória — A maldição de Slytherin”.
     Começou enfim sua leitura:
     “Eram tempos sombrios os em que os nobres bruxos se destoaram dos trouxas.
     Quatro bruxos fundaram a primeira escola de magia e bruxaria da Grã Bretanha e estavam enfim recebendo alunos.
     Salazar Slytherin só aceitava em sua casa alunos de sangue puro e de grande nome no mundo bruxo.
     Um dos primeiros sonserinos era um garoto com poderes incríveis e destinado para as artes das trevas.
     Pálido, perspicaz e amedrontador. Poderoso e de família poderosa. Em sua ascendência figuravam grandes nomes da nobreza mágica.
     Um garoto com imenso poder nas artes das trevas: Terence Bayler.
     Ele havia sido enviado para a casa Slytherin e era um dos alunos favoritos de Salazar. O garoto dominava artes místicas de magia e de caça, era bom no manejo da varinha para conjurar armas de tortura.
     Bayler foi um destaque nas artes proibidas. Despontou-se e até auxiliou o zelador de Hogwarts na prática de tortura em alunos dentro das masmorras, pendurando-os pelos tornozelos próximos aos trasgos.
     Terence era também um exímio duelista e tinha uma arrogância inimaginável, no entanto, até mesmo uma pessoa tão fria e poderosa quanto Terence tinha suas fraquezas. Carregava a maldição de Slytherin, uma maldição que todos os alunos e até mesmo Salazar carregava em si: intensidade.
     Todos os alunos da casa tinham sentimentos extremos. A casa tinha, em si, todo o amor que podia ter, tinha a arrogância que devia ter e, inclusive, também tinha o sentimento mais poderoso de todos. A magia mais poderosa de todos.
     O problema é que, Terence, focado apenas em magia negra e querendo seguir o exemplo de Salazar, esqueceu dos próprios sentimentos.
     O jovem estava em seu último ano escolar e queria fazer algo de maior destaque. Algo que a escola nunca fosse capaz de esquecer.
     Encontrou um aluno de outra casa pelos corredores, um garoto franzino e mais novo, e o chamou.
     O aluno, surpreso por um veterano pedir sua atenção, foi correndo, querendo demonstrar que era capaz.
     Um aluno do primeiro ano amigo de um garoto do sétimo? Isso seria maravilhoso! Eles foram para uma sala vazia próxima às masmorras, onde ninguém jamais os acharia.
     — Hey! Qual seu nome?
     — Cristian Grey. O que vamos fazer aqui?
     — Vamos aprender novos feitiços. Coisas divertidas. — Terence sacou a varinha antes mesmo que Cristian pudesse ter alguma reação.
     Cordas prenderam no corpo do garoto e ele foi rapidamente erguido no ar. Suas mãos presas e amarradas e seu corpo pendendo no ar.
     — Sabe, — Disse Terence — você terá uma grande experiência aqui, Grey. - e o sorriso maligno usual apareceu em sua face.
     Da varinha de Terence surgiu um chicote que começou a atacar o garoto. Lentamente ele saboreava a dor do rapaz.
     E então, alguns filetes de metal surgiram raspando a pele do rapaz. Terence era bom em transfiguração. Mesmo com os gritos incessantes ninguém os podia ouvir naquele lugar das masmorras.
     No entanto, um par de olhos brilhantes os observava de longe.
     Helena, filha de uma das criadoras de Hogwarts, observava tudo de longe. A garota carregava livros e parecia querer ficar sozinha, tendo sido interrompida de sua concentração pelo show de horrores, e nada lhe restou além de se proteger com feitiços silenciosos.
     Quando o garoto já estava finalmente morto, Terence escondeu o corpo dele.
     Helena, aflita com tudo aquilo, fugiu da escola para que nunca pudesse contar o que houve a ninguém.”
Constava então um longo parágrafo sobre a fuga da jovem herdeira de Corvinal e, para espanto da leitora, Terence descobriu que alguém os assistira, buscou saber mais e se apaixonou pela misteriosa testemunha. Ele a amava e a buscou por toda vida.
     “Um tempo depois notaram o sumiço de Cristian. Houve uma convocação com os monitores e os diretores das quatro casas.
Era impossível ver o que Salazar sentia, ele era o melhor legillimens que existia, seus sentimentos eram sempre ocultos.
     Rowena também mantinha a calma e, apesar de tudo, também estava aflita com o sumiço da filha.
A reunião seguiu discutindo a respeito do que fariam e como abafariam o caso e após o término dela, Terence entrou na sala de Salazar e conversou exclusivamente com ele.
     — Professor Slytherin, preciso de ajuda com algumas coisas… Eu tenho estado deplorável nesse último tempo devido o sumiço de Helena…
     — Amor nos enfraquece. Devo contar-lhe o porquê de ter criado a casa Slytherin. Sente-se — Com um leve aceno de varinha uma cadeira surgiu.— Bem, a minha casa foi criada exclusivamente para nós, puro-sangue, criadores dos verdadeiros bruxos. Conhece algum bruxo com imenso poder que não seja sangue-puro? Não. Essa casa foi criada para ensinar os mais poderosos e honrados. A minha casa foi criada para fortes, destemidos, poderosos. E para os que tem a minha ambição de poder. Terence, você deve destruir o seu amor, destruir esses sentimentos, eles enfraquecem a nossa magia. Veja, não é possível lançar uma magia poderosa contra um oponente sentindo isso. Amor atrapalha a magia das trevas. Destrua isso de você, Terence, sei que fará o seu melhor. Sei que esquecerá a donzela.
     Terence saiu da sala desolado. Incapacitado de fazer algo.
     Ao virar a escada, no entanto, teve uma surpresa. Ravenclaw esperava por ele. Ela estava abatida apesar da austeridade.
     — Terence… Precisamos conversar.
     Terence aquiesceu.
     — Você já está para completar seu último ano, não é Terence?
     — Sim, senhora.
     — O que pretende fazer?
     — Senhora… Eu estou indeciso quanto a muita coisa.
     — Preciso de um favor. Um favor que levará meses, talvez anos, para ser cumprido.
     — Diga, senhora.
     — Preciso que traga a minha filha de volta. Ela precisa voltar ao caminho da sabedoria. Preciso que cumpra essa tarefa, pagarei com a mão de minha filha.
     Terence olhou para o nada. Aflito e aturdido, incapacitado de fazer alguma citação.
      Ele assentiu com a missão que lhe foi dada e rodou o mundo em busca de Helena.”
     Rowena então relatou que estivera com Salazar, e que foi indicação do astuto dos brejais que ela o buscasse.
     Vários capítulos vieram posteriormente sobre torturas e mortes que Terence provocou no meio de sua jornada procurando Helena. Era assustador.
      Porém, folheando até o final do livro notou algo que merecia a sua atenção:
     “Por fim, Terence encontrou Helena escondida na Albânia.
     Ao vê-lo, Helena correu como se não houvesse amanhã.
     Helena escorregou no gelo e olhou com pavor para Terence. Galhos baixos de árvores no entorno rasgavam seu vestido, e de sua cabeça caiu uma brilhante tiara, que terminou presa a um tronco.
     — Me deixe! — Helena gritou.
     — Eu prometi pra sua mãe… Venha!
     — Eu vi o que você fez! Eu vi tudo o que fez com aquele garoto. Eu não vou! Deixe-me sozinha! Ela sabe o que você fez! Me deixe longe de vocês! Vocês são monstros!
     Terence apontou a varinha para Helena. Com ódio e raiva.
     Ao tentar detê-la, usou de seu último impulso:
     — EU TE AMO! Avada Kedavra! — Gritou sem pensar, no entanto nada aconteceu. O amor que ele sentia por ela o impediu de efetivar a maldição da morte. Caiu de joelhos, chorando, e tirou do casaco uma adaga.
     Olhou feroz para Helena. Ele já estava louco por amor.
     Se ela não seria dele, não seria de mais ninguém. Se não voltasse com ele depois de tudo o que ele fez, não voltaria com ninguém.
     Ele a esfaqueou até a morte.
     Ao ver o que tinha feito, perdeu o sentido de viver. Enrolado em correntes, proferiu cortes no próprio corpo e se jogou no lago mais próximo.”
     Tayrine respirou fundo. Agora ela entendia a maldição de Slytherin. Os sentimentos fortes que levavam ao poder e à loucura.
     E essa é a triste história de Slytherin: amor e poder, loucura e insanidade, tudo dentre o ínfimo momento de um olhar. Tudo com muita intensidade.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 16, 2016 ⏰

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