Capítulo 9

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O soldado Jack Mars sempre foi uma pessoa tranquila. Ele nunca se envolveu nas brigas que os oficiais incitavam entre os de menor patente, tratava muito bem as garotas com quem saía e jamais ousou falar um palavrão na frente da mãe. Era o melhor soldado da turma e tinha orgulho disso, embora não deixasse à mostra. O seu melhor amigo no exército o chamava de sabichão.

Jack Mars não se importava. Ele era tranquilo. Então, quando o Fort Irwin virou refúgio de mercenários que tinham uma rixa com os traficantes de Tijuana, sua serenidade foi sumindo aos poucos. Daí, vieram os infectados. O Fort perdeu metade dos soldados e os refugiados foram bem-vindos no exército. Alguns deles tinham treinamento militar, o que certamente ajudou na decisão do general.

Ele não era mais o mesmo. O colapso da sociedade americana não lhe fez bem. Jack Mars perdeu a família inteira e isso o atormentou. Dizem que é preciso um dia ruim para tornar-se uma pessoa má.

Jack Mars teve sete dias ruins seguidos.

E isso o deixou louco.

Tinha raiva dos mexicanos atravessando a fronteira. Apesar de tudo, ainda era um membro do exército americano e iria defender seu país de todos os tipos de ameaça. Em poucas semanas, se aperfeiçoou em torturar os aprisionados que vinham da base perto do posto de imigração. Era bom em tirar informações deles e logo descobriram o paradeiro dos traficantes.

Estava tudo pronto para atacá-los quando aqueles 200 mexicanos malucos tentaram passar pelos mercenários. Jack Mars era o motorista principal do Fort. Os homens confiavam nele e ele confiava no trabalho que tinham organizado nos últimos dias. Com muito custo, o exército dominou os mexicanos e os enviou em camburões para Fort Irwin. Ele ainda iria "entrevistar" os homens que prendera.

As duas garotas que haviam aprisionado temporariamente atrapalharam o seu plano. A fuga insana causou danos irreparáveis no esquadrão. O exército não conseguiu enviar ajuda a tempo e os cinco homens que morreram na hora viraram infectados que morderam mais dez. Apenas três conseguiram escapar.

Agora, Jack Mars dirigia seu caminhão pela estrada já limpa em direção à San Diego. Um colega soldado estava ao seu lado, mas eles não conversavam. Jack Mars tinha um objetivo: limpar a base e ir à procura das garotas fugitivas. As duas tinham massacrado os seus colegas e isso era motivo bastante para alimentar sua vingança.

Se tivesse a oportunidade (e, sabendo do que era capaz, ele teria), mataria as duas.

Depois de uma noite inteira dirigindo, Jack Mars e seu companheiro viram à distância o forte dentro da Reserva de Tijuana. No entanto, o soldado notou algo estranho. Os sobreviventes disseram que deixaram tudo aberto, mas, da visão que tinha, o forte estava com os portões fechados e as luzes desligadas.

Comentou isso com o colega. O soldado sacudiu os ombros e disse que era sua imaginação pregando peças. Não havia civis vivos ou soltos que soubessem a localização da base... exceto pelas duas fugitivas, mas não acreditava que estariam por trás disso. Eram só duas garotas, afinal de contas.

De qualquer forma, não desacelerou até estar em frente ao portão da base. A luz do sol começava a brilhar no horizonte e Jack Mars queria acabar com isso de uma vez por todas. Além de limpar o lugar, precisavam recuperar documentos importantes do exército. Era um trabalho minucioso que o general conferira a seu colega.

Jack Mars pediu para que o companheiro abrisse os portões pesados. Não queria sair do caminhão. Podia ouvir os infectados em algum lugar perto dali. Se alguém fosse morrer primeiro, que não fosse ele. Não tinha nada contra o colega, mas era um novo mundo. Precisava sobreviver.

O portão se moveu pouco com apenas o esforço do colega. Viu que deveria sair do caminhão e ajudá-lo se quisesse terminar o serviço antes do meio-dia. Sua paciência não era muito alta nos últimos dias. Não era o mesmo garoto bobo que entrara no exército por sentir falta do pai e querer se aproximar dele. Não era isso o que a união dos mercenários com os militares significava.

Antes que pudesse abrir a porta do caminhão, porém, alguém a abriu para ele. Jack Mars poderia não ser mais o homem calmo que um dia fora, mas sabia como não se mexer quando alguém aponta uma pistola para sua cabeça. Mordeu o lábio ao tirar as mãos do volante. Ao olhar para frente, seu companheiro sumira para dentro do forte.

— Olá, bonitão — cumprimentou alguém com um sotaque que não era nem mexicano ou americano. Definitivamente era uma mulher. — Você pode sair do caminhão? Queremos discutir algumas coisas.

we were right on the borderHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin