— Você acabou de sofrer um acidente, querida. Você não está bem. Além do mais, eu vou deixar um cara de confiança aqui com você, para me dizer caso você precise de alguma coisa.

Ele quer que eu fique aqui com um cara estranho? Não mesmo.

— E por que você mesmo não fica?

— Você sabe que eu tenho muito trabalho para ser feito. — ele se explica.

— Nunca entendi que trabalho são esses... — murmuro.

Antes que ele pudesse me dizer algo, o seu celular toca e ele acena pra mim, pedindo para que eu esperasse um pouco. Eu meio que agradeço pelo celular dele ter tocado, interrompendo o assunto. Afinal, ele ia me jogar o papo de sempre, dizendo que o trabalho dele é algo necessário e aleatório, dependendo da situação em que ele se encontra. Nunca fiz a menor idéia do que isso significa, mas não é agora nessa cama de hospital que ele vai me dar satisfação. E nem sei se ele deve.

— Ok... Sim... Guarde no porta malas.. Sim, estou a caminho. — ele diz para a pessoa da outra linha e desliga. — Querida...

— Sim, você precisa ir. Vá. — interrompi.

Papai parece querer dizer algo, mas ele apenas balança a cabeça negativamente e me dá as costas. Sua expressão já não era a mesma desde que ele entrou aqui, agora ele parece nervoso com alguma coisa.
Antes que ele girasse a maçaneta para sair, alguém faz isso por ele e entra no quarto desajeitadamente.
Isaac.

— D-desculpe, eu atrapalhei alguma coisa? — Isaac não estava como dá última vez que nos vimos; agora ele está mil vezes pior. Seus olhos parecem fundos demais, as seus lábios tão secos que eu senti vontade de lhe dar um copo de água. As suas vestes amassadas, combinando com o seu cabelo desgrenhado.

E mesmo assim, ele consegue prender a minha atenção.

— Não, ele já estava de saída. — falo rapidamente. — Pai, esse é Isaac, eu pedi para ele ficar comigo essa noite. Não precisa mais que seus amigos fiquem aqui me vigiando.

Isaac parece confuso, mas em questão de segundos ele entende e balança a cabeça positivamente para o meu pai, mas sem olhar nos olhos dele.

— Ah, tudo bem... — meu pai examina ele com os olhos, mas depois dá os ombros e sai.

— Por que você mentiu? — Isaac espia pela porta até que meu pai pegue distância o suficiente para dizer algo, ele fecha a porta e se aproxima de mim.

— Ele queria enfiar um de seus amigos aqui para me vigiar.

— Então você prefere que eu fique aqui no lugar dele?

— Eu não disse isso.

Isaac não é exatamente a melhor companhia para mim nesse momento, mas é melhor que um estranho.

— O que foi que aconteceu aqui? — ele pergunta enquanto pisa desajeitado no suco, e eu posso escutar ele pisar também no copo descartável fazendo um barulho irritante.

— O que você acha que aconteceu?

— Sei lá, você jogou um copo na cabeça de alguma enfermeira? — Isaac abre um sorriso tímido e leva as suas mãos até a nuca.

— Você é tão esperto. — não consigo conter a vontade de retribuir o sorriso. — Isaac?

— Sim?

— Como eu vim parar aqui? Eu realmente não lembro de quase nada depois do... — paro de falar quando noto que a sua expressão tinha mudado completamente, agora Isaac parece tenso.

The Sociopath (Reescrevendo)Where stories live. Discover now