Cecília - esposa - Parte 2

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Encarei aquele homem alto e elegante, bonito sim, apesar da idade. Ele não esperava que eu fosse ao seu encontro, muito menos que eu fosse até ele demonstrando um respeito que ele nem merecia, visto que tinha feito algo para me atingir sem nem mesmo me conhecer. O motivo, porém, me soou tão claro, afinal, ele mesmo assinou: "Com amor". O amor, como vou comprovar diversas vezes nos meus depoimentos, nos faz tomar decisões bastante idiotas.

- Queria agradecer o presente, as fotos são lindas, apesar de eu ter me chocado um pouco com a temática. – sorri – Posso entrar?

Ele pareceu acordar de um transe, abriu passagem:

- Por favor, entre, Cecília.

O espaço daquele escritório era fantástico. Pelo que tinha visto, todo o estúdio era um primor da arquitetura, da limpeza e da organização. O cheiro de lá era ótimo.

- Gregory sabe que está aqui? – ele perguntou.

- Gregory?

- Ah sim, desculpe, Francesco. Esqueço que a família o chama assim. Como mais? Quino...

- É, sim, é o nome dele, não é? Não sabia desse outro apelido. Na verdade não sei de bastante coisa e aquela carta me pareceu uma tentativa de me alertar sobre algo. – nós dois sentamos frente a frente em torno de sua mesa de vidro preto – Sabe, desde que eu conheci Francesco eu vivo com essa impressão, de que sempre alguém quer me alertar dos perigos de estar com ele, mas nunca é muito específico. Não sei se estão me destratando ou sendo cautelosos comigo. Ele é encrenca, ele não presta... Basta eu ignorar isso e eu me vejo dentro de um conto de fadas, com o homem rico, lindo e atencioso, que sempre goza depois de mim. Mas eu não acredito em contos de fadas, Sr. Tozzi. Então, tem algo que você queira me contar além do que eu já vi pelas suas lindas fotos do meu noivo?

Ele ficou sem reação por um tempo, me olhando longamente, como se duvidasse da minha frieza. A verdade é que eu tremia por dentro, morrendo de medo de ouvir alguma coisa e me ver obrigada a fugir dessa minha encantadora nova realidade.

- Ele é um viciado, Cecília. – disse, finalmente – Em sexo, em dinheiro. Se quiser viver com ele, vai ter que conviver com seus vícios e com as mentiras que esses vícios vão forçá-lo a dizer, sempre, para aqueles que ama. E eu acredito que ele te ame, porque, por Deus, você é amável. Eu, um velho amargo, espumando de inveja, estou apaixonado por você! – eu sorri – Mas ele não é apenas Francesco, Cecília, e, por mais que Francesco te ame de verdade, ele também é Gregory.

- E é o Gregory que você ama. – fui direta.

- Sim. – a garganta de Tozzi pareceu meio embargada na resposta.

- Vocês eram ou... são... amantes?

Ele deu um sorrisinho apertado, vi que pensou na resposta, mas baixou os olhos e balançou a cabeça quase em um tique nervoso:

- Não. Ele não quis. Por isso sou uma bicha ressentida que manda cartas-bomba para a noiva dele. – riu, mas aquele riso me soou muito triste.

- Eu fiquei com muita raiva de você. – falei, com os olhos bem abertos, em tom de confidência. Ele estava sendo sincero e eu achei que devesse ser também.

- Era a intenção.

Rimos. Gostei dele. Gostei mesmo. Quando você descobre que seu noivo é um mentiroso, um pouco de sinceridade é um grande alívio. Nós dois estávamos magoados com a mesma pessoa, que era duas pessoas. Muito confuso.

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