Parte 2 de 3: DOIS ANOS DEPOIS

54 4 2
                                    



A porta da cela de Magno abre-se. É Raissa. Seu rosto não esconde os fatos terríveis pelo qual passou nesse tempo e possui uma indescritível sensação de quem está tendo que lidar com seus fantasmas do passado.

Magno por sua vez, após mais de 750 dias preso, está com uma barba de três dedos de cumprimento, magro e fraco. Ele dá um leve sorriso com o canto dos lábios, feliz por vê-la.

− Venha. − É o único comando dela até chegarem ao laboratório onde fora preso. Ele não responde, simplesmente obedece. No caminho percebe que as ruas estão vazias, abandonadas e bagunçadas, como se todos da cidade antes de fugir tivessem brigado muito. Magno reconhece a fachada do seu antigo prédio de pesquisa. O veículo para em frente. O motorista avisa:

− Raissa. Você tem certeza?

− Sim eu tenho, mas agradeço a preocupação.

O motorista acena com a cabeça.

− Nos vemos em breve.

Raissa e Magno saem do carro e entram no prédio e caminham para a sala de manutenção. Ali ela aciona os geradores de emergência.

−Nós temos que subir. De escada vai levar muito tempo− ela explica.

− O que aconteceu com a energia elétrica?

Ela sorri com deboche.

−A cidade está sem energia já tem uns 3 meses, vamos.

Eles caminham de volta para a recepção. Entram no elevador e finalmente chegam ao laboratório. Atravessam a porta de aço que se encontra escancarada.

− Porque estamos aqui? Eu já disse milhões de vezes que não há como parar o conhecimento.

− Nós sabemos. Muito aconteceu nesse período e de forma muito rápida. Meus superiores acham perda de tempo, mas eu acredito que a justiça precisa ser feita.

− Ah. Então você compreendeu o meu intento? − Responde o doutor arrogantemente e satisfeito.

− Deixa eu lhe contar o que aconteceu nestes últimos dois anos. Olhe pela janela.

Magno observa a cidade. Existem diversas nuvens de fumaça prata indicando conflito, pneus em chamas provavelmente. Nas mais próximas, ele pode observar o cenário de uma cidade sendo abandonada, mas não sem antes ter havido luta.

− Depois que você lançou a nuvem, no primeiro mês, houve queda nos problemas sociais. As pessoas estavam aprendendo a se virar sozinhas. Foi a partir do mês seguinte que as coisas ficaram realmente tensas. A sua nuvem atingira a todos na cidade, sem exceção. Inclusive a mim. Ela se espalhara muito rapidamente. No meio do mês já tinha chegado a Europa, América do Norte, oriente. No final do mês, a escala já era global. Você explicara que a nuvem tinha acesso à internet através de WI-FI, não é isso?

− Correto.

− Ela foi além disso. Acessava e-mails, redes sociais dos afetos e desafetos de cada um. Enfim, inadvertidamente todos começaram a espionar a todos. Ou por curiosidade ou porque queria saber algum podre para se vingar, ou mesmo para descobrir se a pessoa amada estava traindo, ou se tinha como roubar algum segredo para vender. Quando encontravam alguma dificuldade, eles mesmos aprendiam rapidamente a quebrar códigos de segurança e assim alcançar a informação. Pior, essa informação sigilosa era distribuída automaticamente para toda a nuvem. A informação não ficava apenas com o invasor.

− Sim isso era previsto, , a nuvem era programada para dividir a nova solução para todos.

− É. − ela concorda ao perceber que o doutor realmente, apesar de ter um senso de moral meio infantil e maniqueísta, queria mesmo ajudar todo mundo - Países como a China, que controlam toda a informação da internet em seu território, foram os primeiros a cair.

A NuvemNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ