Instinto paternal

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– Não se sinta, é só uma brincadeira, todos temos autonomia por aqui graças ao senhor Justiceiro que é meu marido. – Ele debochou e me abraçou, me fazendo rir.

– Palhaço. – Eu bati em seu braço e nós finalmente nos levantamos para enfrentar a rotina.

O trabalho se tornava cada vez mais intenso, na medida em que as notícias iam se propagando e o acesso à informação de que era possível que os ômegas conquistassem coisas simples, como o divórcio, se tornava maior.

Eu, Perrie e Liam nunca daríamos conta de tudo sozinhos, por isso aos poucos nosso espaço dentro do luxuoso prédio se tornava maior, já que contratávamos cada vez mais estagiários, que em breve ocupariam cadeiras fixas ali, como os sócios haviam prometido a nós três há pouco tempo.

Era ainda mais estimulante ver os ômegas agitados por ocuparem seus cargos. Luke era meu estagiário principal e me acompanhava para todos os lugares. Ele sempre me dizia que eu havia virado uma espécie de lenda dentro da faculdade e que ser meu braço direito era uma honra sem tamanho.

Eu gostava do garoto e apreciava sua companhia, mesmo que minhas bochechas corassem sempre que ele dizia coisas como essas. Luke era muito esforçado e por isso eu o havia convidado para ficar a meu lado.

– Como anda o namoro? – Eu perguntei quando fazíamos o caminho de volta ao escritório após uma audiência bem sucedida.

– Na mesma ainda. – Ele suspirou triste.

– E isso é ruim? – Eu ergui uma sobrancelha em sua direção.

– Eu só acho que ele vai cansar de esperar, sabe? Ashton é um alfa forte, bonito, vem de uma boa família, que também é muito próxima à minha, é um ótimo aluno e será um excelente engenheiro, é claro que já tem muitos ômegas de olho nele. Por mais que ele diga que é bobagem e que mesmo que alguém olhasse para ele, ele negaria, eu ainda fico com um pé atrás. – Ele suspirou. – Eu não quero atrasar a vida dele...

– E por que você acha que atrasa a vida dele?

– Nós nem sempre fomos namorados. Ele é mais velho e já está terminando a faculdade. Teve seu primeiro rut e logo depois arrumou uma namorada, uma ômega. Foi quando eu tive meu primeiro heat, uns anos depois, aí ele passou a me olhar com interesse e não como um amigo de infância. E essa garota fica rondando ele ainda, ela não aceitou muito bem ser trocada. Se eu der muito espaço, ela pode tomar ele de mim. – Ele fez um bico fofo e eu sorri.

– Você deveria falar com ele sobre isso, não é legal ficar em um relacionamento que te faz inseguro.

– Eu falo e ele sempre me faz sentir a pessoa mais incrível do mundo, ele nunca dá chance a ela, mas sei lá, eu me sinto pressionado, sabe? As pessoas ainda fazem parecer que ter uma vida é errado e por mais que você não concorde, falam tanto isso para você que aquilo acaba ficando grudado no seu cérebro. Minha tia chegou a desejar que eu ficasse grávido para que parasse com "essas coisas". – Ele fez as aspas com os dedos.

– Como se uma gravidez fosse uma prisão, que te condena à vida doméstica para sempre.

– Pode não condenar, mas tornaria quase impossível.

– Não diga besteiras, Luke. – Eu o repreendi como um pai que corrige um filho. – Minha mãe trabalha, Niall, o marido de Liam, trabalha e ambos têm filhos. O betas que conseguem ter filhos trabalham, Perrie, por exemplo. Eu poderia estar grávido a essa altura e estaria trabalhando.

– Eu nunca havia pensado nisso. – Ele disse após um tempo pensativo. – Eu não consigo me imaginar grávido, para ser sincero, acho que por isso nunca penso nessas coisas.

After the dream - l.s (a/b/o)Where stories live. Discover now