Conhecendo meu novo lar

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– Minha gracinha, você cresceu tanto. Não acredito que você ficou mais alta que a sua velha avó! – ri.
– Oh, a senhora acha mesmo? – rio de volta.
Minha avó se chama Abby, e é uma senhora com um pouco mais de 60 anos que tem muito mais disposição do que qualquer garota de minha idade. Seu hobby é cozinhar, e ela faz cada gostosura que seus aromas maravilhosos alcançam praticamente todo o vilarejo. Não existe uma pessoa no mundo que não se apaixonaria por seu jeito meigo de ser.
– Venha meu amor, entre e aproveite enquanto a torta está quentinha e coma um pedaço. Ah! Alec, muito obrigada por buscá-la. Você aceita um pedaço de torta, meu garoto? – pergunta gentil.
– Agradeço senhora Abby, mas está quase na hora do jantar e preciso voltar. A senhora sabe que sempre que precisar pode me chamar, e, aliás, a Maya não se lembra de mim. A senhora pode, por favor, contar a ela as travessuras que ela aprontava comigo quando éramos pequenos? – diz dando risada.
Acho que ele ficou chateado por que não me lembrei dele. Mas não posso fazer nada com relação a isso. Sou dois anos mais nova que ele, e era muito pequena na época.
– Maya, não acredito que não se lembra! Vocês eram inseparáveis! Pode deixar Alec, irei dar um jeito de fazê-la lembrar. – diz minha avó.
– Tudo bem. Até mais Maya, até logo senhora Abby. – se despede Alec.
– Tchau meu filho, tenha uma boa noite. Obrigada mais uma vez.
Pego minhas malas e coloco-as no que vai ser meu novo quarto por algum tempo. A casa de minha avó continua praticamente igual como eu lembrava. Exceto que agora ela possui uma espingarda gigante que eu nunca havia reparado atrás da porta. 
O cansaço começa a bater. Ainda mais depois de comer a maravilhosa torta de banana que foi preparada para me recepcionar.
Ligo para minha mãe para avisar que cheguei bem e dizer que vovó mandou lembranças.
Já é tarde, e eu dou boa noite para minha avó. Preciso ir me deitar ou irei acordar com olheiras enormes amanhã.
Tomo meus comprimidos que tem um gosto horroroso, me deito e pego no sono com facilidade.

Está tudo nebuloso e eu não sei mais se é sonho ou se é realidade. O mesmo garoto aparece em seu cavalo. Dessa vez ele está com um olhar preocupado. Não sei por que, não estou gostando da expressão que ele exibe. Quero de alguma forma confortá-lo e dizer que tudo ficará bem. Mas por quê? Por que sinto essa necessidade?

– Hey! Você consegue me ouvir? Está quase chegando o dia. Não sei quanto tempo mais irei conseguir impedir que aconteça. Você precisa fazer alguma coisa.
– O que posso fazer? Diga-me, eu quero ajudá-lo. – pergunto ofegante.
– Maya, você é a única pessoa que...

Acordo sobressaltada de um sonho tão intenso, e com meu o coração acelerado. Parece que vai sair pela boca. O que aconteceu? Não consigo me lembrar direito. Aquela névoa ainda permanece no mesmo lugar da minha cabeça.
Levanto da minha cama que parece mais um emaranhado de lençóis. Respiro fundo. Hoje começa minha nova vida nessa cidadezinha.
– Querida, você já acordou? O café está na mesa. Fiz pães doces que estão de dar água na boca! –diz vovó.
– Já estou descendo vovó, só vou terminar de colocar meus livros na prateleira.
Devia ter trazido mais livros. Só esses não vão dar pra ocupar todo o tempo que eu vou ter livre.
Termino que coloca-los nas prateleiras do meu quarto e desço para a cozinha. Vovó está terminando de preparar o chocolate quente, e eu me sento à mesa para tomar meu café da manhã.
– Querida as aulas só vão começar na semana que vem. Por que você não vai dar uma voltar na cidade? Chame o Alec, ele conhece praticamente tudo aqui. E vai adorar levar você.
– Não sei se é uma boa ideia, eu queria ficar no meu quarto enquanto isso. Prefiro um pouco de solidão vovó. A senhora se importa? – pergunto.
– Bom, você quem decide. Mas um pouco de ar fresco não faria mal. Se mudar de ideia me fale tá bom? – pede gentil.
Aceno com a cabeça.
Depois de tomar meu café decido colocar minhas roupas no guarda-roupas e desço para assistir um pouco de tv na sala de estar. Começo a refletir sobre os meus estranhos sonhos e o que eles significam.
Não costumo acreditar em superstição, mas isso pode ser algum tipo de mensagem para a vida real. Mais tarde irei pesquisar na internet.
Toc toc. Ouço uma batida na porta.
– Querida, você pode ver quem está na porta? – grita.
– Claro vóvó, pode deixar.
Abro a porta e dou de cara com Alec que está de costas andando em direção ao portão.
– Hey Alec. Você tocou a campainha?
– Ah, oi Maya! Eu só estava passando por aqui e queria saber se você quer dar uma volta. Tipo, só como amigos, sabe? Você quer? – pergunta sem graça.
Ele olha para o chão enquanto eu ainda estou pensando. Eu mal o conheço, não sei se seria uma boa ideia afinal de contas. Bom, pelo menos eu iria me distrair e conhecer a vila.
– Eu aceito sim. Só vou pegar o meu casaco, me espera na sala de estar?
– Claro, não tenha pressa. – sorri
Subo as escadas correndo e busco meu casaco em meio às roupas recém-guardadas. Aproveito para colocar umas botas, pois o terreno é de terra e não quero sujar minhas sapatilhas que mamãe me deu de aniversário antecipado.
Quando desço encontro vovó conversando com Alec sobre algum ataque animal que ocorreu na noite passada. Parece que foi grave.
– Sim, claro. Eles devem fazer uma ronda em meio à floresta, nos arredores da cidade. Vai que esse animal ainda está por aqui. Não queremos mais problemas.
Ele olha para vovó com um olhar esquisito, como se soubesse de alguma coisa e não queria falar naquele momento.
Seja lá o que for me deu medo. Talvez aqui não seja um lugar tão tranquilo como esperava que fosse.
– Vamos lá? Estou ansiosa para conhecer todo esse lugar. – na verdade não muito. Mas vou dar esse gostinho para vovó. Ela precisa achar que estou animada.
– Claro você vai adorar, está pronta? – pergunta.
Minha avó prepara um sanduíche express de salame com queijo, e levamos para nossa expedição a cidade.
A cidade é na maior parte terra e pequenas rochas que se formam nos arredores. Algumas casas são muito antigas, e os comércios quase não possuem clientes. No horizonte só o que se pode ver é verde e mais verde. A floresta parece engolir o vilarejo, o que me assusta. Como é possível se viver tão isolados de tudo. Não tem Shoppings, ou restaurantes como na minha cidade. Mas tem muitas praças e pequenos parques com balanço e gangorra para as crianças se divertirem. Por falar em crianças, algumas delas passam correndo entre nós, e derrubam as frutas das quitandas.
Andamos mais pelo centro da cidade e descubro uma livraria, finalmente. Ufa! Pelo menos tem algo de bom por aqui. Não é tão grande como eu esperava. Mas também não é pequena. Uma mulher sai pela porta carregando um exemplar que eu conheço. 
– Vamos parar um pouco aqui? – pergunto acenando para a livraria.
Entramos e me deparo um amontoado de poeira. Parece que não passam um aspirador de pó aqui há séculos!
Dou uma olhada rápida pelo ambiente, enquanto Alec parece se divertir com a leitura de um HQ, pois não para de dar risada.
Na recepção, noto uma senhora de meia idade com óculos fundo de garrafa, observando atentamente a página de uma revista de fofoca. Parece que as pessoas daqui estão desatualizadas, pois a revista é do ano passado.
Encontro alguns livros de Romance, alguns de Ficção Científica, mas o que me chama a atenção é um livro gigantesco com o título "A História de WonderVille". Como uma cidadezinha dessas pode ter uma história tão grande?
Sua capa é de couro e estava bem escondido entre os livros no fundo na livraria. Pego ele com alguma dificuldade, parece até que alguém estava querendo escondê-lo de alguma forma, o que me parece hilário. Assim que abro o livro no meio, há uma figura toda encapuzada e reluzente. Parece que tiraram um personagem de O Senhor dos Anéis e colocaram ali.
Espectrais. Parece-me familiar, mas não lembro onde ouvi essa palavra. Quem sabe na internet. Decido leva-lo comigo, não tenho muito interesse em livros desse tipo, mas não custa nada saber um pouco mais sobre essa cidade que quase nunca tem alguma emoção.
Levo o livro para a recepcionista fazer o meu cadastro e registrar o livro.
– Prontinho. Você precisa devolvê-lo em cinco dias. – diz a recepcionista com um crachá amarelado escrito Sônia.
– Ok, vamos ver o quanto desse livro consigo ler em cinco dias. – dou risada.
Ela me olha com um olhar sério por um segundo e volta sua atenção para a revista.
Chamo Alec que agora já estava lendo um HQ do Homem-Aranha e se divertia. Ele pareceu entristecido, pois não terminou a história toda.
– Deixe de se criança! Nós voltaremos logo e você poderá terminar sua historinha. – ironizo.
– Cinco dias pra eu saber quem vai vencer a luta – faz beicinho.
Reviro os olhos enquanto voltamos para casa da vovó.

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⏰ Last updated: Oct 03, 2016 ⏰

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