Por estar imerso demais em meus pensamentos, esqueci completamente de prestar atenção na estrada e o carro seguiu em direção a um barranco. Afundei o pé no freio enquanto girava o volante. Por puro milagre consegui fazer o carro parar antes de um acidente. Desliguei o motor. Por sorte aquela era uma estrada pouco utilizada, caso contrário eu poderia ter causado um sério acidente envolvendo gente inocente. Cruzei meus trêmulos braços sobre o volante e pousei a cabeça sobre eles, respirando fundo várias vezes para controlar meus nervos. Algum tempo depois, quando estava um pouco mais calmo, levantei a cabeça e observei o lugar aonde havia parado. Estava mais perto da cidade agora.

Percorri uma grande distância em um modo que não poderia ser chamado de outra coisa senão "Piloto Automático".

Esfreguei as mãos pelo rosto e religuei o carro. Não queria sair dali, mas também não poderia ficar. Parece que todos os caminhos da minha vida – os físicos e os metafóricos – me levavam para o mesmo dilema: a vontade de permanecer mesmo sabendo da impossibilidade disso.

Dirigi sem rumo. Não queria ir para casa para me trancar novamente no quarto. Contudo, desejava a solidão para que – mais uma vez – meu cérebro pudesse absorver todos os impactos que levara. As paisagens passam por meus olhos sem que eu conseguisse distinguir uma da outra. Era tudo tão desconfortável e tão pouco convidativo. Depois de um tempo, que pareceu longo demais, foi que eu finalmente pareci chegar. Parei o carro e desci. Talvez meu inconsciente tivesse me levado até aquele lugar. Olhei ao redor. Havia se passado muito tempo desde a última vez em que estive ali. Mas tudo parecia exatamente igual. Os mesmos brinquedos infantis, as mesmas caixas de areia. A mesma grama aonde eu caí e um pequenino garoto de cabelos cacheados e rebeldes me deu uma flor.

Senti uma lágrima solitária escapar. Passei a mão sobre ela e caminhei até o ponto aonde, anos atrás, eu havia me apaixonado por Harry Styles. Tinha uma certeza irracional de que fora exatamente ali – aonde eu agora pisava – que eu havia caído depois de escorregar rápido demais no velho brinquedo que estava a poucos centímetros de mim. Não era como se meus joelhos não aguentassem mais o meu peso, era uma necessidade psicológica que me queimava. E foi por essa necessidade que deixei meu corpo abaixar até que eu estivesse sentado onde, segundos antes, estava em pé. Abracei meus joelhos e ponderei mais uma vez como havia chegado àquela situação deplorável.

Talvez a pergunta certa fosse como não cheguei à algo pior ainda?. Parecia que eu havia escolhido a opção errada cada vez que me fora oferecida uma escolha. Por sorte, ainda tenho a desculpa de que minha avalanche de erros começou ainda quando eu era novo demais para perceber a dimensão do que fazia. Ainda era um pirralho quando decidi que meu recém-descoberto-príncipe adoraria passar todas as horas possíveis comigo. E – talvez - eu também não possa ser culpado por tê-lo perseguido durante nossa pré-adolescência, afinal, nessa época ainda éramos controlados pelos impulsos infantis. Mas eu realmente deveria ter percebido que alguma coisa estava errada em meu pequeno mundo cor-de-rosa quando superei os treze anos. Já não era mais criança, devia ter deixado de agir como tal.

Pior cego é aquele que não quer ver. Grandes palavras essas. Eu supostamente deveria ter enxergado as dicas - as pistas - que Harry mandava para me mostrar a realidade. Contudo, eu, que nunca me considerei burro, insisti no mesmo patético erro. De novo e de novo.

Arrastei ambas mãos por meus cabelos, puxando-os com força para trás. Não havia dor física ali. Por falar em provérbios, a minha vida é praticamente uma reunião deles. Nem tudo que reluz é ouro, Cuidado com o que você deseja porque pode se tornar realidade e cavalo dado não se olha os dentes são os meus favoritos. O primeiro resume bem as várias vezes em que interpretei erroneamente uma ação de Harry. O segundo cabe perfeitamente em meu falso namoro. O namoro que eu desejei durante anos e que, quando finalmente aconteceu, foi tão diferente e tão errado que quase tirou uma parcela da minha sanidade. E o terceiro, bem, o terceiro tem ligação direta com o segundo. Ele se refere aos momentos roubados naqueles dias da farsa em que eu fingia que as coisas estavam acontecendo porque nós dois queríamos que assim o fosse, e não por causa de um acordo esquisito firmado no calor de um momento.

Obsession (Larry) ✔Where stories live. Discover now