XXVI

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"A arte de viver consiste em tirar o maior bem do maior mal" - Machado de Assis

Gemma falou mais alguma coisa. Contudo, eu estava ocupado demais segurando a porta aberta do meu carro, um pouco curvado, tentando de todas as maneiras não colocar meu café da manhã para fora em cima das belas flores de Anne. A náusea me consumia, mas isso não impediu que o desespero também surgisse quando notei que a loira aproximava-se de mim. A última coisa de que eu precisava no momento era do interrogatório Styles. De maneira muito desajeitada, joguei-me no banco do motorista.

"LOUIS! VOCÊ NÃO PODE DIRIGIR NESSE ESTADO". Ela gritou, chegando cada vez mais perto.

Liguei o carro. Com esse gesto ela pareceu perceber que a ofensiva direta não surtiria efeito. Tentou algo mais sutil. Abaixou o tom e parou de andar:

"Louis, desça do carro. Vamos conversar. Diga-me o que está acontecendo. Nós podemos passar por isso, juntos. Somos amigos, lembra?"

Engatei marcha ré e coloquei o carro de volta na estrada de saída.

"Preciso ficar sozinho, Gemma. Depois eu ligo." consegui falar, apesar do bolo terrível em minha garganta.

"LOU, NÃO!"

Acelerei e deixei a propriedade para trás antes que ela pudesse dizer alguma coisa que me fizesse mudar de ideia. Alguma coisa que me fizesse correr para o colo da minha melhor amiga e chorar todos os meus problemas para ela... O que provavelmente faria com que a família inteira dela passasse a desprezar o cacheado. Então seria mais um peso para eu carregar em minha já muito sobrecarregada consciência.

E o pior de tudo é que o "obrigado" não era exatamente um motivo para eu correr para minha melhor amiga. Os outros até que foram. O estúpido plano para enganar a todos, todas as mentiras no meio do caminho, os beijos "falsos". Esses, sim, eram motivos para um desabafo, mas o agradecimento de Harry não era. Afinal, ele havia deixado bem claro, no dia em que pediu a minha ajuda para realizar esse plano, que as coisas durariam até o dia que a avó dele fosse embora. Depois seriam mais alguns dias de um fingimento raso, então, terminaríamos por incompatibilidade pessoal.

Dessa vez não houve qualquer mentira por parte dele e também não houve nenhum deslize de minha parte. Foi o imprevisto que encurtou a viagem da Sra. Styles e o nosso teatrinho. Era engraçado como dessa vez não havia um culpado para quem eu pudesse apontar o dedo. E, paradoxalmente, isso tornava tudo pior.

Nas outras vezes, podia culpar a mim mesmo. Não era o melhor sentimento do mundo, mas, ao menos, existia algum responsável. Dessa vez era como se o destino estivesse interferindo diretamente para que nós nos separássemos o mais rápido possível... Quase como se fosse errado ficarmos juntos – mesmo que fosse tudo de mentira. E, para melhorar meu humor, eu nem acredito nessas bobeiras de "destino" e "signos do zodíaco" e coisas ABSURDAMENTE comprovadas do tipo. Para se ter uma noção de quão desesperadora estava a situação. Até o Destino tinha arrumado um lugarzinho na minha cabeça.

Totalmente deprimente. Porque, antes, quando era tudo um erro humano – e, na maioria das vezes, meu – não restava mais esperança, pois havia estragado tudo. Só que, quando a situação parece estar acima de você, quando depende de coisas sobre as quais você não tem qualquer tipo de controle, e, muitas vezes, não pode nem mesmo ver o que está chegando... Essa é o pior tipo de situação. Porque ainda resta uma pontinha de esperança e, por mais que se lute contra, a esperança continua lá. Quase como se sussurrasse que ainda era possível conseguir o controle da situação... E... E ajeitar tudo. Meu cérebro continua gritando que isso não era viável.

E que eu deveria estar feliz por finalmente tudo ter acabado, mas a única coisa que eu conseguia sentir era um estranho vazio. Soltei um pesado suspiro. E logo em seguida um grito estridente.

Obsession (Larry) ✔Where stories live. Discover now