Capítulo 1: No mundo da Lu(n)a

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Luna Caterina colocou a última carta escrita na caixa do Correio, de modo automático, como vinha fazendo nos últimos quatro anos. Uma parte de si, aquela que acreditava que nada do que fazia era certo, estava insegura de ter contado àquela história para o amigo. Não que ela achasse que havia feito algo de errado. Mas, às vezes, Luna sentia como se, não importavam suas intenções ou inúmeras tentativas de acertar, ela sempre acabava falhando.

Tentando ignorar a voz que a reprovava na sua cabeça, ajeitou a mochila no ombro, aumentou o volume dos fones, subiu na bicicleta e tomou o caminho do R&L Coffee, cafeteria onde trabalhava todos os dias nas férias, e meio período durante o ano letivo.

O estabelecimento pertencia a um casal jovem, Lia e Rafa, e tinha sido uma herança de família. Luna não sabia muito sobre essa história em questão, porque os dois não costumavam falar muito sobre o assunto, mas, principalmente, porque a garota vivia com a cabeça nas nuvens. O garoto de olhos ora castanhos, ora esverdeados, que ia todos os dias buscar café, também tinha uma parcela de culpa, acreditava a menina, roubando toda a atenção do mundo para si quando entrava no local e fazia os sininhos tilintarem.

Quando chegou no Café, encontrou Lia colocando os doces para o dia nas prateleiras, e sorriu para a chefe/amiga.

– Bom dia, Luna!

– E aí, Lia? Tudo bem?

Entrou na cozinha, largou a bolsa e colocou o avental, voltando ao balcão.

– Tudo bem, gatinha. E com você? Rafa, pra variar, vai chegar um pouquinho mais tarde. E ah, o seu café tá pronto, mas o seu moço não passou por aqui ainda.

Na menção do menino, o coração de Luna deu um pulo, mas ela revirou os olhos para a chefe.

– Fica quieta, Liane! – disse, séria, mas rindo em seguida, por incapacidade de manter a pose durona por muito tempo. A chefe a olhava com uma sobrancelha levantada e uma expressão questionadora. – Ele não é meu moço.

– Claro que não. É moço dele, mas eu entendo sua paixãozinha. Rafa que não me ouça: mas até eu por aquele sorriso e àqueles olhinhos.

Riram, cúmplices, e o sininho indicando que alguém abria a porta tocou. Lia olhou na direção do som e sorriu, desviando o olhar em seguida para onde Luna deveria estar e dando um sorrisinho, mas quando o fez, viu que a menina estava tirando algumas coisas do forno e bebericando seu café. Rafa se aproximou e deu um beijinho na namorada, enquanto Matheus sentava-se num dos bancos dispostos à frente do balcão.

– Um milagre aconteceu e você apareceu cedo, Rafa. E bom dia, Matt.

Lia recebeu um sorriso doce do menino, mas os olhos bonitos examinavam o local à procura de outra pessoa. Movimento que não passou despercebido por Lia, que sorriu ainda mais largo. A afeição por Luna era perceptível e muito, muito adorável.

A única pessoa inconsciente da situação era a própria Luna. O que não surpreendia ninguém.

– Rafa chegou, Lia? – perguntou Luna, ainda na cozinha.

Lia respondeu que sim e acrescentou: - Faz um latte que só você consegue fazer, gatinha.

Luna parou diante da percepção. A única outra pessoa que tomava latte a essa hora além dela era...

– Matt! – disse Luna ainda da cozinha, baixinho (ou o máximo que ela conseguiu) – Um latte com um pozinho de lua saindo em 10, 9, 8...

Apareceu com dois copos de café – o seu e o do garoto, e colocou no balcão, sorrindo largo pro amigo barra cliente barra crush.

– Oi, Lu. Tudo bem?

Cartas, Cafés e Cicatrizes [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now