A porta aberta (capítulo único).

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A lista de afazeres para a manhã seguinte encontrava-se sobre a pequena mesa de madeira, relembrando as anotações que Lorena já estava farta de ouvir repetidamente nos últimos cinco anos. Desde que havia sido convocada para aprender mais sobre as funções sociais que seu título carregava, os reis não deixavam-na em paz um minuto sequer. Tantas regras não tinham a menor finalidade, a não ser que fosse para causar tédio constante. Além do mais, eles insistiam em cobrar bons modos, estes que ela jamais teve. Lorena sabia que alguns príncipes não valiam o suficiente para tê-la diante de um altar bem decorado, professando juras de amor, mas haviam aqueles que eram bons o bastante para tomá-la em uma cama desarrumada, e justamente por esses homens que ela sentia grande atração. Apesar de a rainha ir contra estes pensamentos indecentes, uma noite de prazeres valia mais do que um corpo desamparado.

Max também tinha conhecimento das preferências da princesa, visto que era quase um integrante da família e passava boa parte do seu tempo entre eles. Ruan, o irmão de Lorena, era um apreciador fiel da influência que os pais de Max exerciam sobre o reino. O príncipe deixava claro o quanto admirava os bons feitos realizados pela família Mantoneri, e fazia questão de dizer que amizades tão valiosas quanto aquela não podiam ser desfeitas em hipótese alguma, por isso era comum ver Max nos corredores do castelo, dando até a entender que ele vivia ali.

Você não consegue enganar o Ruan sem ter que dar muitas desculpas? Precisa treinar melhor o falso discurso, hein? — Assim que viu Max à frente da sua porta, Lorena o puxou rapidamente pela gola da camisa e o levou para dentro do quarto, alcançando-lhe a boca para roubar um beijo úmido e repleto de promessas ocultas.

— Lorena, Lorena. Sempre apressada. — O rapaz riu, apoiando a mão na porta. — Sabe que não podem descobrir o nosso caso. Seu irmão não gostaria de saber que enquanto pensa que fui conferir o jardim, na verdade, decidi explorar cada parte do teu belo corpo.

Lorena estava acostumada a receber elogios, mas os que vinham de Max sempre a deixavam ruborizada. Ele sabia perfeitamente como mexer com cada molécula do seu organismo sem precisar de muitos esforços. Se conheciam desde o início da puberdade e depois de algum tempo perceberam o quanto sentiam-se atraídos um pelo outro, começando a ter encontros casuais às escuras em dias aleatórios. Apesar de suas inúmeras paqueras, Lorena sempre voltava para os braços calorosos de Max.

— E quem disse que quero que nos descubram? Não teria a mesma graça. Você é bem melhor sendo um brinquedo secreto do que se fosse público.

Max continuou a rir, sabendo de quem se tratava a garota que estava em sua frente. Lorena não era do tipo que se apaixonava por qualquer homem, muito menos por alguém como ele. O que ambos queriam nenhum relacionamento poderia trazer aos dois. A sensação de ter a quem recorrer sem pertencer de fato a ninguém, fazia com que pudessem ser livres, e usufruir de alguns momentos íntimos sem maiores dores de cabeça lhe soava mais agradável do que precisar dar satisfações a outra pessoa.

Lorena ergueu as sobrancelhas, provando que estava certa como geralmente gostava de estar. Max sabia que ele era um mero passatempo para a garota, igualmente como ela era para ele. Não que precisassem de maiores explicações para o que tinham, já que não existia qualquer significado que pudesse definir aquela simples troca de favores. O amor, para eles, se resumia a aquilo. Nada além de um revezamento de interesses.

— Quer dizer que você não tem boas intenções comigo? Que blasfêmia! Onde já se viu? A rainha Miranda não vai gostar de saber que a filha perfeita está se portando de modos inapropriados. — Pela risadinha de Lorena, Max podia tirar suas conclusões. — Ela sempre soube, não é?

— Menos conversa e mais ação, Max. Acho que você não veio aqui porque estava interessado em uma sessão de fofocas da família real.

Lorena queria provocá-lo e sabia as melhores formas para deixá-lo pulsando de desejo, o que não conseguiria se continuasse falando da quantidade gigantesca de problemas familiares que carregava consigo. Os dedos da princesa, vagarosamente, subiram até o tórax de Max, acariciando os pequenos botões que seguravam o pedaço de pano em cima de sua pele. Pela forma que os olhos dele brilhavam conforme Lorena abria sua boca, mostrando os lábios levemente avermelhados devido ao beijo anterior, ela podia perceber que estava trilhando um caminho sem volta. Exatamente o que ela mais desejava, pois dessa vez ele estava mordendo firme a isca.

Não Tranque a PortaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora