Capítulo 13

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Pum Pum

Eu só ouvia o som dos canhões a dispararem sem cessar e eu estava ali presa, sem poder fazer nada. 

De dentro do cerco mágico que me continha eu podia ver diferentes pessoas. Pessoas que eu amava. Pessoas que estavam a lutar por mim. Pessoas que estavam a arriscar a sua própria vida por mim e pela minha causa. Eu não queria estar ali fechada. Não queria ser inútil. Queria sair dali e salvar os que amava.

Pum Pum

Um novo ribombar de canhões. Agora mesmo à minha frente eu via Shirley a lutar com um destruidor especialista em fogo. Mas era um fogo negro. Um fogo sem espírito. Sem vida. Ela desviava dos seus ataques e tentava inúmeras vezes cortá-lo com intensas rajadas de vento, mas o destruidor sempre desviava dos seus ataques. 

Então ela criou um ciclone. Um ciclone que levaria tudo pelos ares. Eu nunca tinha visto Shirley usar tanto o seu poder, ou usá-lo de forma tão grandiosa como agora. O olho do ciclone apontou mesmo para a cabeça do destruidor que olhava estupefacto. Shirley aproveitou a distracção dele e, criando um pequeno punhal de ar,  matou-o atingindo-o no peito.

De seguida o foco do meu olhar foi dirigido para Grisham. Ele lutava contra dois destruidores e ainda tentava afastar um ser monstruoso feito de galhos e ramos carbonizados, com três olhos e algumas luzes, que supus que lhe dariam força e vida, espalhadas pelo corpo. O monstro começava a avançar cada vez mais e os destruidores tinham aproveitado a distração de Grisham e tinham lançado um punhal na sua direção que foi agarrado por um anjo mesmo antes de acertar no centro das suas costas.

Anjos. Ahron era nosso aliado e lutava ao nosso lado. Sem ter motivos específicos.  De repente um destruidor que supus ser o chefe lançou uma flecha coberta de fogo negro e de água cinza, que borbulhava, em direção a Ahron. Eu não tinha reparado na sua presença até àquele momento mas agora via como ele estava exausto e ferido. 

No momento em que a flecha acertou no seu peito ele murmurou o que me pareceu o meu nome. "Baunilha".  Então fiz a única coisa que conseguia. Gritei.

-  Aaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhh

Acordei daquele pesadelo assustador e comecei a relembrar o meu dia anterior. A luta com Grisham. A discussão. Subir à torre. Descobrir as asas. No fundo era uma montanha de pontas soltas que eu tinha de reunir hoje.

Comecei a descer as escadas da torre e o castelo estava imerso num silêncio aterrador.

Percorri os corredores em passo apressado, sem ouvir um único ruído.

Quando cheguei ao corredor do meu quarto, abri a porta e estava tudo perfeitamente arrumado. Fui até à janela e a aldeia que se via dali estava completamente deserta,  não se via vivalma. O alto dos pinheiros que rodeavam a aldeia balançam levemente ao sabor do vento.
Não percebia nada do que estava a acontecer e por isso comecei a correr para o quarto da minha tia.

Os corredores continuavam desertos e isso começava a preocupar me seriamente.

Onde é que estam todos?
Porque é que não se vê ninguém?
Em lado nenhum?
Será que Grisham está bem?
E Ahron?
E a tia Marlene?

Cheguei ao quarto da minha tia e abri a porta de rompante.

Todo o meu corpo relaxou ao ver a silhueta da minha tia no beiral da varanda, de costas para a porta.

Fui até ela e abraçei a.

- Ainda bem que estás bem... - murmurei

- Onde é que estiveste está manhã, Baunilha?

- Ontem fui até à torre e depois adormeci lá.  Hoje acordei e estava tudo deserto.  O que é que se passa, tia? Porque é que não se vê ninguém é não se ouve nada? Até os pássaros parecem ter desaparecido do nada.

- As pessoas esconderam se porque uma das anciãs mais antigas da aldeia previu uma invasão. Todos ficaram com medo. Uns esconderam se e outros foram para fora da aldeia.

- As previsões dessa anciã costumam estar certas?

- Ela nunca se enganou.

- A anciã sabe porque é que nos vão invadir?

- Não. As informações são muito escassas.  A anciã prevê apenas o que vai acontecer e não o motivo do acontecimento.

Então o reino da minha tia ia ser invadido?

- Mas então e o pessoal do Castelo? Onde é que estam todos os criados?

- Disse lhes para saírem da aldeia.

- Sabes onde é que está o Grisham?

Senti a acidez do olhar que a minha tia me lançou.

- Está a treinar lá em baixo e está muito mal humorado.  Não sei o que é que lhe disseste mas parece que o irritou muito.

- Obrigada tia Marlene, por tudo o que fez por mim.

Saí do quarto da minha tia antes que ela me respondesse e comecei a descer a escadaria de dois em dois. No último degrau, a carpete que cobria toda a extensão das escadas ficou enrolada nos meus pés e fui de cara ao chão.

Fui amparada poucos segundos antes de partir o meu nariz e sujar a carpete de sangue.

- Não perdes uma oportunidade de te atirares a mim, não é Baunilha?

Bufei como resposta já sabendo quem era o dono daquela voz. Mesmo assim levantei a cabeça e olhei nos seus profundos olhos verdes.  Eles deixavam me sempre sem chão.

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⏰ Last updated: Nov 19, 2017 ⏰

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A Herdeira da NaturezaWhere stories live. Discover now