Pum Pum
Eu só ouvia o som dos canhões a dispararem sem cessar e eu estava ali presa, sem poder fazer nada.
De dentro do cerco mágico que me continha eu podia ver diferentes pessoas. Pessoas que eu amava. Pessoas que estavam a lutar por mim. Pessoas que estavam a arriscar a sua própria vida por mim e pela minha causa. Eu não queria estar ali fechada. Não queria ser inútil. Queria sair dali e salvar os que amava.
Pum Pum
Um novo ribombar de canhões. Agora mesmo à minha frente eu via Shirley a lutar com um destruidor especialista em fogo. Mas era um fogo negro. Um fogo sem espírito. Sem vida. Ela desviava dos seus ataques e tentava inúmeras vezes cortá-lo com intensas rajadas de vento, mas o destruidor sempre desviava dos seus ataques.
Então ela criou um ciclone. Um ciclone que levaria tudo pelos ares. Eu nunca tinha visto Shirley usar tanto o seu poder, ou usá-lo de forma tão grandiosa como agora. O olho do ciclone apontou mesmo para a cabeça do destruidor que olhava estupefacto. Shirley aproveitou a distracção dele e, criando um pequeno punhal de ar, matou-o atingindo-o no peito.
De seguida o foco do meu olhar foi dirigido para Grisham. Ele lutava contra dois destruidores e ainda tentava afastar um ser monstruoso feito de galhos e ramos carbonizados, com três olhos e algumas luzes, que supus que lhe dariam força e vida, espalhadas pelo corpo. O monstro começava a avançar cada vez mais e os destruidores tinham aproveitado a distração de Grisham e tinham lançado um punhal na sua direção que foi agarrado por um anjo mesmo antes de acertar no centro das suas costas.
Anjos. Ahron era nosso aliado e lutava ao nosso lado. Sem ter motivos específicos. De repente um destruidor que supus ser o chefe lançou uma flecha coberta de fogo negro e de água cinza, que borbulhava, em direção a Ahron. Eu não tinha reparado na sua presença até àquele momento mas agora via como ele estava exausto e ferido.
No momento em que a flecha acertou no seu peito ele murmurou o que me pareceu o meu nome. "Baunilha". Então fiz a única coisa que conseguia. Gritei.
- Aaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhh
Acordei daquele pesadelo assustador e comecei a relembrar o meu dia anterior. A luta com Grisham. A discussão. Subir à torre. Descobrir as asas. No fundo era uma montanha de pontas soltas que eu tinha de reunir hoje.
Comecei a descer as escadas da torre e o castelo estava imerso num silêncio aterrador.
Percorri os corredores em passo apressado, sem ouvir um único ruído.
Quando cheguei ao corredor do meu quarto, abri a porta e estava tudo perfeitamente arrumado. Fui até à janela e a aldeia que se via dali estava completamente deserta, não se via vivalma. O alto dos pinheiros que rodeavam a aldeia balançam levemente ao sabor do vento.
Não percebia nada do que estava a acontecer e por isso comecei a correr para o quarto da minha tia.Os corredores continuavam desertos e isso começava a preocupar me seriamente.
Onde é que estam todos?
Porque é que não se vê ninguém?
Em lado nenhum?
Será que Grisham está bem?
E Ahron?
E a tia Marlene?Cheguei ao quarto da minha tia e abri a porta de rompante.
Todo o meu corpo relaxou ao ver a silhueta da minha tia no beiral da varanda, de costas para a porta.
Fui até ela e abraçei a.
- Ainda bem que estás bem... - murmurei
- Onde é que estiveste está manhã, Baunilha?
- Ontem fui até à torre e depois adormeci lá. Hoje acordei e estava tudo deserto. O que é que se passa, tia? Porque é que não se vê ninguém é não se ouve nada? Até os pássaros parecem ter desaparecido do nada.
- As pessoas esconderam se porque uma das anciãs mais antigas da aldeia previu uma invasão. Todos ficaram com medo. Uns esconderam se e outros foram para fora da aldeia.
- As previsões dessa anciã costumam estar certas?
- Ela nunca se enganou.
- A anciã sabe porque é que nos vão invadir?
- Não. As informações são muito escassas. A anciã prevê apenas o que vai acontecer e não o motivo do acontecimento.
Então o reino da minha tia ia ser invadido?
- Mas então e o pessoal do Castelo? Onde é que estam todos os criados?
- Disse lhes para saírem da aldeia.
- Sabes onde é que está o Grisham?
Senti a acidez do olhar que a minha tia me lançou.
- Está a treinar lá em baixo e está muito mal humorado. Não sei o que é que lhe disseste mas parece que o irritou muito.
- Obrigada tia Marlene, por tudo o que fez por mim.
Saí do quarto da minha tia antes que ela me respondesse e comecei a descer a escadaria de dois em dois. No último degrau, a carpete que cobria toda a extensão das escadas ficou enrolada nos meus pés e fui de cara ao chão.
Fui amparada poucos segundos antes de partir o meu nariz e sujar a carpete de sangue.
- Não perdes uma oportunidade de te atirares a mim, não é Baunilha?
Bufei como resposta já sabendo quem era o dono daquela voz. Mesmo assim levantei a cabeça e olhei nos seus profundos olhos verdes. Eles deixavam me sempre sem chão.
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A Herdeira da Natureza
FantasySempre tive uma ligação com a natureza, com os animais e com o estado do tempo. Mas naquela tarde, eu estava muito feliz, o sol brilhava por cima da minha cabeça e eu olhava fixamente para uma rosa fechada. Assim que a minha mão se aproximou da rosa...