Final

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Final

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Final

__ Fique tranqüilo seu Antonio! Eu estou aqui para ajudá-lo. Disse isso e puxei do bolso aquela cartinha dobradinha e já amassada. Entreguei a ele e disse: __ O que me fez vir até o senhor, foi esse bilhete. Leia, por favor!

Seu Antônio leu o bilhete e enquanto lia, as lágrimas rolavam por seu rosto. Então, contei a ele toda a história, e disse que ela jamais se referiu a ele, como a um bêbado irresponsável! Ao invés disso, ela se referia a ele como um homem muito doente. __E era a esse homem doente, que eu vim encontrar. Alguém que eu achava que estava de cama, enfermo e morrendo. Vim para confortá-lo, mas qual foi a minha surpresa, ao conhecer a realidade, pois saúde, seu Antonio, o senhor tem de sobra, mas está tratando de destruir, não só a sua saúde, mas também a sua família!

__ Minha garotinha! __disse Antônio em meio as lagrimas. __ Mas eu não sei o que fazer moço! Eu não tenho emprego e nem a quem recorrer. Sabe moço, nem para bandido eu sirvo! Eu não tenho coragem de assaltar ninguém! Nem para isso eu presto, pois várias vezes eu vi minha família com fome, passando necessidade, e eu tentei pegar alguma cosa, sei lá, uma carteira, a bolsa de uma idosa... mas, eu não tenho coragem de fazer mal a ninguém! Não tenho coragem de pegar o que não me pertence! Fui criado assim, por meus pais. Minha consciência não me permite, entende? Então, preferi me entregar ao álcool para ver se minha família se esquecia de mim, e eu, poderia morrer em paz. Preferi me envergonhar e envergonhar minha família! Isso acaba comigo, moço! Eu não tenho honra! Não posso prover o sustento daqueles que amo, e que dependem de mim! (Antônio caiu em prantos) __Seria melhor que eu morresse moço! E agora, do nada, me aparece o senhor despejando na minha frente todo o amor que minha filha tem por mim! O que eu posso fazer? O que eu posso fazer?! Antônio gritou chorando e pondo as mãos na cabeça, simplesmente desesperado, desnorteado e inconsolável.

__ Cresce Antônio! Cresce! Respondi sério e com convicção.

__ Pare de ser infantil! Pare com essa atitude idiota de fazer como um avestruz, enfiar a cabeça em um buraco para não encarar os problemas! Como se isso, resolvesse alguma coisa! Mas não resolve Antônio! Não resolve!  Agora que você se curou do porre, procure um emprego. Não precisa ser da sua área, como torneiro mecânico. Pode ser padeiro, porteiro, ajudante, vendedor... qualquer coisa que garanta o pão, para sua família não passar fome! Tenho certeza de que você estando empregado, vai aparecer coisa melhor. As oportunidades vão surgir, te garanto isso Antônio! Mas agir como um idiota, não vai ajudar em nada. Seja homem e tome as rédeas de sua vida. Tudo vai melhorar. 

Dei um dinheiro para o Antônio e ele me prometeu mudar. Disse que iria seguir meus conselhos e seguir uma vida simples, porém digna e feliz, com aqueles que amava. Antônio me agradeceu muito:

__ Obrigado amigo, por tirar a trava de meus olhos. Agora enxergo a realidade. Eu não sei quem você é e nem o que faz, mas de alguma forma, minha filha viu no senhor, a força que precisava para ajudá-la com o seu desejo. Realmente o senhor tem essa força celestial que faz toda a diferença na terra, tanto é, que ela o chama de "papai do céu"! E o senhor acabou sendo um instrumento nas mãos de Deus, para realizar o desejo de uma menininha, e restituir uma família, recuperando meu juízo e assistindo às nossas necessidades. O senhor, meu amigo, é um Anjo! Se importou com a vida de pessoas que nem conhecia! Poderia ter deixado de lado e nem se importado, mas não. Acabou vindo e resolvendo o problema. Isso, meu amigo; é caridade. Eu não sei de sua vida, mas sei que a caridade apaga multidões de pecados. Obrigado, amigo! Obrigado por tudo. Vá com Deus! E que Ele te abençoe em sua vida, e em seus projetos. Que o senhor continue a ser essa luz, e essa benção na vida de todos que cruzarem, o seu caminho. Obrigado! Muito obrigado!

Levei Antônio até em casa e já era quase uma da manhã. Dormi pensando em tudo que aquele dia tinha feito em minha vida. A lição de amor, de caráter... "Eu não consigo pegar o que não me pertence". Frases como essa, giravam em minha cabeça. "A caridade apaga multidões de pecados" ... "Continue a ser benção na vida de todos que cruzarem, o seu caminho".

No dia seguinte, véspera de Natal; coloquei minha roupa vermelha e fui trabalhar pensando no fim do expediente e no que eu estava prestes a fazer. Pouco entendia o que eu estava sentindo, mas mesmo assim eu sabia que algo em mim, havia mudado.

Enquanto me vestia com aquela roupa vermelha, senti um certo orgulho de mim mesmo. Não pelo que eu estava prestes a fazer, mas por aquilo que eu já havia feito na vida de Antônio e de sua família.

Lá estavam as crianças e seus pais, esperando a chegada triunfal do "Bom Velhinho". Como pode isso? Eu sempre me orgulhei de ser esperto, de passar a perna nos outros, enganando, roubando, esculachando quem ganhava seu sustento com trabalho árduo e digno! Então, naquele dia, eu queria tudo, menos que alguém imaginasse ou descobrisse o que realmente eu fazia na vida, pois na realidade, eu não era bom, nem caridoso. O que eu fazia era destruir com a vida, e com os sonhos das pessoas. Mas naquele dia, naquela véspera de natal, eu havia experimentado o sabor de "fazer o bem", e eu juro que nunca, em minha vida, eu imaginei que seria tão bom e gratificante, a ponto de eu sentir esse amor invadir todo o meu ser e encher meu coração de um prazer indescritível, que ultrapassa qualquer entendimento.

Percebi que alguma coisa "Divina", havia acontecido naquela noite, pois, os papéis se inverteram! Eu, o ladrão que queria passar descompustura, num bêbado; acabei recebendo uma lição, daquele homem. Na verdade, ali aconteceu uma troca. Ambos recebemos uma lição, daquelas que mudam a vida de um homem, para sempre...

Qual foi a minha surpresa ao reconhecer em meio aos pequeninos, aqueles mesmos olhos vivos e incandescentes, buscando ver-me, aos gritos:

__ Papai do Céu! Papai do Céu!

Anita arrastava seu pai pelas mãos, e quando chegou até mim, agarrou-se às minhas pernas e gritou:

___ Meu pai tá bom Papai do Céu! Tá curado!

__ Seu Antônio, fique comigo até depois do expediente, pois eu quero apresentá-lo aos irmãos Murah, que são os donos dessa loja. Não posso garantir, mas é quase certo que eles podem contratá-lo para trabalhar aqui. Eles gostam muito de mim e eu tenho certeza de que atenderão, a um pedido meu.

Assim foi feito. Seu Antônio saiu da loja, empregado. Eu recebi inúmeros elogios, e o convite para estar lá novamente, no ano seguinte. Recebi meu pagamento. Aquele dinheiro honesto que conquistei com trabalho, e nunca mais tomei o que não me pertencia.

Depois que experimentei o sabor do bem, consegui ver o mal e percebi o quanto me prejudiquei agindo com injustiça. Consegui me enxergar, e me reconhecer como um "marginal", como um "meliante", um "criminoso", um homem que só trazia dissabor à vida das pessoas. Mas para minha sorte, aquele natal, reservava um milagre em minha vida. Anita, com sua cartinha mal escrita, me fez conhecer o bem. Me fez buscar conhecer a Deus, quando me confundiu com Ele próprio. Ao olhar inocente de uma criança que não via diferença entre o Papai Noel e o Papai do Céu, eu me rendi, me arrependi e me regenerei.

"A Caridade Apaga Multidões de Pecados"

(Bíblia Sagrada)

Revisão: Lucas Gavazzoni

Uma Carta para NoelWhere stories live. Discover now