Prologue

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Prólogo

Toronto, 26 de Janeiro de 2015.

O abraço de minha avó era forte. Correspondendo timidamente, envolvi meus braços ao redor da cintura larga, bem como aconcheguei o rosto em seu colo. Pude sentir a face envelhecida um tanto gélida, por conta das lágrimas sob o ar condicionado do aeroporto, encostar-se ao meu ombro. Não era para ela chorar.

Odiava despedidas.

As pessoas tem o hábito de tratar toda despedida como um "adeus" final. Eu não estava morrendo. Não ficaria incomunicável, nem era mais uma criança. Desvencilhei-me dos braços de minha avó, não tardando a abraçar meu pai.

Senhoras e senhores passageiros do Voo 7583 com destino à Paris, embarque imediato no portão 6. — a voz provocante da aeromoça, com um breve sotaque francês, ecoou no saguão.

— Preciso ir. — os lábios secos de meu pai prensaram contra minha testa e eu sorri. — Ligarei assim que eu chegar.

— Por favor. Ao menos nos mande uma mensagem, não deixe sua velha avó preocupada. O conflito sobre Charlie Hebdo ainda é muito recente. — as mãos do progenitor se entrelaçaram nas minhas. — Eu sei que não é a sua primeira vez sozinho no exterior, mas esta é uma viagem longa e em tempos de terrorismo. — antes que eu pudesse hesitar, estava em mais um abraço "de urso". — Seis meses sem o meu filhote, sentirei tanta saudade...

— Estamos em público, pai. Menos. — repreendi-o, logo beijando sua bochecha. — Amo vocês. Tchau!

Enfim, livre! Um semestre na Europa à toa. James Devon Becker com seis meses para rodar um continente inteiro. O cheiro da maconha era evidente, mal podia esperar pelo suor desconhecido das ucranianas, francesas, suíças, ..., ou talvez russas em meu corpo. A única certeza era que aquela seria melhor fase da minha vida.

A fila do check-in foi breve. Entreguei o passaporte com a passagem dentro para a aeromoça, ela encarou meu documento por alguns instantes, chamou outro funcionário e, com a ajuda da minha carteira de habilitação, fui liberado. Sempre isso. Em seguida, despachei as malas, adentrando o avião sem postergar. A ansiedade me consumia.

Vaguei pelos corredores em busca de meu assento na classe econômica. Avistei a cadeira vazia ao lado de um asiático e me sentei. Ciente de que a viagem seria longa, inclinei ligeiramente a poltrona para trás. Espiei com o canto dos olhos a neve branca pela janela e cobri meus olhos com a touca a qual revestia meus cabelos. Eu sabia que sentiria falta daquela vista. Não bastou muito para que o embalo da decolagem me ninasse. Em questão de segundos sob a escuridão, adormeci.

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