George respirava a cada hora mais pesadamente, não estava mais aguentando tanta dor, e acabou desmaiando assim que o doutor finalizou.

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Em momentos de lucidez, George ouviu algumas vozes em seu quarto, mas não conseguiu distinguir de quem era. Sabia que estava tomando grandes quantidades de láudano para não sentir dor, deixando-o dopado o dia inteiro.

Certo dia ouviu sua mãe cantando uma canção de ninar que ela sempre cantava quando ele era pequeno. Ela afagava seu rosto carinhosamente, chorava algumas vezes, e depois voltava a cantar. George queria abrir os olhos e dizer que estava tudo bem, mas suas pálpebras ficavam cansadas demais, e sua garganta estava tão seca que provavelmente ele não conseguiria falar nada.

Os sonhos se tornaram os melhores amigos de George naquele momento. Muitas vezes sonhava com coisas boas, todavia, os pesadelos eram mais presentes, o que deixava ele bastante agoniado querendo acordar e muitas vezes não conseguia.

Dr. Collins chegou num dia chuvoso aos aposentos de George. O mesmo estava lúcido tomando uma sopa com a ajuda da mãe. Ele cumprimentou o médico com a cabeça, que sorriu ao vê-lo melhor.

— Bom dia Vossa Majestade. Fico feliz em vê-lo se alimentando.

— Por favor, diga-me que não precisarei mais tomar aquele maldito láudano. Não suporto mais ficar confinado nessa cama sem poder fazer nada.

— Garanto a Vossa Majestade que tem um ótimo Primeiro-ministro. — o médico sorriu. — Por que todos da nobreza são tão teimosos? Apenas descanse. O senhor é novo, vai se recuperar rapidamente, mas em hipótese alguma pode se esforçar.

— Nenhum passeio? — perguntou indignado.

— George, qual parte do repouso absoluto não entendeu? — sua mãe perguntou rudemente.

George encarou os olhos azuis da mãe com certa repreensão e pena sobre ele.

— Vou obedecer vocês. — disse por fim. — Perdi essa batalha.

— Vou trocar seu curativo. Ele pode se alimentar depois, Majestade?

— Ele estava reclamando da sopa o tempo inteiro. — Lauren colocou o prato na bandeja que estava em cima do criado mudo. — Incrível como ele fica insuportável doente.

— Até ontem a senhora chorava. — George esboçou um sorriso travesso. — Hoje já está me dando broncas. Decida-se.

— Preciso receber uma visita. Volto em breve. — disse revirando os olhos.

— Visita?

— A visita não é necessariamente para mim, mas quero vê-la.

— Quem é? — George ficou curioso.

— Depois você descobre.

A rainha mãe saiu do quarto elegantemente deixando George curioso. Dr. Collins passou alguma coisa sobre sua ferida, para depois enfaixá-la novamente. Começou a tamborilar os dedos na cama, e doces tomaram seus pensamentos, pois não aguentava mais aquela comida de doente que era obrigado a ingerir.

— Está pronto. — o doutor sorriu satisfeito.

— Sabe quem é a visita?

— Não, Majestade.

— Certo. Sabe o que aconteceu com o homem que atirou em mim?

— Foi morto. — Dr. Collins respondeu com certa satisfação.

— Foi o que imaginei. — disse desconfortável.

— Não fique pensando nessas coisas, pode estressá-lo, o que não é nada bom para sua recuperação.

— Obrigado por tudo Dr. Collins. Qual seu primeiro nome?

— Mattew.

— Tenha um bom dia de trabalho, Mattew.

— Um bom dia para Vossa Majestade.

O doutor recolheu suas coisas e saiu do quarto. George começa se sentir impaciente e entediado. Não aguentava mais olhar para aquelas paredes, aquela velha mobília, aquelas enormes janelas, as cortinas de veludo azul. Queria levantar, se arrumar e ficar no seu gabinete lendo os milhares de relatórios. Nunca pensou que um dia sentiria falta de ler milhares de relatórios; mas preferia mil vezes estar em um gabinete do que confinado na cama.

— George. — sua mãe o chamou. — Se importa em receber uma visita?

— Não estou apresentável para visitas. — resmungou.

— Garanto que ela não vai se importar.

— Não gostaria que ninguém me visse em tal situação.

— Deixe sua vaidade de lado por um momento.

— Já que a senhora insiste, deve ser alguém muito importante. Mande essa visita tão importante entrar. — puxou a pesada coberta. — Espero que seja ao menos uma visita agradável.

A rainha revirou os olhos.

— Venha querida.

Charlotte surgiu na porta do quarto com uma expressão preocupada e feliz ao mesmo tempo. Quando os olhos de ambos se encontraram, George sentiu todos os sentimentos aflorarem intensamente.

Ela continuava linda. Aqueles olhos azuis dela sempre tão lindos quanto um céu sem nuvens. O cabelo dela estava preso, deixando seu belo rosto ainda mais exposto.

Ela sorriu para ele calorosamente.

— Vou deixá-los a sós. — a rainha disse. — Tenho certeza que vocês têm muitas coisas para conversar.

Charlotte adentrou no quarto, e Lauren saiu fechando a porta. Era notável para George, que ela estava envergonhada. Ela estava totalmente ruborizada, porém, ele não entendia o motivo. Depois, percebeu que estava sem blusa, quis rir, mas não podia deixá-la ainda mais envergonhada.

— Por favor, não fique o tempo todo sem dizer nada. Seu silêncio me deixa angustiado.

Ela correu em sua direção, e o abraçou com cuidado para não tocar no seu ferimento. Sentiu as lágrimas quentes dela por seu peito, e logo vieram os soluços. Ele colocou a mão na cabeça dela e afagou carinhosamente.

— Tudo está bem, Lottie. O pior se passou.

— George... — soluçou. — Você não sabe o quão eu sofri por todos esses dias. Pensei que eu iria te perder para sempre. Eu não iria suportar te perder. Mal consegui dormir, meu pai estava quase pedindo para um médico me receitar um calmante. Fiquei em estado de choque quando vi que tinham atirado em você.

Ele ficou em silêncio e continuou afagando os sedosos cabelos loiros dela.

— Eu não poderia deixá-lo partir sem dizer o que sinto.

— E o que sente?

— Eu sinto amor. — levantou-se e o encarou com os olhos marejados. — O amo com tanta força! Todo meu ser chama por você. Minha maior estupidez foi tê-lo deixado. Senti falta da sua voz, do seu abraço, do seu olhar, do toque da sua mão, dos seus lábios. — Charlotte fez uma carícia no rosto de George. — Espero que não seja tarde demais para que você me perdoe e para dizer que eu o amo.

— Jamais é tarde demais dizer ao outro que o ama. — sorriu carinhosamente. — Não teve somente um dia que eu não pensei em você. Em meus sonhos bons sempre estava presente. Senti falta da sua risada, do seu humor ferino. Quando você terminou comigo, partiu meu coração em mil pedaços, e até então eu não havia conseguido pegar os cacos do chão. — respirou fundo. — Porque, Charlotte... Porque sempre foi você, e sempre vai ser. Poderia passar mil anos, poderia amar e casar com outro homem, formar uma bela família, eu não deixaria de amá-la. Observaria você sendo feliz com outro alguém, mas em hipótese alguma deixaria de amá-la. O que sinto por você é mais forte do que o mar em plena tempestade.

— George... — mais lágrimas caíram dos olhos dela.

— Palavras não são mais necessárias aqui. — colocou a mão no pescoço dela. — Somente as ações são realmente necessárias.

Ele a beijou com toda paixão, desejo e saudade que tinha sentido naqueles dias.

Charlotte correspondeu da mesma maneira.

Lady CharlotteWhere stories live. Discover now