A FERA DOMINADORA

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Quando se joga o jogo das aparências, é preciso interpretar de corpo e alma para vencer.

A mulher de longos cabelos castanhos e olhos claros que estava elegante diante os fotógrafos sorriu para mim como um predador sorriria para a sua presa encurralada, e com um gracioso gesto disse:

-Ewan, querido, venha tirar algumas fotos comigo. Os fotógrafos estão insistindo.

Deixei a taça com o martíni ainda pela metade sobre a mesa e me aproximei. Ela usava um vestido branco como as penas de um cisne, seus cabelos caíam em uma elaborada cascata sobre seus ombros e a pele clara constatava com seus olhos escuros e os traços marcantes de seu rosto.

Algo que aprendi durante a minha exaustiva vida de abusos e farsas é que festas e coquetéis, como aquele em que me encontrava no momento, eram uma arena. Ali inimigos se reencontravam, trocavam olhares de ameaça e travavam batalhas silenciosas sob o olhar atento das câmeras e flashes da imprensa, se enfrentando como verdadeiros guerreiros. Acontecia, vez ou outra, de alguém quebrar este tenso tratado de paz silencioso e extravasar a inimizade e o rancor que tinha dentro de si com os escândalos que alimentam nossos eficientes e atenciosos veículos de mídia.

Porém, como eu também era um jogador experiente, sorri de volta com a mesma dose de dissimulação e arrastei meu primo Mark para onde ela estava.

Por ser a única pessoa ali que eu valorizava de verdade, fiz questão de tê-lo ao meu lado para aquele momento do qual eu não podia escapar. A simples ideia de enfrentá-la sozinho me nauseava.

Por ser a anfitriã, Rachel Dobrev sabia que eu não poderia me recusar a aparecer do seu lado diante os jornalistas sem criar rumores, e usava disso com maestria em seu coquetel beneficente no salão de festas da sua mansão onde se encontravam pessoas como empresários, artistas, políticos e figuras conhecidas do estrangeiro.

Ela educadamente elogiou o visual do meu primo, que em seus dezoito anos de inocência e timidez respondeu da melhor forma que pôde sem gaguejar (ou quase) e beijou-lhe o rosto.

Mark não deve ter notado, mas entre Rachel e mim o clima não era tão amistoso assim. Sob nossas máscaras de etiquetas e dissimulação, outros sentimentos estavam aflorados.

-Tudo em nome dos velhos tempos - sussurrou ela, ao meu ouvido, quando me abraçou.

Respondi com a minha interpretação de quem ri de uma brincadeira, me esforçando para ser quem o mundo queria que eu fosse.

Abraçados, sorrimos os três para as lentes, cujos flashes inundaram minha mente de luz, trazendo a tona lembranças de um passado que eu dificilmente esqueceria.

Eu tinha dezesseis anos quando ela rudemente prendeu meu braço à cabeceira daquela cama.

O quarto estava escuro, com somente a lâmpada do abajur sobre o criado acesa. Entretanto, eu podia ver o quanto o quarto era amplo, todo decorado, das paredes ao chão, os móveis e as roupas de cama, tudo com cores vivas e vibrantes em tons de vermelho, rosa e lilás. Um quarto de princesa onde dormia uma fera.

A garota surgiu da penumbra e subiu em meu colo. Usava apenas uma lingerie que achei que uma mulher adulta usaria, e não uma menina da mesma idade que eu. A peça era vermelha como o sangue, toda rendada e trabalhada delicadamente e fazia de Rachel uma beldade, sexy com seu corpo esguio e bronzeado na adolescente que habitava seu ser.

Eu procurava sempre sentir o mínimo de tesão naquelas situações, a fim de tornar o momento menos traumático possível e que passasse mais depressa com a vinda do prazer carnal, mas estava sendo difícil. Por mais linda e atraente que ela fosse, o que eu ouvira a respeito daquela garota ainda me assombrava.

-Olá, presente de aniversário - sorriu ela para mim - Vamos brincar de "o mestre mandou"? Ops, me enganei. Não devia ter perguntado isso. Você não tem escolha.

A garota estapeou meu rosto neste instante tão sonoramente que tive certeza que minha tia Harriet e o pai de Rachel que estavam no andar inferior ouviram também. Porém, não devem ter dado atenção. A Velha me vendera para Rachel por uma noite e a única condição que impôs foi de não me machucar seriamente. Não por preocupação, mas pelo simples fato de necessitar de mim inteiro nos seus negócios ilegais.

Minha bochecha direita ainda ardia onde a sua mão me marcara a pele quando Rachel retirou a minha cueca sem cerimônia alguma. Meus braços estavam presos à cabeceira por cordas que ela mesma amarrara tão firme quanto uma escoteira.

-Vamos ver o quanto você aguenta, rapaz. Não faça barulho. Acredite, não vai querer ser castigado.

Não querer ser punido não evitou que ela tampasse minha boca com fita adesiva quando deixei escapar um gemido. Rachel também ficou nua e se tornou uma dominatrix sem coração naquela noite. Forçou a penetração do meu membro, e cavalgou como, segundo ela mesma dizia, uma amazona.

Sempre por cima, ela fez questão der ser a ativa da relação durante horas, me batendo nas pernas, tronco e braços com seus brinquedinhos e pegando em meu rosto com suas unhas afiadas, repetindo ordens e blasfêmias.

Quando acabou, de manhã, a Velha veio me soltar e se limitou a reclamar dos arranhões e marcas que a garota me deixou e cobrou mais caro pelo serviço, sem se importar no quanto estava todo suado, exausto e dolorido. Minha pele gritava de dor, principalmente o meu órgão depois de tantos orgasmos forçados.

Nunca havia encontrado ninguém como Rachel antes. Arrisco-me a dizer que ela me ajudou a ser mais forte ao se mostrar mais impiedosa que muitas mulheres que eu viria a conhecer depois.

E hoje ela sorria ao meu lado na pele da herdeira caridosa em prol das causas humanitárias. Depois de duas mil fotos, os fotógrafos nos permitiu sair da pose.

Rachel ainda trazia seu sorriso predador da adolescente dominadora no seu rosto de mulher e conversava discretamente com Mark, que era todo sorrisos. Observando a cena, pensei no perigo que ela representava e o quanto me enojava a ideia de vê-la com meu primo.

De longe, outra pessoa maquiavélica também se divertia com a situação. A Velha segurava a taça de champanhe com uma das mãos e não escondia o interesse que tinha na cena que estava se passando ali.

Parece que ter uma arma na altura da cara ameaçando explodir a sua cabeça na noite em que fugi de casa não trouxe aprendizado nenhum para a vida dela. Nem para Rachel, que mesmo depois daquela noite e de outras situações onde me usou para se safar de erros graves, sorria sem preocupar com o amanhã, exibindo a fama de uma esportista famosa.

Ambas ingênuas, sequer imaginavam o que estava prestes a acontecer. Acredite, se soubessem, jamais tocariam um dedo em mim ou sorririam para as câmeras.

Minha vingança estava cada vez mais próxima.

[Este texto é um teaser de Filmes Proibidos, obra que em breve será publicada no wattpad. Siga o perfil Junyor_Silva para mais informações e leia também: Me, Myself and I, de Temática Musical, outro teaser da mesma obra]


Junyor Silva


Temática: Figuras de LinguagemTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang