Eu Não Queria, Mas Aconteceu - Livro 1

Eu gosto de você!

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Se tem baile de favela hoje é tudo no meu nome! 🎶🍻

Saio com a Júlia pra garagem, resolvo ir de moto hoje, até pq sei que a Júlia adora andar de moto comigo. Pego minha R1 vermelha e subo rasgando pra quadra.

Estaciono na frente da quadra. Júlia desce e já entra no meio da multidão. Eu vejo a hora no meu celular, 20:45. Pedro já deve estar chegando com as meninas. Encosto na moto e fico conversando com alguns mlk que tavam ali perto até ver o carro do Pedro subindo a ladera. Ele passa por mim e estaciona um pouco a frente da onde eu estava. Becca é a primeira que desce do carro seguida por Bárbara e Puta que pariu, como ela consiguiu ficar ainda mais linda? Literalmente perto das meninas que estavam dentro daquela quadra Bárbara estava uma verdadeira princesa.

Não dá pra negar o quanto ela é diferente das meninas daqui. Ela é linda, gostosa, educada, delicada. As meninas daqui até tem umas bonitas mais a maioria é dragão, ou são gordas ou magras de mais, educação e delicadeza passam longe da maioria. Não vou mentir e dizer que nunca peguei ninguém daqui de dentro pq eu já peguei, mais a maioria foi de fora, por isso nunca tive um relacionamento duradouro, primeiro pq nunca gostava da menina o suficiente, segundo pq elas davam mó trabalho quando eu dizia que era do morro.

Agora com a Bárbara as coisas são diferentes. Ela não se importou com o fato de eu ser do morro e a prova tá aqui, ela veio ao baile! E da maneira mais linda.

Pedro caminha com as meninas até onde eu estou e vejo os olhares dos meninos pra cima delas. Pedro também percebe e já chega apresentando Becca como sua namorada. Então os olhares foram todos pra Bárbara, passei um braço em sua cintura e a puxei pra mim, ela colocou uma das mãos em meu ombro direito e o olhar dos meninos passou de desejo para estranheza
- Essa é a Bárbara, não quero ninguém de gracinha pro lado dela entenderam? - os meninos balançaram a cabeça positivo - Ótimo, agora vamos entrar 

Quando adentramos a quadra, coloquei Bárbara na minha frente e segurei firme sua cintura com as duas mãos e guiei ela até o camarote. Lá cada um escolheu sua bebida e fomos pra uma parte menos cheia pra dançar. Bárbara estranhou o fato de todo o baile ter a encarado e o bocão do Pedro disse que eu era filho do dono. EU queria contar pra ela e de preferência em outro momento. Vi que ela se assustou e a puxei mais pro canto
- Aquilo que o Pedro disse é verdade?
respirei fundo
- Sim. Eu ia te contar, mas não assim, não aqui!
Ela não disse nada, mas dava pra ver que estava assustada. Me aproximei dela na intenção de acalmá-la, mas ela recuou
- Ei, não precisa ter medo! Não vou fazer nada contra vc e nem vou deixar que os outros façam, pelo menos não aqui
dentro

Ela não disse nada, só me encarou e me abraçou. Retribui fortemente seu abraço pra que ela perceba que eu não quero fazer mal algum a ela, muito pelo contrário.

Nunca senti isso com ninguém. Nunca me senti tão em casa dentro de um abraço como agora! Já não é preciso dizer mais nada, as ações e os olhares já dizem por si só. Não adianta negar, querer esconder a verdade, eu estou gostando dela de um jeito que nunca consigui gostar das outras.

Me solto dela e beijo sua testa
- Acho que gosto de vc - ela disse e encosta na grade que dá visão a pista
- Eu não tenho essa de acho - me encosto ao seu lado, agora ambos estão olhando pra pista cheia de gente dançando e se divertindo
- Oq vc quer dizer com isso?
- Quero dizer que eu gosto de vc - dei ênfase no 'gosto'

Ela não diz nada e seu silêncio me incomoda.
- Sabe seria bom se vc dissesse alguma coisa
- Não tem a nada ser dito - ela olha pra mim mas eu não tiro os olhos da multidão
- Tem certeza?
- Sim - sua voz sai trêmula.
Fecho os olhos, levanto a cabeça e respiro fundo. Ela desencosta da grade e ameaça sair mas eu seguro seu braço sem força
- Pra onde vc vai? - Só então eu a encaro e vejo seus olhos marejados
- Pra casa. A noite pra mim acabou aqui!
- Posso pelo menos te levar?
- Se vc quiser - ela dá de ombros

Solto seu braço e a gente sai daquele canto
- Amiga eu vou pra casa tá? - ela avisa Becca
- Aconteceu alguma coisa?
- Amanhã a gente conversa, bjo - elas se abraçam
- Já eu colo aqui de novo - falo pro Pedro
- Jaé
Eu e Bárbara saímos da quadra e fomos até minha moto
- Vc me espera aqui? Eu vou buscar o carro já volto
- Tá bom
Subo na moto e desço o mais rápido possível pra casa, pego meu carro e volto pra quadra. Paro o carro e ela entra em silêncio no mesmo.

Os 20 minutos que ficamos dentro do carro até chegar na casa dela foram tensos. Ninguém disse uma só palavra, o único ruído era o da música que estava tocando sempre estarei - Mc Livinho (Da onde surgiu essa música no meu pen drive?) A música em si era até legalzinha. Vi a Bárbara fechando os olhos uma hora, como se estivesse imaginado alguma coisa.

Estaciono em frente sua casa. Ela olha pra fora e depois pra mim
- Obrigada pela carona - ela sorriu sem mostrar os dentes
- De nada - sorri de canto
- Desculpa por hoje, eu...
- Vc não precisa se desculpar - interrompo ela
- É meio confuso tudo isso pra mim, a gente se conhece a menos de 2 meses e eu já sinto por vc algo que nunca senti por ninguém antes. Eu preciso pensar sobre o assunto pra não tomar decisões precipitadas - ela tenta se explicar e eu sorrio com seu jeito
- Ei vc não precisa se explicar, eu entendo isso perfeitamente, também está acontecendo comigo. Eu só acho que deveríamos tentar
- Eu realmente preciso pensar
- Tudo bem - me por vencido - Me liga quando essa confusão de sentimentos estiver menor?
- Ligo - ela sorriu

Espero que sua ligação venha rápido! - penso

- Thau - ela beija minha bochecha
- Thau
Ela se vira e sai do carro. Fico ali até ver ela entrar e depois saio cantando pneu de volta pro complexo. Nem vou voltar pro baile. Minha noite também já era, agora eu preciso de um tempo sozinho pra organizar a cabeça.