Capitulo 01

10 0 0
                                    

— Bom dia, Bela Adormecida — o garoto loiro dos olhos azuis dizia abrindo a cortina do quarto, permitindo que a luz invadisse todo o ambiente.
— Que merda, Mike! — Ian balbuciou, tampando o rosto com o travesseiro.
— O dia já clareou, songbird. — sentou-se na cama, com um sorriso largo estampado no rosto. –— Esqueceu do showzinho no Josh's é?
— O show é hoje? – abriu um dos olhos, dando de cara primeiramente com o irmão mais novo, Carl, lhe encarando, depois com os olhos azuis de Mike.
— Daqui a seis horas, pra ser mais claro — olhou o relógio.  — Temos que repassar as músicas.
— Me espera lá embaixo então. — Ian sentou-se, coçando a cabeça. Seus olhos estavam pesados, circulados por olheiras.
— Ok, só não demora, seu gay — Mike disse bem humorado, fazendo com que Ian mostrasse o dedo do meio, antes de fechar a porta.
O garoto se levantou um pouco pálido. Depois de treinar com os The Views (sua banda) até as quatro da manhã, depois de sair da festa de alguém que nem sequer conhecia, ele voltou para casa e jogou-se na cama, apagando logo em seguida.
Olhou-se no espelho antes de entrar para o chuveiro. A aparência pálida e doente de seu rosto com certeza já tinha se espalhado por todo o corpo. Tomou uma chuveirada rápida enquanto escovava os dentes, se arrumando quase mecanicamente pro ensaio.

— Olha, bibas, não vão me desapontar — Josh disse pros outros dois integrantes da banda.
— Claro que não, cara. Quero sair daqui pelo menos com três groupies — Mike deu um sorriso insinuante, enquanto Ian tentava levantar sua calça dois números maior inutilmente, depois olhando para o lado.
— Falando em groupies... — murmurou, vendo duas garotas se aproximar.
Josh's era um pub pequeno, apesar de quase sempre comportar muitas pessoas. Tinha várias cadeiras, mesas e um palco baixo de madeira, onde as bandas se apresentavam.
Ian mirava as duas garotas se aproximando: Uma loira com um pequeno short jeans e uma blusa preta colada, deixando a mostra seu piercing no umbigo, essa era Caitlin; A outra morena, um pouco mais baixa, com um vestido vinho tão curto quanto, essa seria Hillary.
— E aí, rapazes? — a primeira disse, se apoiando no braço de Ian, que fez pouco caso de sua presença.
— Vieram desejar boa sorte, lindas? — Mike perguntou dando um sorriso torto. Hillary deu uma risada, apoiando-se em seu ombro assim como Caitlin fazia com Ian.
— Toda sorte do mundo — Caitlin aproximou-se mais ainda do rapaz, que não a olhou.
— O mesmo digo eu — Hillary virou o rosto de Mike para si, dando-lhe um selinho longo.
— Caras — o gerente do pub chamou, o local estava começando a encher de pessoas. — Está na hora do show.
— Boa sorte — Caitlin disse. — Espero que tenham um tempinho para nós depois —fez bico.
— A noite é uma criança — Josh brincou, dando um sorriso.
O homem já subia ao palco com um microfone. Nesse momento pelo menos dois terços do pub já estava ocupado.
— Boa noite, senhoras e senhores. Essa noite o Josh's tem o orgulho de apresentar: The Views!  —os garotos subiram ao palco.
Do outro lado do Pub, um rapaz entrava de mãos dada com uma garota, para guiá-la no meio das pessoas.
A garota observava todas as pessoas com atenção. Queria gravar todos os detalhes possíveis: O calor do pub, a animação das pessoas, o rock vindo das guitarras e baterias da banda. Usava um vestido salmão e um blazer preto, enquanto o garoto vestia uma blusa verde e calça jeans.
— Isso é demais! — disse sorrindo, chegando ao balcão onde tinham duas cadeiras vagas, como o esperado pelo menino.
— Você ainda não viu nada, gatinha — sorriu. — Você está conseguindo ver a banda daqui? — a garota levantou um pouco o pescoço, avistando várias cabeças a sua frente e enfim, a banda.
Assentiu, passando os olhos com cuidado em cada integrante. Um em especial lhe chamou a atenção.
Durante as quatro músicas seguintes, a garota bebia seu copo de cerveja observando-o em cada movimento.
O garoto tinha ombros largos e a pele um tanto pálida. Possuía as bochechas levemente rosadas e os lábios que seguiam o mesmo tom.
— Quem é ele? — o rapaz ao seu lado perguntou para a menina no exato momento em que seus olhares se cruzaram.
— É o Ian — ela respondeu sorrindo.
Ian perdeu o ritmo. Todos os sons que não fossem de seu coração lhe pareciam alheios. Era ela. Mas o que ela estava fazendo ali com outro cara? Já tinha parado de tocar. Sabia que Josh e Mike se enfureceriam com o seu ato, mesmo que faltasse apenas mais uma música para o final da apresentação.
A garota encarava-o curiosa, apontando em sua direção e comentando alguma coisa com o rapaz ao lado. Rapaz? Ele o conhecia. Aquele era... Schibosky! Claro. Da sua escola. Mas o que ele estava fazendo com ela?
Ian sussurrou seu nome, largando seu instrumento musical e descendo as pequenas escadas do palco com as pernas trêmulas. As pessoas e os caras assistiam-no estáticas.
— O que você pensa que está fazendo?! —Josh berrou.
— Eu preciso... — voltou seu olhar novamente em direção a porta.
— Volte para lá, agora! — disse apontando pro palco, onde Mike e os outros integrantes o olhavam com reprovação.
— Eu preciso de um tempo.
Ian provavelmente não havia notado quanto tempo ele havia passado do lado de fora, mas certamente foi muito. Mike provavelmente estaria furioso, ou estaria se atracando com alguma garota dentro do banheiro.
E ele, estava ali. Na parte de trás do Pub.
— Tá... — ele choramingou, andando de um lado para o outro. — Eu não sei como começar a te dizer isso, mas eu... Eu gosto muito de você. Gosto de como você fala, como você anda, como você respira — ele parou por um segundo e bufou. — Tá, isso foi estupidez... Eu...
— Com quem você tá falando? — uma voz soou, interrompendo-o de seu discurso. Ele quase deu um pulo e espiou a morena de olhos escuros que o encarava enquanto se encostava no muro de tijolos amarelados.
— Lou — ele falou, aliviado. — Ainda bem que é você.
— Não, ainda bem não — ela riu. — O que quer que você estivesse fazendo, é melhor parar, por que foi constrangedor.
— Você me assustou — ele admitiu.
— Desculpa.
— Não, tudo bem. Eu... — ele encarou o chão por alguns míseros segundos. —Eu pensei que estava sozinho.
— Estava falando sozinho?
— Não — ele agitou a perna. Era clássico que ele fizesse isso, ele estava constrangido.
Ele bufou e começou a andar em círculos. Ian Gallagher tentava se concentrar para lembrar do discurso que havia ensaiado por algumas horas, mas que pareciam ter sumido da sua cabeça de uma hora para a outra. Maldita hora em que mandou aquela cartinha miserável para Jane, e agora ele mal podia olhar para ela sem ficar petrificado. Era Jane. Mas não era só uma Jane; era Jane Wassex. Assim como seu nome dizia, SEX. Ela era linda. O tipo de garota que você quer levar para casa e fazer qualquer sacanagem que pudesse passar pela sua cabeça, mas ele não conseguia pensar em nenhuma.
Talvez ele fosse gay.
Não, definitivamente não era isso.
— Para — a voz de Lou soou pela rua enquanto Ian caminhava de um lado para o outro. — Você está começando a me deixar irritada.
— Desculpa.
— Ian, para! — ela exclamou chamando a atenção do rapaz. — Senta essa sua bunda branca aqui.
— Não consigo me sentar — ele voltou a caminhar de um lado para o outro.
— Você devia contar para ela.
— É claro Lou, e levar um fora de brinde — ele bufou. — Ela vai sair com o Tyler Schibosky hoje. Ela chegou com ele, e vai sair com ele.
— Não pode culpa-la, né? — ela tentou segurar o riso. — Ele é um gato!
— Obrigado Lou, minha auto estima caiu de zero para menos cinco.
— Você mandou uma carta pra ela.
— Mandei — ele pigarreou. — Podemos mudar de assunto?
— Imagina ela com a fantasia dourada da Princesa Leia.
— É desse jeito que você muda de assunto? Não posso imaginar ela assim! — disse o ruivo revirando os olhos.
— Como não? — ela riu. — É tão fácil.
— Sei lá, é falta de respeito. — Ele deu de ombros, bufando.
— Ian — disse a morena, revirando os olhos. —, existem dois tipos de garotas. A vadia e a virgem. Com a vadia você pode ter sonhos sexuais que quiser, com a virgem não.
Tratava-se Jane. Janie. Ela fazia aula de música ao lado de Ian; enquanto ele tocava violão ou qualquer outros instrumentos, ela cantava. E que voz linda ela tinha. Além disso, ela tinha cabelos tão escuros quanto a noite e a pele bronzeada, sempre com um sorriso enorme no rosto.
Pelo menos Ian a via assim.
Lou apenas a via como uma garota descaradamente louca por atenção, que fazia questão de sair com mais de dez caras por semana para suprir sua falta de auto-estima.
— E a Jane é qual das duas?
— Ora qual, a vadia — Lou o respondeu.
Ian caminhou na direção da amiga e sentou-se ao seu lado, na calçada, encostado na parede de tijolos. Ele pensava no que mais gostava nela, e no quanto ela era bonita. Ele gostava da maneira que ela sorria e que ela botava o cabelo atrás da orelha quando estava envergonhada. Ele se perguntou se ela tinha feito isso quando leu sua carta, mas depois pensou no quanto era estupidez. Depois que isso saiu da boca de Lou, era difícil não pensar como estupidez. Ele já foi muito bom em redação, e era muito bom compondo suas musicas, mas aquilo foi ridículo.
— Era melhor ter composto uma música para ela, não era? — perguntou e Louise riu do amigo.
Acho que seria melhor que escrever uma carta — Lou fez um pausa e vasculhou sua mente à procura de mais informações que fossem ajudar o amigo. — Na realidade, ela não quer saber o quanto você gosta dela por ela ser a "garota da casa ao lado" — ela fez aspas e continuou: — Acho que ela está mais assustada que você e não deve saber o que está acontecendo. E ela só queria que você fosse direto, dando a ela uma certeza de algo.
— Uma certeza de algo? — Ian interrompeu os pensamentos da amiga.
— Certeza de que mulheres se apaixonam mais rápido, mas homens se apaixonam profundamente — ela o encarou por alguns segundos. Ele continuava do mesmo jeito desde que se conheceram. Devia ter crescido uns sete ou oito centímetros de um ano para cá. Tinha as mesmas sardas rosadas no rosto, mas parecia que elas sumiam cada vez mais. Uma pena. Era uma graça.
E tinham os olhos.
Os mesmo olhos verdes que olharam para ela com enorme curiosidade quando se conheceram, mas que agora encaravam o asfalto.
— Qual a porcentagem de virgens na nossa idade? — ele perguntou.
— Até que é boa — ela respondeu. — Não se desespera, virjão, sua hora vai chegar — ela disse dando dois tapinhas na costa do amigo e levantando-se para fazer algo melhor.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Aug 27, 2016 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Kids'Where stories live. Discover now