Capítulo 9 - A Terra Baixa

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Estando o rei fora e Leander longe das obrigações, tomaram café no lugar de costume e depois foram para a varanda conversar. Sâmia estava com o estômago embrulhado e não conseguia comer uma uva sequer, e sentiu mais enjoo ainda quando Leander lhe ofereceu uma bebida para ajudá-la a relaxar:

— Experimente, Sâmia, é Cidra do campo, como champanhe em seu mundo.

A garrafa era de vidro e ela achou que parecia uma poção daquelas que se vê em laboratórios de filmes científicos. Com o fundo redondo e um gargalo longo e muito fino, exalava um aroma delicioso. Embora Sâmia não acreditasse que beber a ajudaria em nada, não quis recusar a oferta de Leander.

Apenas tocou sua taça com os lábios e passou a língua pelo líquido azulado e, em segundos, sentiu sua cabeça rodar. A taça caiu de sua mão trêmula e seu corpo foi derrubado, sofrendo terríveis convulsões. Em meio à dor, ela mal podia distinguir as vozes, e ouvia frases cortadas enquanto lutava para respirar.

— Rápido!

— Foi Cidra do campo?

— Mandem buscar um antídoto!

— Ela é alérgica! Rápido!

Estava quase perdendo os sentidos quando sentiu sua boca sendo aberta com violência e algo sendo espremido dentro dela. Sentiu um gosto amargo e começou a tossir compulsivamente. Aos poucos, sua visão foi melhorando e a dor diminuindo. Leander estava com sua cabeça apoiada em seu colo e os olhos dele mostravam a aflição por ter sido tão irresponsável.

— Sâmia, me perdoe, eu não sabia.

— Não sabia o quê? O que aconteceu?

— Essa bebida... jamais pensei que afetasse também os mortais.

— O quê?

— Cidra do campo, alguns daqui são alérgicos e, se beberem uma dose razoável, podem chegar à morte.

Leander ajudou Sâmia a se levantar e perguntou se ela gostaria de ser levada de volta ao quarto.

— Não, estou bem. Na verdade, nem tomei muita coisa; aliás, mal senti o gosto.

— Mas deveria se deitar mesmo assim — disse Alethea, que entrava com uma bandeja contendo um copo com água. — Aqui, menina, beba isso e depois vá para seu quarto. Repouso absoluto é o que você precisa.

— Não é necessário, estou bem melhor.

— É o que pensa. Você é alérgica e o efeito dura vinte e cinco horas. Você vai voltar a se sentir mal em breve.

Sâmia agradeceu e se apoiou no braço de Leander para voltar ao seu quarto enquanto Alethea chamava uma criada para apanhar a taça quebrada. Já estavam saindo da sala quando Sâmia ouviu Alethea dizer a uma das criaturas do xadrez:

— Sabe que o rei é alérgico. Não se esqueça de avisar a princesa Rafaela que tome cuidado, não queremos que outro incidente como esse ocorra, entendido?

Alethea estava certa: Sâmia passou a metade do dia sentindo enjoo e mal podia se levantar da cama. Cerca de três horas da tarde já não tinha certeza se o mal-estar era resultado da tal cidra do campo ou do jantar que se aproximava, pois teria que ver o rei. Teria ele voltado? O que estaria fazendo? Por que não a mandou embora? Faria isso agora?

Fez um esforço e se levantou. Remexeu na mala e abriu sua caixa de joias, segurando firme, na palma da mão, dois brincos de esmeraldas. Tinha que consertar aquela situação. Pela primeira vez, sentiu remorso, afinal, ela sabia qual era a dor de ter perdido uma mãe e ter uma única lembrança deixada. Saiu pelos corredores e seguiu em direção ao jardim, onde, logo na entrada, avistou um guarda.

Ciclos Eternos - Submundo Livro 1 COMPLETOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora