Capítulo 1

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Ross's P.O.V.

Acordo com um bip irritante aos meus ouvidos. Demoro algum tempo a perceber onde estou e por que razão ouço barulhos estranhos à minha volta. Sinto-me demasiado cansado para abrir os olhos. Só sei que tenho frio e que estou com pouca roupa vestida. Onde estou?
Os meus pensamentos são interrompidos quando ouço uma porta a abrir. O meu coração começa aos saltos, com pânico. Então, os bips acompanham o ritmo do meu coração. Oh, já sei onde estou: estou num hospital.

-Ross...– ouço uma voz suave e atrevo-me a abrir os olhos.

Diante de mim tenho uma rapariga morena, o cabelo a bater-lhe pelos ombros, com olhos castanhos da cor das avelãs. Ela abraça-me e eu não sei o que fazer, sinto-me ainda mais desamparado. A máquina começa a apitar cada vez mais depressa ao ritmo do meu coração. Ela parece não reparar nesse pormenor; está demasiado ocupada a envolver o meu corpo com os seus braços magros.

-Estava tão preocupada contigo!– diz quando me solta, passando uma mão pelo cabelo ondulado.

-O que aconteceu?– pergunto.

-Tu...

Vejo que ela não sabe o que dizer, tem algo difícil para me contar. Ainda não me recordo de quem é ela, mas então o meu cérebro lento começa a ser invadido por memórias.

-Laura...– a minha intenção não é chamá-la, só quero pronunciar lentamente o nome dela para ver se a figura dela se adequa ao nome.

-Diz?

Abano a cabeça negativamente. Como já disse, não queria chamá-la. Mas a reação dela prova que se chama Laura. Seremos amigos?

-O que aconteceu?– repito.

Ela olha para o lado, as lágrimas a ameaçarem cair. Tenho vontade de me levantar daquela cama, de a agarrar, de a abanar e tentar perceber o que aconteceu comigo.

-Tu e o Ellington tiveram um acidente de carro... Estavam só vocês os dois no carro e um camionista que estava bêbado atingiu-vos. Foi quase fatal.

Ela aproxima-se mais e passa a mão pelos meus cabelos loiros, que devem estar num estado lastimoso. Demoro algum tempo a perceber quem é o tal Ellington, mas de seguida tudo muda, o meu cérebro recupera todas as memórias. Fico atordoado por alguns momentos. Foi estranho acordar sem me lembrar de nada, mas agora, toda a informação da minha vida atinge-me como um tiro. Ellington é o meu melhor amigo, o namorado da minha irmã Rydel.
De repente, alguém entra no quarto. Laura olha para o lado, seguindo o meu olhar. Riker, Rocky, Rydel, Ryland e os meus pais estão a espreitar à porta e finalmente decidem entrar. As bochechas de Laura ficam imediatamente ruborizadas e eu finalmente percebo toda aquela preocupação comigo. Ela não é uma simples amiga, está apaixonada por mim, e supostamente eu devia estar apaixonado por ela. Então... Por que razão é que olho para ela e tudo o que sinto é apenas uma grande simpatia?

-Então, mano?– Riker aproxima-se e dá-me um murro leve no braço.

Rydel é a que está mais ao fundo do grupo, encostada à parede branca do quarto. Esteve a chorar, nem parece a minha irmã. Rydel preocupa-se imenso com a aparência que tem. Está sempre a maquilhar-se, a tratar do cabelo loiro e veste-se de acordo com a moda. No entanto, hoje não parece a minha irmã. Rydel está com o cabelo liso, no seu estado normal, quase que não tem maquilhagem no rosto e usa apenas uma T-shirt branca descaída num dos ombros e uns calções de ganga rasgados.

-Como estás?– pergunta-me a minha mãe, envolvendo a minha mão com a dela.

Laura está sentada na borda da cama a olhar para mim com carinho. Sinto um desconforto crescente dentro de mim. Não tardará muito até que ela perceba que eu não sinto o mesmo que ela, ou que sentia. De alguma maneira, este acidente de carro de que não me lembro mudou-me.

-Eu estou bem, mas e o Ell?

A minha mãe olha para trás, para todas as minhas visitas. Todos me estão a mentir, a ocultar coisas que preciso de perceber. Agora, olhando demoradamente para cada um deles, vejo que estão todos com um ar abatido. Nem o meu irmão Ryland, que costuma ter sempre um sorriso brincalhão no rosto, parecia feliz.

-Contem-me o que se passa!

Inesperadamente, Rydel avança para perto de mim. Todos a olham como se ela tivesse três olhos em vez de dois. Ela esteve a chorar bastante. Está mal, e se pudesse, abraçava-a, mas estou cheio de tubos que me prendem a máquinas.

-Ele está em coma.– é tudo o que diz, parecendo que cospe veneno.

Tenho vontade de arrancar tudo o que me prende àquele quarto. Quero levantar-me, quero ir ver Ellington, quero ter a certeza que ele pode acordar.

-O que vai acontecer?– é tudo o que pergunto.

-Os médicos ainda não têm noção dos danos provocados, Ross. Ele vai ficar bem, garanto-te.– Laura aperta-me o antebraço.

Quero chorar, quero estar sozinho, quero pensar e voltar a pensar. Preciso de decidir o que fazer. Há algo dentro de mim que me está a atormentar.

-Por que razão não me lembro de nada do dia do acidente? Não me lembro de sair de casa, de conduzir, de estar com Ellington, de ver o camião... Não me lembro de nada!– levo ambas as mãos à cabeça e espeto os dedos na cabeça como garras, como se pudesse arrancar o meu cérebro e estudar o seu funcionamento estranho.

-Os médicos avisaram que isso podia acontecer. Possivelmente irás recuperar essas memórias com o passar do tempo.

-Sabem para onde íamos?

Rydel olha para o lado. Quase que posso jurar que está com raiva.

-Vocês levavam malas, iam em direção a Las Vegas.

Cada informação adquirida confunde-me casa vez mais. Eu e Ell em direção a Las Vegas? Juntos, sem mais ninguém? Não faz sentido nenhum.

-É melhor descansares.– Laura diz. Depois, inclina-se em direção a mim e beija-me a testa.

Não sinto nada.

If I Can't Be With You | Rosslington Fanfic | PTWhere stories live. Discover now