Módulo I: Términos e Traições

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Começo do ano de 2006.

Mari namorava Dani Vieira há quase 4 anos. Não sentia mais amor por ela e sabia disso, o que não sabia era como faria para terminar, pois Dani ainda era super apaixonada por ela.

A loira resolveu chutar o pau da barraca, não sentia mais nada e começou a trair Dani descaradamente. De todas as traições, Fabizinha foi a que mais "marcou", elas eram amigas, sempre foram, adoravam rir e brincar juntas, uma coisa levou a outra, e quando viram, já estavam vivendo seu momento "amigas de cama".

A amizade colorida ficou séria pelo tanto que se repetia, mas era algo completamente carnal, não tinha nada sentimental além da amizade.

Mari passava dias na casa da Fabi, e a líbero até visitava a família da loira. Inclusive, durante a entrevista ao Esporte Espetacular daquele ano, Fabizinha lá estava, claro que não apareceu na entrevista, mas estava e não houve fã bem informado do vôlei que não comentasse o quanto aquela presença significava.

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No final de Maio, Mari resolveu pedir um tempo para Dani, deixou claro que passaria o mês de Junho todo com a seleção e precisava pensar sobre elas, a morena ficou desesperada, sem saber o que fazer, mas o medo de perder Mari era maior, por isso, acabou aceitando. Dani sempre preferiu a loira sendo sua namorada do que a própria cabeça sem chifres.

Profissionalmente, a loira estava feliz, era convocada depois de longo tempo sem a seleção por conta de sua cirurgia no ombro direito. Mas sua vida pessoal, estava desmoronando.

A viagem aconteceu, Mari foi para Itália, jogar o amistoso no início de Junho de 2006, Sheilla também foi convocada, não conhecia a loira muito bem, mas sempre sentiu curiosidade por seu jeito diferenciado em quadra, ainda mais curiosa ficou por saber, por meio de suas colegas de profissão, que Mari fora das quadras era alegre, bem humorada e possuía uma vida amorosa bastante agitada e comentada.

A seleção se encontrou. Todas estavam felizes e com enorme vontade de interagir, por isso, todas as noites que podiam, ficavam conversando durante horas, tocavam violão, cantavam e aproveitavam para conhecer um pouco mais da vida uma da outra.

Sheilla notava o quanto Mari era peculiar, dentre todas, a mais diferente, reservada e ao mesmo tempo expansiva. A mineira olhava para a loira e lembrava do apelido das quadras: "a mulher de gelo", mas não conseguia ver aquela frieza característica ali. Mari brincava, fazia caretas, sorria aberto e algo nela despertava uma imensa vontade na morena, a vontade se aproximar, de entender quem era aquela mulher que passou por tantas críticas, que teve seu comportamento em quadra tão comentando pela mídia e que despertava paixão entre os fãs do vôlei. Na cabeça de Sheilla, a curiosidade quanto a loira era completamente normal, afinal, quem não desejava decifrar a mulher por trás daquela jogadora tão diferenciada?

A morena não se fez de rogada e com o jeito mineiro, aproximava-se tanto de Mari como do resto do time. Sendo uma figura querida entre jogadoras e comissão técnica, rapidamente.

Enquanto isso, Mari e Fabi continuavam com a amizade colorida. Todos sabiam q as duas eram muito mais do que simples amigas, mas entendiam perfeitamente os termos dessa relação, embora nem todas ficavam à vontade com a forma com que os relacionamentos lésbicos eram "assunto corriqueiro" na seleção.

Sheilla soube dos boatos e termos desse relacionamento colorido, mas não entendia muito bem como a namorada de Mari lidava com isso e como a loira não parecia se importar em manter segredo sobre o caso. Achava estranho a distância de Mari em relação a namorada, já que a loira estava com a seleção há dias, pois além do amistoso, jogaram o torneio de Montreux e ainda não havia sabido de Mari se comunicando com ela.

- Mari, não te vejo ligando pra Dani ou falando dela. Tá tudo bem? Ainda estão juntas?

Apesar da proximidade entre elas ter aumentado, a loira ficou surpresa pela pergunta íntima.

- Não estamos bem! Pedi um tempo...Quero procurar uma forma de terminar, mas tô achando que isso só vai acontecer se ela acabar tomando a iniciativa!

- Bom...Espero que tudo dê certo...

Mari a olhou e esperou, pois percebeu que Sheilla pensava se falava ou não algo.

- Estava pensando e, bem, de repente...seria ótimo você vir para a Itália! Meu clube, o Pesaro, está atrás de boas contratações, ainda mais do seu nível e seria maravilhoso ter você por lá. O Zé virá nos comandar também, seria bom para sua carreira...e para a sua vida pessoal.

- Minha vida pessoal?

- Talvez, com esse afastamento, a Dani perceba que é melhor terminar.

Sheilla falou sem ao menos pensar na resposta e ficou encabulada no segundo seguinte.

- Sério? - Mari pensou um pouco - É...até que seria ótima ideia, e o Zé estando lá me sentirei mais em casa, já q você, dona Sheilla, o convenceu a aceitar o trabalho de técnico no Pesaro.

- Pense com carinho...quem sabe não consigo te convencer também?!

- Não tenho uma proposta formal, Sheilla!

- Ainda não tem!

Mari sorriu, ela gostava dessa Sheilla impetuosa, com jeito de quem sabe o que quer. A loira ficou de pensar caso recebesse uma proposta e logo saiu atendendo o chamado de Zé. Assim que ficou só, Sheilla abriu um sorriso, pensando na loucura que estava fazendo, pois naquele momento, ajudar Mari era a última coisa que passava por sua cabeça. Ela sentia algo por Mari e a cada dia ficava mais curiosa a seu respeito. Ela estava envolvida de alguma maneira pela loira e sentia essa necessidade de descobrir o que era tal sensação. Pagaria para ver, pois era teimosa e curiosa o suficiente para saber o que era essa conexão.

A oposto não levou muito tempo para conseguir um telefone e ligar para seus contatos do Pesaro, falando de Mari. O clube adorou a ideia, comprou a sugestão de Sheilla, consultou Zé Roberto e no dia seguinte o executivo brasileiro responsável pelas contratações entrou em contato com a loira diretamente.

O que Mari estranhou completamente nessa conversa é que o representante do Scavolini Pesaro deixou claro que a informação passada por Sheilla frisava o quanto a loira queria jogar na Itália. Foram quase 2 horas no telefone, o representante não desistia, até que Mari se convenceu pela ótima oferta do clube. Realmente as vantagens contratuais seriam escandalosamente maiores do que se renovasse com o Osasco. Mari não sabia se foi a influencia de Sheilla, a chance de treinar com Zé e aumentar a possibilidade de voltar a jogar em alto nível na seleção, se o comportamento da torcida do Osasco que pegava no seu pé desde a lesão ou se a excelente fuga para seus problemas pessoais, mas ela simplesmente se ouviu dizendo sim para a proposta, deixando o representante eufórico, prometendo que não haveria arrependimentos. Finalmente a ligação terminou e a loira ainda olhava para o telefone sem entender a própria decisão.

Mari andava pelos corredores pensativa, não conseguia parar de se questionar sobre o que acabara de fazer sem sequer consultar sua família e amigos mais próximos e pensando na atitude de Sheilla em ligar realmente para o clube e até mentir para ela sobre as contratações para aquela temporada. Diferente do que a morena havia falado sobre o clube querer contratar boas jogadoras e que isso, realmente era uma necessidade para eles, o representante deixou bem claro q só ligou porque se tratava de Mari e de um pedido especial de Sheilla, pois as contratações já haviam se encerrado e eles não estavam realizando mais qualquer proposta e sequer tinham um planejamento para uma contratação inesperada como aquela.

Naquele momento, ela se tocou que Sheilla poderia ter razões pessoais para querer sua ida para Itália. A loira não cogitou a possibilidade de interesse nela, pois Sheilla era noiva há 8 anos, além de nunca ter ouvido qualquer boato dela com outra mulher. Para ela era até ridículo e presunçoso pensar em algo assim. Não que ela não reparasse na morena, mas o pensamento que Sheilla pudesse ter qualquer atração por ela parecia hilário.

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