O Antes - 1°

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Era domingo à noite, a semana estava pra iniciar e o desânimo começou a vir sutilmente, querendo tomar conta. Então, como de costume, fui arrumar minha mochila da escola para o próximo dia de aula e me preparar para dormir. Tinha sido um dia exaustivo...

No dia seguinte, acordei com um clima suportável, a não ser pelo ar gelado que entrava pelas frestas abertas da janela, já que estávamos só no começo do inverno. Levantei, me vesti, comi algo rápido e fui pro ponto de ônibus, e era assim que a segunda-feira me recebia.
Minha manhã veio acompanhada de um ônibus lotado na volta do colégio, e com mais e mais deveres pra fazer.

Ao chegar em casa, mal consegui almoçar, deitei na cama e comecei meus questionamentos sobre a vida: Será que não passava daquilo? De afazeres diários, de uma vida monótona, talvez uma tradição que estamos pré-destinados a traçar?
Bom, eu estava no 3° ano do ensino médio, ainda indecisa entre cursar Fisioterapia ou Nutrição, enfrentando a cada dia problemas de família, como o da minha mãe que sofria de depressão, junto com meu pai alcoólatra e minha irmã mais nova em uma fase rebelde dos seus 11 anos. Todos esses pensamentos me levavam somente a um desejo: Paz, e segurança para viver. A rejeição dos meus pais ainda me magoava profundamente. Não sabia mais o que fazer. Todos os dias, era Clara pra cá, Clara pra lá, e parecia que não havia motivos para sorrir.
Naquela tarde pensei muito à respeito de sonhos, e não pude chegar a nenhuma conclusão, pois eu estava praticamente morta para sonhar. Até que peguei no sono.

(...)

Mais tarde ouço passos apressados vindo do corredor de casa, era minha irmã que acabara de chegar do colégio e parecia estar andando em direção ao meu quarto.

(Toc-toc)
– Clara? Dá pra entrar? É urgente! - disse minha irmã ofegante.

Ainda sonolenta, abri a porta do quarto e perguntei:

– Aaan, o que foi Lia?

– Acabei de passar pelo bar da esquina e vi Papai quase caído no asfalto, provavelmente tentando voltar pra casa. Vamos até lá.

Ao ouvir isso, levantei imediatamente, não quis demonstrar qualquer reação de desapontamento, mas confesso que aquela frase havia me cortado ao meio.

– Fique aqui Lia, pode deixar que eu vou lá buscar papai.

– Tudo bem... - respondeu.

Peguei as chaves de casa, coloquei o casaco e fui a pé até a esquina de casa, onde me deparei com a cena do meu pai, com os olhos cansados e vermelhos de tanta bebida.

– Vem pai, o senhor precisa de um banho, vamos pra casa.

– Iiiiii se for pra me dar bronca nem saio daqui - disse tentando evitar olhar nos meus olhos.

– Vamos pai, por favor. - o chamo envergonhada.

– Tá mais só porque hoje o seu Zé não tá aqui - disse embriagado nas palavras.

Depois desse episódio, fui consolar minha mãe que estava no quarto chorando e não quis me contar o motivo.

Meus dias eram quase todos assim. A não ser pela minha vizinha que frequentemente aparecia lá em casa e me ajudava com palavras de consolo. Ela era meu refúgio, na maioria das vezes. Era com dona Amélia que eu podia contar, nos conhecíamos há uns bons 10 anos, desde que meus pais se mudaram para aquele bairro. Ela faz parte da minha criação.
Decidi dar uma passada ali para conversar e lhe devolver o pote que havia ficado comigo desde semana passada quando levei uns cookies para casa. (...)

– Licença, Dona Amélia? Já estou entrando.

– Olá Clara! - disse saindo do banheiro- Que bom que veio. E aí? Me conte como vão as coisas. Sente-se.

Fases de um PropósitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora