Capítulo I - A problemática do Maniqueísmo

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A Problemática do Maniqueísmo

Como é possível o Bem e o Mal pertencer à mesma substância?

Esta problemática invade a natureza do homem como presságios de incertezas constantes que aprisiona a finitude dos seus próprios sentimentos, não lhe permitindo contemplar a verdade em sua completude.

O maniqueísmo ao intuir a equivalência destas duas forças divergentes como valores escatológicos passam a afirmar que sua efetivação material dessa dualidade tem a garantia dos mesmos poderes de convergência, que se separam e se tornam definidos cada um deles pelo princípio da contradição.

Mani era um sacerdote Persa que viveu no séc. III e proclamou-se o Paracleto, aquele que devia conduzir a doutrina cristã à perfeição. O maniqueísmo é uma mistura imaginosa de elementos gnósticos, cristãos e orientais, sobre as duas bases da religião de Zoroastro.

Agostinho na obra Confissões direciona o caminho de sua investigação a respeito da busca da "pura verdade" ao redimensionar como são possíveis o Bem e o Mal pertencer à mesma substância. Como poderia em si uma substância gerar outra e pela diferenciação ter o mesmo princípio de forças equivalentes?

Mas teria podido conhecer a verdade, se meus olhos só atingiram o corpo e meu espírito não via mais do que fantasias? Não sabia que Deus é espírito e que não possui membros com medidas de comprimento e largura; nem é matéria, porque a matéria é menor em sua parte que no seu todo. Ainda que a matéria fosse infinita, seria menor em alguma de suas partes, limitada por um certo espaço, do que na sua finitude; nem se concentra toda inteira em qualquer parte, como o espírito, como Deus (AGOSTINHO, 1984, p.68).

Diante das deduções contraditórias do autor é perceptível que a condição de espaço delimita o homem a ficar trancafiado na própria finitude do mundo aparente. A garantia da sua liberdade se auto-afirma em perpassar os próprios limites da matéria.

Neste sentido, a concepção de Deus ao se manifestar invade as contingências materiais, presente no homem, para garantir que a própria contradição em si, presente nas das forças, não estão depositadas no homem sob o mesmo nível imanente. Daí sobressai que a elevação do Espírito presente na sua criatura humana não a aprisionou sob o julgo da aparência, porém emerge da sua posição moral: devo fazer o bem, mas a aplicação da minha vontade tende para uma ação má.

1.1- A origem do mal

Os maniqueus alimentavam uma postura vazia em relação à dificuldade para conceber a unicidade da substância, pela qual era impossível pensar a totalidade a não ser pela oposição dos autores do bem e do mal. Agostinho não admitia que a sua criaturalidade viesse da origem do mal, pois a beleza que sustenta a perfeição do universo e que, ao mesmo tempo, incorpora no homem o ápice de maior grau de perfeição sobre todas as coisas surgissem de alguém que fosse imperfeito. A prova da existência do mal provoca no autor o absurdo para entender o problema da criação:

Por outro lado, continuava a me perguntar: "Mas quem me criou? Não foi o meu Deus, que não somente é bom, mas é ele a própria bondade? Como explicar que a minha vontade tenda para o mal e não para o bem? Será isso uma punição justa? Quem plantou em mim esses germes de sofrimento e os alimentou, uma vez que sou criatura do meu Deus que é cheio de amor? Se foi o diabo, de onde ele vem? Se também ele tornou diabo por sua própria vontade perversa, ele que era um anjo bom inteiramente criado por um Deus de bondade, de onde lhe veio essa vontade má que o tornou diabo?" E eu ficava novamente deprimido diante de tais reflexões, e sentia-me sufocado, mas de modo algum arrastado àquele inferno do erro, (...), preferindo crer que estás sujeito ao mal a considerar o homem capaz de cometê-lo (AGOSTINHO,1984, p.163).

Agostinho e o problema do MalOnde as histórias ganham vida. Descobre agora