Introdução

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Introdução

"Libertas vera est Christus servire"

(AGOSTINHO.1984.p.207)

Durante o período de consolidação do cristianismo no Império Romano a Igreja Católica buscou alargar seu horizonte intelectual mesmo diante do perigo das heresias.

Muitos teólogos e filósofos cristãos trabalharam para justificar a fé cristã para os pagãos. Embora os pensadores modernos desconsiderem amiúde os escritos desta época que nos remete ao Concílio de Éfeso em 431 d.C; não podemos ignorar o papel desempenhado por Agostinho no período antecedente ao Concílio.

O filósofo Aurélio Agostinho viveu entre 354 e 430 de nossa era, durante a dominação romana, em uma colônia sem tradição, na província da Numídia, atual território da Argélia. Foi um grande pensador, por meio da investigação de temas como memória, sabedoria, Deus e destino, consagrou-se como um dos Pais da Igreja no ocidente.

A pesquisa contribuirá para que se compreenda o desenvolvimento da história, como o homem procura muitas vezes explicar a origem do mal partindo dos problemas políticos, econômicos e sociais. Cometendo vários abusos e atrocidades, a violência que toma conta das pessoas e o individualismo que degenera a essência humana pode ser entendido de acordo com a herança agostiniana como o corolário do rompimento da essência humana com o Ser Absoluto.

Esta relação com o absoluto se dá de forma necessária frente à constatação de que o homem decai no abismo do mal na medida em que ele tenta agir por conta própria.

Daqui depreende-se que o intuito maior desta pesquisa é demonstrar que a razão só encontra o repouso na revelação da fé, isto é, na correspondência do amor do amor pelo qual somos atraídos para Deus.

A importância deste trabalho reside no resgate de valores imutáveis no aspecto ontológico que influenciará indelevelmente a filosofia medieval na escolástica. Voltando à fonte da religião, a contextualiza na liberdade ética e substancial que Deus oferece por sua gratuidade: o amor, ele é o fundamento da reconciliação e potencializa pelo processo de "Iluminação Divina" a capacidade cognitiva do homem na busca pela verdade.

Neste trabalho, o tema que fora estudado, conduz a questionamentos que afirmam categoricamente que o mal não tem origem em Deus, mas é consequência da contingência humana, como também como um mal uso da liberdade. Neste mundo só Deus é perfeito. Até o cosmo está nesta linha de imperfeição. O bispo de Hipona diria que Deus é o sumo Bem, é o Bem eterno. Logo, se torna a causa de todo o Bem; em comparação, "mal é a privação do Bem", em virtude de sua causa primeira: contingência humana e cósmica.

Partindo unicamente do homem, Agostinho não isenta o homem da responsabilidade de seus atos. Veremos a questão do livre-arbítrio, como algo benéfico dado pelo Criador, onde a vontade tem a influência para determinar a escolha a ser feita entre o Bem ou o Mal e seu papel na existência do pecado.

O mal físico é percebido através das doenças no ser humano, é manifestada pelo sofrimento. O mal moral está direcionado e é o próprio pecado cometido, e depende da má vontade humana. Tendo o mal natureza deficiente, a vontade deveria voltar-se para o Bem supremo e Eterno. Com a existência dos bens finitos, a vontade se subverte não seguindo a ordem natural da criação; este mal coloca o homem totalmente contra o Criador, afastando-se e abandonando a graça. E por fim, o mal metafísico confirma o mal como sendo a privação de um bem devido à ordem natural, ou seja, um não-ser. Com este compreende-se a real finitude da criatura humana, e comprova-nos que os seus limites lhe são inerentes. Essa criatura muitas vezes sofre por causa dos seus limites, sendo que estes não podem ser considerados verdadeiramente um mal. Dessa forma, não se deve afirmar que Deus seja o criador do mal, considerando que os limites do ser criacional não são males. Pois o ser é bom em si mesmo. Deus é imutável, não é contingente, é perfeito. Isto é, Ele é o que É, e não deixa de ser, que é na sua essência. Logo, o mal não vem de Deus, se assim for o tornaria contraditório. Pode-se concluir que o mal é uma realidade inerente à condição humana e cósmica:

Eis o mal secreto que o ato exterior apenas tornou visível: o orgulho de ser para si mesmo sua própria luz, a recusa de ficar voltado para a verdadeira luz, que, contudo, fazia dele uma luz. (GILSON,2006, p.285).

O dualismo entre o bem e o mal evocado por Agostinho no período tardo-pagão nos mostra a profundidade do tema e a efervescência destes assuntos não somente no âmbito eclesiástico, mas também entre os filósofos desta época. Como por exemplo, o gnosticismo e o movimento maniqueísta. No presente estudo daremos maior atenção aos maniqueístas porque seus pressupostos ontológicos foram combatidos diretamente pelo bispo de Hipona.


Agostinho e o problema do MalWhere stories live. Discover now