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Felix caminhava com Justine pelos corredores, em direção ao refeitório. Não tinha jeito melhor no mundo de começar qualquer tour do que pelo lugar onde tem comida. Além disso, já poderia apresentar a nova aluna aos dois melhores amigos que se poderia encontrar em toda a escola. Certamente Marcel e a turminha dele passariam por ali também. Assim, Felix já poderia alertar a francesinha sobre quem não prestava.

— E então, Felix? Em qual ano você está? — e ele amou o modo como o nome dele soava na voz dela, com uma entonação diferente para "Fé", que se tornava "Fê".

— Eu estou no segundo ano, mas isso é bem relativo por aqui. Já te explicaram como o curso funciona?

— De forma bem genérica. Sei que são módulos e que são várias áreas, mas não sei bem quais. Sei que vou cursar algumas matérias de segundo ano e algumas de avançado. Me fizeram um teste lá na ALIEN da França e disseram que seria assim. Estou bem perdida, na verdade.

O queixo de Felix caiu:

— Vai começar direto em um avançado?

— Sim. Baralho avançado. A maior parte das mágicas que eu fazia era com baralho. Aprendi sozinha, procurando vídeos e manuais na internet. Era só um passatempo bobo. Olha só o que deu.

— Puxa! Que loucura. — ele estava espantado. — Vamos nos sentar, então. Logo vão servir o almoço e o Calixto e a Alicia vão chegar. Vou explicar como a escola funciona, enquanto esperamos.

— Obrigada, Felix. — e tocou o ombro dele, sorrindo. — Não achei que fosse encontrar alguém tão prestativo assim logo no primeiro dia.

— Err... não precisa agradecer. — e um silêncio um tanto constrangedor se seguiu. Felix não deixou que ele se prolongasse. — Pois bem. Por onde começar? O esquema aqui é bem tranquilo, na verdade. O que faz diferença é o talento da pessoa. Você, pelo visto, é uma gênia. — e Justine abaixou o rosto, fitando a mesa por alguns instantes, desviando o olhar. — Hmm... então, continuando: a ALIEN se divide em uma associação e uma escola...

— Sim. Essa parte me disseram bem. Toda a parte chata da coisa. Só não sei como funcionam as aulas e as pessoas aqui.

— Bem, Justine, com as pessoas eu receio que não vou poder ajudar muito. — disse Felix, pensando em quão socialmente fracassado ele era. — Sobre as aulas, o básico é que existem quatro carreiras padrão para se escolher. Ilusionismo, que inclui todos os tipos de mágicas e truques, além de laboratórios para turmas muito avançadas criarem novos truques e apresentações. Contorcionismo e exercícios, que forma contorcionistas, malabaristas, trapezistas e os outros "atletas" de circo. Palhaço, que não preciso explicar. Por último, mas não menos importante, tem a carreira de assistente de palco. Geralmente, os assistentes também são ilusionistas ou contorcionistas e a formação deles é menos profunda, mas mais ampla.

— Legal. Acho que fico com ilusionismo, então. O que mais?

Felix explicou também que as crianças nascidas em famílias já envolvidas na ALIEN frequentam a escola desde bem cedo:

— A formação até os dez anos é a normal, como de qualquer escola, com matemática, línguas, ciências. Eu, por exemplo, comecei a estudar aqui com seis anos e fui alfabetizado na ALIEN. E é tudo da melhor qualidade.

— Quer dizer que nem todo mundo da escola é filho ou herdeiro de outro ilusionista?

— Exatamente. Muitas pessoas pegam gosto por mágica, mas nem sabem da existência da escola. Essas pessoas a gente chama de amadoristas, que são os ilusionistas amadores. Alguns são avaliados por nossos olheiros no mundo e acabam entrando na escola. Os amadoristas recrutados são chamados deforistas, e são escolhidos por mostrarem talento excepcional mesmo sem treinamento adequado. É o seu caso, Justine. Você é, oficialmente, uma deforista. Geralmente é gente ágil e habilidosa. Poderiam dar grandes jogadores de basquete, chefs de cozinha, pilotos de avião... mas alguns se tornam mágicos, e a ALIEN os recruta.

Felix Fox e o Gato MágicoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora