Capítulo 1

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- Daniela,quero os cardápios das refeições que serão servidas no almoço de amanhã sem falta na minha mesa até as 17 horas ouviu bem?Faça jus ao cargo de confiança que te demos. - Minha chefe gritava do outro lado do telefone, de forma exasperada, como se eu tivesse algum problema sério de surdez.

- Sim senhora. - Eu respondi, ainda sonolenta mas ela já havia desligado.

Olhei na direção do relógio que marcava 4 horas da manhã e quis morrer, me jogando novamente no conforto de meus cobertores quentinhos, mas minha consciência não ia deixar que eu tirasse um cochilo breve(até porque eles nunca eram breves),então tratei de me levantar rapidamente, indo em direção ao banheiro me perguntando como eu tinha ido parar naquela situação.

Sou da cidade de Umuarama no Paraná,venho de uma família relativamente simples,meu pai é um policial aposentado e minha mãe uma dona de casa,tenho dois irmãos mais velhos, Daniel que é engenheiro químico, conseguiu uma bolsa de estudos e atualmente mora na Alemanha e Carla que é professora do ensino fundamental, já casada e com um filho a caminho, Theo.

Quando eu tinha 16 anos resolvi que deveria sair de casa e morar na capital, Curitiba, para cursar Nutrição na Universidade Federal do Paraná.Eu imaginava que por se tratar de uma universidade federal o estudo seria melhor e mais direcionado.Apesar dos esforços de minha mãe em me convencer a ficar,acabei indo e me deparei com a dura realidade do que é a vida longe do conforto do lar.Como meu pai não ganhava muito,tive que morar com minha tia, Nilce, e seu marido alcoólatra, Ricardo.Comi o pão que o diabo amassou durante todo o período em que estive na faculdade,foram várias as vezes em que meu tio chegava bêbado e minha tia fazia escândalos homéricos, dignos de novela mexicana.Devo admitir que não foram poucas as vezes em que ele tentou abrir a porta do meu quarto a noite, mas prefiro não pensar nisso.

Depois de cinco longos anos, consegui me formar e arrumei um emprego que pagava o suficiente para que eu finalmente saísse da casa de meus tios e pudesse alugar um pequeno apartamento,que ficava relativamente perto do local em que eu iria trabalhar.Contudo,na época, eu deveria ter desconfiado que o emprego pagava bem até demais para uma recém formada,mas, como eu precisava, aceitei sem pestanejar,mal sabendo pelo que me esperava.Eu seria a nutricionista responsável por uma cozinha industrial de uma empresa alimentícia de grande porte,meu salário era acima da média, pois eu teria um cargo de confiança que me possibilitaria ter um horário flexível e não ter a figura de um chefe,nem preciso dizer que na prática isso não aconteceu.Meus horários não eram nada flexíveis,pelo contrário,eu era a primeira a chegar e a última a sair,eu tinha uma chefe que só sabia me dar ordens apesar da promessa inicial ser de que eu não teria que dar satisfações a ninguém,com o tempo percebi que eles me contrataram porque seria mais fácil escravizar uma profissional que estava apenas começando no mercado de trabalho, do que uma nutricionista mais experiente,enfim,já dizia minha mãe, a necessidade faz o ladrão,então cá estava eu a caminho de mais um dia de trabalho exaustivo que não teria hora para acabar.

- Fátima quantas vezes eu já te disse que é necessário colocar a toca de proteção enquanto cozinha?Seus cabelos podem cair na refeição,o cliente pode reclamar. - Eu explicava pacientemente para uma das cozinheiras da minha equipe que rolava os olhos e respondia um tanto faz bem baixinho.

Eu sofria um certo preconceito por parte das cozinheiras.Por ser muito jovem e inexperiente,elas não eram capazes de me ver como uma autoridade a ser seguida, e sim como uma fedelha que não sabia nem fritar um ovo.Não era novidade para ninguém ali que eu era constantemente ignorada.

De todo modo,aquela manhã eu não tinha tempo para me importar se elas iam com a minha cara ou não,a empresa para a qual eu trabalhava havia sido contratada para servir as refeições de uma multinacional e nada poderia dar errado,o almoço deveria ser servido ao meio dia em ponto, eu tinha absolutamente tudo cronometrado, até que uma notícia me pegou desprevenida.

O amor é cegoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora