Fora de época

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Era uma quarta-feira de cinzas. Ainda tinha os restos do carnaval grudado no asfalto, no rosto das pessoas e o ar estava carregado de uma preguiça de fim de festa. Enquanto esperava o comércio abrir (o que acontecia só depois do meio dia), sentei-me na praça e observei, no banco da frente, o que tinha cara de um amor, fracassado, de carnaval.

- Acho que não vamos dar certo.

- Por quê? Até ontem era tudo festa, estávamos felizes juntos...

Percebi ali uma história diferente. Afinal as pessoas escolhem ficar sozinhas no carnaval para curtir e não começar um relacionamento na época de maior pegação do ano.

- Eu sei, mas acho que a felicidade fazia parte da festa e agora acabou. Não estamos apaixonados, muito menos é amor o que sentimos.

Era uma conversa sem sentido e aquela falta de uma desculpa plausível me fez continuar prestando atenção naquele casal jovem. A garota se despedindo e o garoto tentando permanecer de mãos dadas. O que mais uma vez fugia do senso comum.

- Vamos tentar. Um mês. Que tal?

- Não quero, João. E para de ser insistente.

Era uma conversa sem futuro tanto quanto o relacionamento deles. Desviei o olhar quando ela olhou para mim. Eu estava perto e era impossível não escutar a conversa. Eu me segurava para não interferir, na verdade eu não tinha ótimos conselhos já que minha vida amorosa era um desastre... Eu nem sei o que diria e por isso continuei calado observando pelo canto dos olhos.

Nada mais aconteceu. Cada um partiu para um lado, ela, aparentemente, feliz e ele com uma expressão digna de quarta-feira de cinzas.


Fora de épocaWhere stories live. Discover now