#17 - Acordar Pt. 2

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Acordar sempre foi a pior parte, sair daquele mundo perfeito para o mundo real, era como ter nascido mais uma vez. Sentir o ar entrando nos pulmões pela primeira vez, ser arrancado daquele ambiente acolhedor, ter seu cordão umbilical cortado.

Acordar sempre fora doloroso para ela. Diana já era mãe, já havia se casado e pedido o divórcio, contudo... Contudo, ainda se sentia aquela garota da faculdade que vivia a base de chá e miojo, a garota que dormia a maior parte do tempo para evitar a realidade. A garota que escrevia porque era melhor do que viver no mundo real.

Diana sempre tivera medo do mundo real, de todas as incertezas e perigos. Gostava de sonhar, de dormir e chegar num mundo mágico onde nada a mancharia, um mundo que aprendera a controlar.

Há anos não era mais essa garota. Tivera uma vida para superar aquela garota, ainda assim, se pegava pensando nela.

– Chegamos. – o uber dizia parando em frente a casa dela.

Diana o olhou desnorteada, seus pensamentos estavam longe.

Desceu do carro e parou em frente a porta. Respirou fundo. Sua vida estava ali. Ela tinha uma vida, aquela garota nunca acho que isso aconteceria.

Colocou a chave na porta e a girou devagar. Queria demorar um pouco mais, evitar a realidade por mais um instante. Queria voltar ao tour de seu livro. Andar pelo mundo lendo as estórias de romance e terror que sua mente criava.

Empurrou a porta. Puxou a pequena mala de rodinha indo direto para sala. Sua filha estava sentada com seu livro em mãos. Ela sempre estava sentada ali com um livro.

Amava aquela garotinha, mas temia por ela. Temia por como a realidade se relacionava com sua filha. Pelos poucos amigos e pelo tempo que perdia com os livros. Tinha orgulho de tê-la criado assim, uma leitora, mas tinha medo por sua filha, medo de que ela nunca conseguisse se relacionar com a realidade, assim como ela Diana não conseguia.

Temia que assim como ela, sua filha não amaria a realidade porque os sonhos eram melhores. Tinha medo.

Sentou-se ao lado filha. Julia aconchegou-se ao lado dela a cobrindo com a manta do sofá. O aroma do café misturava-se ao dos livros da estante infinita e subia tomando a sala tornando o ambiente perfeito. Repousou a cabeça no ombro da filha deixando que ela lesse.

Amava sua garotinha, era a única parte da realidade que gostava mais do que seus sonhos.

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