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Quando me sentei a mesa e reparei o olhar nada delicado de papai sobre Scott, cocei a garganta atraindo a atenção de todos para mim. Mamãe adentrou a sala sorridente, trazendo consigo uma assadeira com um frango doradinho. Os dois decidiram sair mais cedo do trabalho só para receber meu quase-namorado, mas ainda me questionava se aquilo era uma boa ideia.

-- Então, Scott, o que faz da vida?- questionou meu pai.

-- Ahn, senhor, trabalho em uma veterinária.- respondeu revezando seu olhar entre meu pai e eu.

-- Ele vai cursar faculdade nessa área.- acrescentei.-- Vai ser um otimo profissional.- segurei na mão dele para reforçar minhas palavras.

Minha mãe deu um risinho baixo e meu pai disfarçou um suspiro. Decidi, então mudar o foco da conversa:

-- Papai, como vai as investigações do caso do Sr. John?

-- Por favor, nada de comentários de mortes na hora do jantar.- pediu mamãe soltando os talheres.

-- Acalme-se, querida.- disse papai acariciando os ombros dela.-- Bem, a perícia diz que foi suicídio, mas os exames dizem o contrário.

Scott e eu trocamos olhares confusos e assustados. Foi o suficiente para papai continuar:

-- Foi achada uma substancia no corpo dele, como se fosse droga, porém é algo jamais visto. O legista disse que essa possível droga estava contaminando seu pulmão e rompendo algumas veias do cérebro. Tudo indica que ela também estava provocando uma pressão nos orgãos. Dizem que ele só conseguiu aliviar quando cravou a chave de fenda no peito, mas isso foi a causa da sua morte. Existe uma especulação de que ele poderia ter explodido.

-- Tyler.- repreendeu mamãe enquanto mantinha a cabeça baixa e as mãos na testa.-- Ser casada com um policial dá nisso.

-- Achei que a senhora já estava acostumada.- indaguei.

-- Nós nunca devemos nos acostumar com a morte, meu bem. Não importa como aconteça.- disse com um sorriso fraco e olhos tristes.-- Por isso me tornei enfermeira. Para salvar vidas.

Um silencio estranho caiu sobre nós, até que papai começou a encher o prato de Scott com tudo que existia na mesa.

-- Senhor, eu tenho uma duvida.- murmurou Scott.

-- Diga. Se eu souber, respondo.

-- Existe outros casos iguais a esse?

Naquele exato momento todos os músculos das costas de meu pai se contraíram. Aquele foi o sinal de que tudo estava correndo de mal à pior, não importando qual seria sua resposta.  Ele se encostou na cadeira e olhou fixamente para Scott:

-- Não vamos mudar de assunto rapaz. Não estamos aqui para falar do meu trabalho, mas sim das suas intenções com a minha menina.

Segurei a respiração, me preparando para o repreender pela maneira mal educada de falar com meu quase-namorado. Mas a sua risada alta e incrivelmente fofa destruíram qualquer vestígio de sua arrogância. Para quebrar o gelo, mamãe também começou a rir, só que de nervoso. Era certo de que a bronca viria mais tarde. Entrando na onda, tentei forçar uma risada, para tentar aniquilar qualquer ressentimento. Scott não me parecia muito convencido daquele teatro, mas mesmo assim sorriu.

-- Agora nos diga: Vocês estão namorando ou não?- foi a vez de mamãe questionar.

-- Não nos enrole. Eu vi o clima entre vocês no dia do incidente com o professor.- disse papai com um sorriso de tiozão no rosto.

Scott e eu nos encaramos. Ele sorrindo, um pouco nervoso pela pressão e eu, completamente esperançosa em ouvir um sim. Até o momento, não sabia exatamente qual era o nosso status de relacionamento. Por algum tempo, achei que éramos ficantes, apenas uma curtida momentânea. Depois da nossa tarde na floresta, pensei que fossemos namorados, mas após sua reação mais cedo, cogitei que não éramos nada.

-- Bem...- começou ele.

-- Nós somos...- impulsionei uma resposta.

-- Estamos nos conhecendo.- concluiu ele.

Aquilo foi um soco no estômago em mim. Rapidamente virei o rosto e encarei minha mãe, que estava na minha frente. Seu olhar me pedia calma. Ela sentia que eu estava esperando uma resposta positiva, que era meu primeiro relacionamento em anos, e o quanto eu estava envolvida naquilo. Ouvir que estamos apenas nos conhecendo, era um grande balde de água no que eu nutria a um tempo.

-- Eu tive apenas dois relacionamentos amorosos a minha vida inteira. Eles não deram muito certo.- disse ele olhando diretamente para meu pai.-- Sinceramente, não quero que isso se repita. Magoar sua filha não é, e jamais será, uma hipótese para mim, senhor.

-- Assim espero.- foi a resposta de meu pai.

Abaixei a cabeça observando a comida quase no fim em meu prato, com um sorriso discreto nos lábios. Por debaixo da mesa, pude sentir as mãos quentes de Scott encontrar as minhas, que estavam extremamente frias, e aperta-las confortavelmente.




Depois de lavarmos a louça, nós sentamos na sacada do meu quarto. As portas estavam abertas, digo, escancaradas, permitindo uma vigilância segura para meus pais. Meu pai disse que aprovava a situação, mas não estava 100% confiante em Scott, a ponto de nos deixar sozinhos em um quarto com proteção acústica.

-- Me desculpe por isso.- pedi.

-- Não foi nada comparado ao que já vivi. Prefiro enfrentar um pai coruja, do que qualquer inimigo sobrenatural.- respondeu rindo.

-- Você viu a reação dele, quando questionou sobre a existência de outros casos?- ele assentiu.-- Tenho plena certeza que sim. Precisamos descobrir.

-- Me surpreende que Stiles não saiba de nada.

-- Tem certeza que ele não sabe?

-- Claro. A primeira pessoa que ele procuraria, seria a mim. Como ele está bem calmo, tenho certeza que não sabe de nada.

-- Não sei, não.- suspirei.-- Stiles me parece estranho. No dia do incidente com o Sr. John, ele não estava na sala, nem na escola, mas eu lembro de ter o visto mais cedo.

-- Talvez ele tenha precisado sair.

-- Sem você?

Scott me pareceu meio apreensivo e extremamente pensativo. Permanecemos em silencio por uns minutos:

-- Onde vocês foram ontem?- questionei.-- Você ainda não me contou.- deitei minha cabeça em seus ombros, tentando quebrar o clima pesado que tentava se instalar.

-- Fomos a uma cidade vizinha.- respondeu calmo, enquanto acariciava meus cabelos.-- Deaton precisava de algumas especiarias que usa quando nos ferimos. Disse que iremos precisar daqui um tempo.

-- Eu espero que isso acabe logo. Não tenho ideia de como você suportou isso esses anos todos. É assustador.

Ele não respondeu, apenas riu e beijou o topo da minha testa. Uma brisa morna no envolveu, deixando o momento mais acolhedor e aconchegante. De um instante a outro desejei viver aquele momento para sempre, pois me sentia segura ao lado de Scott, e por algum motivo, sabia que ele sentia o mesmo.

WARRIOR - [Teen Wolf]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora