CAPÍTULO 2 parte 5

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— Deixe-o ir com você. Talvez ele só queira dar uma passeada e fazer suas necessidades na rua.

— Mas e se ele se perder? Ou ser atropelado? – pego meu skate.

— Não acho que vá acontecer nada dessas coisas com ele. Deixe-o ir.

Por fim, sigo para a escola ouvindo "End of All Days" do grupo 30 Seconds to Mars com a companhia de uma garoa fina e o felino que é bem ligeiro, muito mais do que imaginei ser. 



Ao chegar perto da escola, vejo que o portão já se encontra aberto. Júlio está andando de um lado para o outro, parece nervoso. Ele está usando uma roupa parecida com a minha, incluindo a blusa com o capuz. Tiro meu headfone assim que me aproximo:

— O que aconteceu? Pensei que não vinha hoje. – fala franzindo o cenho – Por que está tão branca? Está se sentindo mal?

— Oi primeiro, né?! – digo pegando meu skate.

— Me desculpa. Bom dia. – ele tira meu capuz – Mas, me fala, você está bem?

— Sim. – coloco o capuz de volta.

Qual é o problema dele? Nem minha mãe ficou tão preocupada assim. Rylo dá um miado chamando nossa atenção:

— Ah! Olha o meu novo amigo. Ele não quis ficar em casa e foi muito ligeiro me seguindo até aqui. – pego o felino no colo.

— Eu ainda não pensei num nome para ele. – murmura fazendo carinho no bichano que parece não gostar do cafuné, pois rosna encarando o Júlio – Ei! O que ele tem?

— Acho que não gostou de você. De qualquer forma, já arrumei um nome para ele. – devolvo o gato ao chão, depois volto meu olhar para o moreno – Vamos entrar?

— Sim. Vamos. – pega minha mão livre – Você vai deixá-lo aí?

— Vou. – olho para a mão dele grudada na minha, em seguida encaro os olhos dele com cara de poucos amigos – Será que dá para soltar minha mão?

— Tá. – ele me solta e franze o cenho – Está brava comigo?

— Não. Só não gosto que me toquem. – declaro me encaminhando para dentro do prédio. 


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Júlio permanece as três primeiras aulas sem falar nenhuma palavra comigo. Será que fui muito grossa? É que não estou acostumada com isso. Só minha mãe faz carinho em mim. Nunca ninguém foi sequer atencioso comigo em palavras, ainda mais com gestos, pior ainda essa pessoa sendo um garoto. Pensando bem, nesses três dias de escola nova, só o Júlio e seus amigos me dirigiram a palavra. Mais ninguém quis conversar comigo, igualzinho como nas outras escolas. Por que eles são tão gentis comigo?

Durante esse período que Júlio fica sem falar comigo, troco palavras com a Alessandra e o Gustavo. Perguntam sobre o conteúdo que os professores passaram ontem e comentam sobre os trabalhos que temos que entregar na próxima semana. No entanto, percebi em alguns momentos os olhares de Júlio nos observando. Na hora do intervalo, sigo direto para o banco de concreto que está sentado para conversar com ele:

— Oi. – murmuro ao me sentar ao lado dele.

— Oi. – responde meio sem vontade, olhando para o prédio do refeitório.

— Qual o problema?

— Nenhum, por quê? – responde ainda sem olhar para mim.

— Depois que nós entramos, você não conversou mais comigo. Falei alguma coisa que você não gostou?

Júlio dá um longo suspiro antes de responder, em seguida encara meus olhos como se estivesse vendo minha alma.

— Não foi nada. Você disse que já escolheu um nome para o gato, qual vai ser?

— Sim. – você é igual a minha velha, quando não quer falar algo desconversa e muda de assunto – Vai ser Rylo.

— Rylo? – ele franze o cenho como se algo o perturbasse – De onde você tirou esse nome?

— Minha mãe que falou. – dou de ombro – E parece que ele gostou.

— Sua mãe? – questiona com a mesma expressão.

— Sim. Qual o problema?

— Nada. Você já comeu? O lanche de hoje está bem nutritivo. – desvia seu olhar para o prédio do refeitório.

Caramba! Novamente muda de assunto. Qual é o problema desse garoto?

— Não comi, mas não estou com fome. Você deve pensar que passo fome em casa para dizer isso! – me levanto, porém ele segura meu braço direito com as duas mãos.

Dunyas eno Unyaah - O Rapto e A ViagemOnde as histórias ganham vida. Descobre agora