2 - 11 de Janeiro de 2014

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O Reencontro

Hoje meu dia foi assim...

Acordei sendo chamada pela dona Marina, minha mãe. Ela já estava com olheiras que faziam sua pele branca e suave entrar em contraste, de tão fundas por chorar; seus cabelos loiros escuros estavam desgrenhados e sua voz trêmula denunciava uma dor amarga sem fim na sua alma.

— Filha, vamos nos atrasar para o enterro.

— Bom dia, mãe, estou indo — respondi no automático.

Desejei bom dia de coração. Parece errado dizer "bom dia" num dia triste, mas poxa, era o enterro do meu pai, o marido dela que tanto amava e admirava. Sabe, o amor dos meus pais era algo maravilhoso de se admirar. Eles eram amigos, cúmplices, irmãos e ainda assim... Amantes. Era lindo de se ver e lembrar! Eu queria um dia ter alguém desse nível comigo, entende?

Me levantei e coloquei meu vestido preto, uma echarpe preta e meus óculos também pretos para finalizar meu visual enlutado.

Fomos no Gol 2005 velho do meu pai, eu ao menos sabia dirigir. Já era algo para cumprir o desejo do meu pai de me ver sendo alguém exemplar, não é?

Ao chegarmos no cemitério, um buraco pareceu ter sido criado em meu estômago, fazendo me contorcer ao caminhar até o jazigo onde meu pai estava sendo enterrado; no dia anterior já tinha ocorrido o velório particular, onde apenas eu, minha mãe e alguns amigos do meu pai estavam presentes, e hoje pela manhã seria apenas o enterro.

Eu não esperava ninguém lá, apenas eu e minha mãe. Eu não tinha parentes por parte da minha mãe, e como meu avô morava muito longe, eu temia não o ver nunca mais na vida.

Mas não foi o que aconteceu.

Alguns minutos após o enterro, eu e mamãe nos debulhávamos em lágrimas, dando nosso último adeus ao meu pai, quando senti a presença de pessoas atrás de mim, porém não me virei para olhar. De repente, um vento contrário soprou e veio com ele um cheiro familiar que tanto sonhei sentir algum dia outra vez em minha vida. Meu querido avô estava ali!

Me virei e corri para seus braços, que não hesitaram em me receber.

— Vovô! Vovô, você está aqui! Como eu senti sua falta! Me abraça, vovô, sinto tanta falta do seu cheiro, diz que é real, você está aqui mesmo! — falei com a voz trêmula, ainda abraçada naqueles braços acolhedores do senhor que tanto me acarinhara na infância.

— Sim, minha princesinha, sou eu. Estou aqui, vim me despedir de Anderson e revê-la. — Ele disse entre meus soluços.

Depois do momento do reencontro, eu me afastei lentamente para olhá-lo. Foi como se um flashback da minha infância passasse na minha mente naquele momento.

— Minha princesinha, sabe que estarei sempre ao seu lado. Se não for em pessoa, será bem aqui, olha — disse, apontando para meu coração.

— Sim, vovô, mas não quero ir embora! Não quero que vá embora, não me deixe, eu quero ir com você! — Eu chorava.

— Um dia você entenderá, princesinha, mas vovô precisa ir. Lembre-se que eu estarei sempre com você.

E as lembranças da nossa despedida vieram à tona.

Olhei discretamente para a senhora aparentando ser alguns anos mais jovem que ele, um pouco atrás, vestida com requinte em um vestido azul marinho com chapéu de madame e um garoto jovem parecendo um pouco mais velho que eu, igualmente impecável em roupas sociais, e voltei o olhar para meu avô.

AMOSTRA - O Diário de uma recém milionária.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora