Depois de ter ido dormir quase duas da manhã devido aos meus pensamentos incansáveis, acordei de manhã para a escola do pior jeito possível. Eu estava muito cansado, e acredito que o que não me deixou dormir em pé foi saber que eu veria Juju em pouco tempo. Não sabia exatamente o que eu estava sentindo. Era uma mistura de nervosismo com aflição e ansiedade. Se fosse mentira, eu iria me sentir mal, mas só a possibilidade de ser verdade me alegrava por completo.
Como todos os dias da minha rotina normal, tomei banho, café, me arrumei e saí de casa. Cheguei à escola no horário que costumo chegar sempre, sete e dez. A aula começava sete e meia, e quando cheguei, todos os alunos estavam checando suas maquetes para entregar ao professor Ricardo logo no primeiro tempo. Andei até meu lugar, onde, na carteira da frente, sentava Juju.
— Você não sabe o susto que eu acabei de tomar. — Juju me disse assim que me viu chegar. Ela estava sentada em sua cadeira com a nossa maquete sobre a mesa. — Perguntaram se eu tinha trazido a apresentação. Mas aí confirmei com a Mari e ela me disse que era só pra próxima aula.
Nos primeiros segundos que ela terminou, só a fiquei olhando com um sorriso bobo nos lábios. Eu amava tanto aquela garota. E saber que ela me amava do mesmo jeito me alegrava demais.
— Por que você está me olhando com essa cara? — Ela perguntou sorrindo espontaneamente.
— Nada não. É que — a abracei forte. — te amo demais. Você não tem ideia.
— Eu também te amo demais. — Ela sorriu. Por um momento, senti que aquela conversa que estávamos tendo era típica de namoro. Mas não era.
Ou pelo menos ainda.
— Mas sobre a apresentação, vamos tratar de não deixar para o domingo de novo. — Falei e Juju riu.
— Eu já anotei. Agora vou ser mais prevenida do que nunca fui. — Ela me mostrou a anotação que fizera e rimos juntos.
— Bom dia, alunos. — Anunciou Ricardo com seu alto tom de voz assim que entrou na sala e foi caminhando até sua mesa.
— Bom dia, professor. — A turma respondeu unissonamente.
— Espero que todos tenham trazido as maquetes. — Ele disse quando se sentou. — Por que, senão, já sabem que levarão um zero.
Vi Fabiana e Carla com cara de desespero. Elas se levantaram e foram falar com o professor, provavelmente para pedir mais uma chance, afinal eram as únicas sem maquete. Tive medo só de pensar que Juju e eu chegamos bem perto da situação delas.
Depois de nove pessoas, ele chamou a décima, no caso, eu. Levantei e levei a maquete até sua mesa.
— Gabriel, não é? — Ele perguntou enquanto marcava na lista e eu afirmei. — Quem é sua dupla?
— Juju. — Respondi e ele me olhou estranhamente. Entendi o porquê. — A Maju, professor. Maria Julia.
Esqueci por um momento que a maioria a conhecia como Maju, e não como Juju. Sou o único que a chama assim, e me resultava tão natural falar Juju que acabo esquecendo de chamá-la pelo nome ou pelo apelido conhecido. Coisas de melhor amigo.
— Ah. Tudo bem, já pode colocar sua maquete lá trás com as outras. — Ele falou enquanto olhava para a lista, provavelmente marcando o nome de Juju. Fiz o que ele mandou e voltei para minha carteira, onde minha melhor amiga estava mordendo o lábio. E estava sozinha.
Achei a melhor hora para começar com meu plano.
— Acha que ele vai nos dar um zero? — Perguntou Juju com um tom de preocupação em sua voz assim que sentei.
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Através dos seus Olhos [Conto]
Short StoryGabriel é o melhor amigo de Maria Julia há muito tempo. Eles se apoiam em tudo, até quando precisam urgentemente encontrar uma papelaria aberta num domingo para fazer seu trabalho atrasado. Mais do que encontrar os materiais para o trabalho, os dois...