Peter Pan

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      A viagem de volta a Inglaterra foi longa. E pelo caminho encontramos muitos obstáculos. Smeethe já se encontrava esgotado. E eu encontrava-me bastante preocupado. Temia encontrava meus pais. O que lhes diria passado todos estes anos? Eles, provavelmente, me imaginavam morto. E ficariam chocados se aparecesse diante deles de novo. 

" Capitão! Terra a vista."

Tínhamos chegado. Inglaterra se tinha modernizado, no tempo em que eu estivera ausente. Suas ruas cinzentas encontravam-se apinhadas de pessoas. Seus caminhos preenchiam-se de linhas férreas, que transportavam comboios luxuosos. E as antigas carruagens? Praticamente tinham desaparecido. Ainda existiam aristocratas. Senhores com os seus antigos chapéus. Mas a classe operária se impunha. E alguns até conseguiam subir de vida. 

" É esta a sua Inglaterra, capitão?"

" Sim, Smeethe. Chegamos a nosso destino. Prepara a nossa bagagem. Vamos aportar no próximo porto."

     O que iria fazer agora? Minha razão dizia que eu devia procurar o rapaz. Mas meu coração queria voltar a ver meus pais, mesmo que eles já não me quisessem ver mais. Assim deixei Smeethe procurasse uma estalagem, e voltei para a minha casa. Ela continuava igual como me lembrava. A mesma mansão grandiosa. E os mesmos jardins barrocos. Quis voltar para trás. Minha mente impediu-me de tomar tal decisão. Não iria fugir como um rapazinho assustado. Estava na altura de enfrentar os meus medos.

Meu pai me ouviria. Talvez me compreendesse. Talvez não me perdoasse. Mas isso não importava. O que interessava era que eu já não renegava mais o meu passado. Entrei... Minha mãe se encontrava de costas. Toda enrugada. 

" Mãe!"

" James? Não é possível!"

" Eu voltei, mãe. Quero falar com o pai."

" Filho ingrato. Abandonaste-nos. Renegas-te os teus pais. E esperas agora o perdão."

" Onde está o pai?"

" Ele morreu de desgosto. Coitado! Ele tinha tanto orgulho em ti, James. Porque o desiludiste? Ele te via em ti. Pensava que te podia transformar num homem. Mas o que fizeste? Fugiste... Em busca de uma aventura! Porque voltaste? Não precisas de mim. Eu não sou nada para ti!"

" Claro que é. É minha mãe. E sempre será. Eu nunca imaginei... Eu não queria que o pai morresse. Perdoe-me!"

" Chegaste tarde, meu filho. Chorei anos por ti. Pensava que estavas morto. Depois sobe da tua fama. Tornaste-te num pirata. Não te ensinei nada? Como pudeste tirar a vida daqueles inocentes?"

" Eles são bandidos e assassinos, mãe. Merecem a morte!"

" Tu não és Deus, James. Não tens direito de condenar ninguém."

" É a minha vida. Eu nunca poderei ser o cavalheiro que a mãe imagina. Eu agora pertenço ao mar.  E o meu lugar é ao lado dos meus companheiros, a lutar."

" Então o que fazes aqui?"

" Precisava de vê-la!"

" Já me viste. Podes ir embora."

" Mas mãe..."

" Vai-te embora, James. E não voltes. Eu deixei de ter um filho, quando saíste por aquela porta."

Suas palavras me magoaram. Me feriram mais do que a espada do Barba Negra. Mas eu sabia que a havia magoado muito. Por minha culpa meu pai estava morto. E por minha causa minha mãe se transformara naquela mulher rancorosa. Eu só tinha de aceitar. E partir em busca de Peter Pan.

" Pelo visto a conversa com a mãezinha não foi das melhores."

" Minha mãe não me quer perdoar... Mas eu não quer falar nisso... Encontraste uma estalagem?"

" Claro, capitão. O velho Smeethe nunca falha. É um lugar um pouco sujo. No entanto, a cerveja é das melhores da região."

" Ótimo! Podes aproveitar a tua cerveja. Porque amanhã começaremos a nossa busca."

      Estava muito cansado para conversas. Preferia ir para o meu quarto beber o meu rum, e esquecer a conversa que tivera com a minha mãe. Queria apagar da minha memória a sua lembrança. E não me lembrar das suas palavras. Como poderá dizer que não tinha mais filho? 

No dia seguinte começou a caça de Peter. Procurei por todos os bairros de Londres, mas não o encontrei. Onde estaria tal rapaz? Era difícil encontrar uma pessoa, quando não fazia a mínima ideia do seu rosto. Onde viveria um rapaz órfão? Pois só podia ser um rapaz sozinho. Os rapazes da Terra do Nunca eram todos órfãos. Por isso imaginei que o seu líder também o fosse. 

" Não será melhor desistir, capitão?"

" Nunca! Eu prometi aqueles rapazes um pai. E irei cumprir a minha promessa."

         Quando já estava ficando sem esperanças... Encontrei Kingston. O único lugar onde não havíamos procurado. Meu palpite dizia que ele estava aqui. E não me enganei. Ao lado de um jardim se encontrava um rapazinho. Com cabelos castanhos. E olhos verdes. Parecia perdido. Triste até. Aproximei-me dele, tentando saber o que se passava.

" Estás bem, rapaz?"

" Sim, senhor."

" Não parece. Onde estão os teus pais?"

" Morreram."

" Vives sozinho?"

" Não. Vivo com o meu tio"

" Porque não estás com ele?"

" Ele me bate, senhor... Desde que os meus pais morreram que ele me maltrata... Eu não aguentei mais, senhor... Eu tive fugir... Por favor, não me mande de volta!"

" Calma, rapazinho. Eu não planeava fazer isso. Como te chamas?"

" E se não chamasses de senhor. Trata-me por James."

" Sim, senh... Desculpe, James. "

Havia encontrado Peter Pan. Contudo não era o rapaz de esperava. Tratava-se de um menino frágil. Assustado, e com medo que alguém o maltratasse. Como poderia ser o líder? Seria ele capaz de derrotar o Barba Negra? 

    Passei os dias seguintes a ensina-lo a defender-se. O rapaz aprendia rápido. E era muito talentoso com a espada. Via nele o meu sucessor. E agora entendia. Só  ele podia salvar a Terra do Nunca. O seu coração era inocente acreditava... Acreditava num mundo melhor. E mais importante... Acreditava em magia! Estava na altura de ele conhecer o seu destino.

" Peter. Preciso de conversar contigo."

" Algum problema, capitão? Foz algo de errado?"

" Não. Tu tens evoluindo muito. Mas existe algo que necessitas de saber."

" O que ?"

" Há uma ilha. A Terra do Nunca. Nessa terra todos os sonhos se tornam realidade. Nela vivem um grupo de rapazes órfãos como tu. E eles precisam de um líder. E esse líder és tu."

" Porque eu?"

" Porque tu tens coração puro. E acreditas em magia."

" Não posso partir."

" Porque, Peter? Esta terra só te trouxe sofrimento. O que ainda te prende?"

" Wendy!"






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