" A vida começa onde termina o medo."
Osho
Fiquei apreensiva durante o percurso de 15 minutos até o hospital. Quando chegamos, saímos do carro e nos dirigimos até o balcão de atendimento do pronto socorro. Ele estendeu os documentos e quis pegar a Nanda no colo.
Com os braços tremendo, soltei ela do meu abraço e fiz menção de passar a Nanda para ele, mas quando ela percebeu o que estava acontecendo, começou a choramingar e se agarrou ao meu pescoço.
- Não! Quero ficar com a mamãe! – Falou com bastante medo. Isso cortou meu coração, pois essa parte não foi nada ensaiado, era o que ela estava realmente sentindo.
- Deixa ela comigo Mauro, ela está doente e fica manhosa.
Muito a contragosto ele deixou que ficasse no meu colo, pois preferia isso, a ter que lidar com o espetáculo que a Nanda daria caso a tirasse a força do meu colo.
Preenchi a ficha no atendimento com ele ao meu lado, para evitar que falasse alguma coisa para a recepcionista. Fiquei aguardando que nos chamassem, com o coração batendo na garganta.
Estava quase lá, meu plano correu certinho até aqui. Por favor...por favor... minhas preces silenciosas continuavam. A única coisa que separava minha libertação era a porta da emergência.
Ficamos quase uma hora aguardando o atendimento e em nenhum momento o Mauro saiu do meu lado.
- Fernanda Baroni.- A enfermeira chamou na sala de pré atendimento.
Levantamos para entrar na sala, quando a enfermeira fez um gesto negativo com a cabeça.
- Só um acompanhante com a criança. O pai espera aqui fora.
Eu queria pular, gritar, chorar, abraçar e beijar a enfermeira.
Dei uma olhada em direção do Mauro, que fez um pequeno gesto afirmativo com a cabeça. Respirando fundo, fui caminhando de encontro a porta do pré atendimento.
Não sei se estava andando ou flutuado, para ser bem sincera nem sei como minhas pernas se moveram naqueles instantes.
Quando passei pela porta e senti a enfermeira fechando-a contra minhas costas, a emoção tomou conta de mim. Abracada a Nanda eu chorei. Senti quando ela passou os braços apertados contra meu pescoço e desabou no choro também.
- A Senhora está bem? - A enfermeira perguntou assustada.
- Desculpa Sra. - minha voz estava embargada pelas lágrimas. Falando baixo continuei - Quero comunicar um abuso.
- Abuso? Contra a menina? - Ela questionou.
- Não - Balancei a cabeça- Contra mim.
Ela me olhou sem entender nada.
- Posso entrar num consultório? Isso é uma emergência. Por favor, não fale nada para meu marido - Meu semblante, combinado com o tom de minha voz, demonstravam a minha urgência.-. Ela colocou a mão nas minhas costas e nos levou até um dos consultórios médicos.
Uma médica estava aguardando para realizar o atendimento e assim que entrei, já foi falando.
- Oi boa tarde, sou estudante e vou fazer o primeiro exame, depois uma médica virá terminar o atendimento.
Fiquei parada olhando para ela e quem continuou falando foi a enfermeira.
- Senta moça. Dra. Monica, essa senhora estava falando que quer relatar um abuso contra ela.
- Abuso? Como assim? - Indagou.
- Não sei também, ela pediu para vir para cá para explicar. - As duas ficaram olhando fixamente para mim, aguardando uma explicação.
- Desculpa, estou um pouco nervosa. Primeiro quero deixar claro que minha filha não está doente. Precisei simular isso para que ele deixasse eu sair de casa com ela. O homem que está lá fora é meu marido, pai da minha filha. Ele está me agredindo e me obrigando a permanecer cm ele. Preciso chamar os policiais para registrar uma queixa e pedir proteção – falava muito rápido sem nem parar para respirar- Sei que estão curiosas e prometo explicar tudo, mas por favor, preciso que vocês liguem agora à polícia, antes que ele perceba que tem alguma coisa errada. Por favor, minha segurança e de minha filha dependem disso. Preciso da ajuda de vocês, por favor! Acreditem em mim e deixem os questionamentos para depois.
A Médica nem esperou eu terminar de falar, tirou o telefone do gancho e discou para a recepção pedindo auxílio dos seguranças. Instruiu para que entrassem pela porta interna que ligava as alas e não pela entrada na recepção. A enfermeira ficou aguardando e assim que chegaram, explicou o que estava acontecendo. Nesse meio tempo, a médica já tinha ligado para polícia que estava a caminho do hospital.
Passado a adrenalina inicial, meu corpo tremia muito.
Nanda continuava sentada em meu colo e encostada contra meu peito, enrolando seu cabelo no dedinho, do jeito que ela fazia sempre que estava com sono
- Deu certo Nanda. - Olhei no seu rostinho – Deu certo meu amor - Falei novamente antes de beijar sua face.
- Ele não vai mais fazer mal para você mamãe? - Sua voz estava tão baixinha.
- Não meu amor, nunca mais! - Ela suspirou aliviada, de uma maneira que nenhuma criança deveria um dia suspirar.
Após a chegada dos policiais, com muita relutância, ela ficou com a Dra. Mônica enquanto explicava os policiais toda a situação.
Quando pude esclarecer tudo para eles, o Mauro já havia percebido que alguma coisa estava errada e desapareceu da recepção. Quando os policiais foram até o estacionamento, seu carro não estava mais lá.
Fui até a delegacia para formalizar minha queixa contra ele e a Dra. Monica resolveu nos acompanhar para ficar com a Nanda enquanto prestava meu depoimento formalmente.
A segunda parte estava concluída.
Agora começaria a parte mais fácil... ou não!
ΔΙΑΒΑΖΕΙΣ
O Outro Lado do Amor - AMOSTRA - ATENÇÃO - Ficou Disponível até 20/02/2017
ΡομαντικήO amor pode ser duro, o amor pode ser leve, o amor pode nos esvaziar e nos transbordar. Emília, uma mulher mais determinada do que imagina, amou com todas as forças um homem, mas dedicar forças demais a algo é também se deixar enfraquecer. Dentro do...