O AFOGADO

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Ele não sabia por que estava fazendo aquilo. Em cima estava o céu, embaixo o mar. Tinha suas razões. Não tinha muita esperança e nenhum sonho. Aliás, seus sonhos iriam junto com ele.

O trabalho era um tormento, dinheiro pouco e aumento nunca. A mulher tinha suas qualidades porém desperdiçava palavras ao vento e rasgava dinheiro. Os filhos eram pequenos, eles ainda tinham uma longa estrada para percorrer. Não queria vê-los infelizes. Como todo homem, tinha uma amante, essa era pior que a mulher e queria acabar com o pouco que restava.

Dependendo da sua decisão, nunca mais veria os filhos, a mulher, a amante e o patrão. Considerando que pagava seus impostos, não fazia mal a ninguém e não suportava maledicência podia-se se dizer que era uma pessoa normal.

Todavia, a normalidade às vezes satura. Ficava-se impregnado e ele estava. Não se agüentava olhar no espelho, não aturava os problemas dos outros e não suportava hipocrisia. Isso estava atormentando sua cabeça.

Vivia sonhando com um mundo utópico. Com uma beleza que nunca viria existir. Com ideais fora dessa realidade. Nesse decorrer ninguém compreendia sua angústia e nem se davam ao trabalho. Para que compreender os outros ao redor? Reposta, perda de tempo.

Diante disso passou uma semana refletindo, chegou à conclusão que era melhor sumir. Sumir como? Mudar de país, trocar de nome, cara, nacionalidade mas isso daria trabalho. Ficou com a segunda alternativa; ele queria que fosse de forma poética. Tendo escolhido, ele está diante de um penhasco, com o mar batendo nas pedras. Basta um passo.

Sentiu o impacto do próprio peso na água, as ondas indo e vindo, as correntes arrastando seu corpo, puxando para o fundo. Sua garganta enchendo de água salgada, o cheiro da maresia impregnando cada poro. Os pulmões começando a encher, a sufocação crescendo a cada minuto. E quanto mais se perdia engolfado na massa líquida, mais se sentia livre e feliz. Tinha tomado a decisão certa.

Caroline Cabus Beck

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