A Vida na Rua

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Eu nunca imaginei que seria assim.

Ainda me lembro dele. Da primeira vez.

Ele me olhava. Seus olhos brilhavam.

Quando sai de casa, eu era bonita.

Sim. Novinha de tudo, sem experiência.

Mas ele me dominava. Suas mãos fortes.

Porém, como tudo na vida, nada é infinito.

Ele parou de me olhar como antes.

E, com o tempo, perdeu a paixão.

Trocando-me por uma mais nova.

Esse foi um período difícil.

Passei de mão em mão.

Não que fosse pela minha vontade.

Mas a vida me levou a tal.

Não mais tinha casa.

Nem um lugar para chamar de meu.

Vivia quase que largada, na rua.

Alguns ainda me tratavam bem.

Porém a maioria só me usava.

E nem um tchau ofereciam.

Nessa sina eu conheci João.

Alto, forte, mãos grandes.

Conhecedor do assunto.

Extraia o máximo de mim.

Com ele aprendi o que não devia.

Os "aditivos". Fiquei viciada.

Minhas performances eram incríveis.

Às vezes era eu que não queria parar.

Foi uma época boa.

Muitas "viagens".

E claro, algumas transgressões.

Tornei-me a rainha dos rachas.

Mesmo sendo a mais velha.

Abalava a molecada.

Em um dia fatídico, ele não acordou.

E eu, sem mais nem menos, fui escorraçada.

Voltando para a rotatividade da rua.

Pelas mãos dos familiares do João.

No começo tentei suportar.

Os "crivos" ainda faziam efeito.

Mas eu já estava velha.

Dessa forma, deixaram-me.

Sem consideração, sem destino.

Abandonada a própria sorte.

Mas eu acredito que um dia.

Um belo senhor, de barbas e bigodes brancos.

Botas altas e jaqueta jeans.

Aqui me achará, providenciando a minha reforma.

Imaginem: Um lindo guidão Chopper.

Novo motor quinhentas cilindradas.

E escapamento quádruplo.

Ele sentará sobre o meu corpo.

Acelerando o meu motor, com suas mãos perfeitas.

Primeiro devagar, depois com muito ritmo.

Fazendo-me chegar aos meus limites.

Aí eu serei, de novo, a rainha da estrada.

Luiz Amato e ConvidadosWhere stories live. Discover now