Um

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Olho para o teto contando os minutos para minha mãe gritar do pé da escada como sempre faz. Geralmente, eu acordo cedo, me arrumo e fico deitado na cama esperando as horas passarem. Faço isso desde que meu pai se foi. Lembro-me como se fosse ontem.

Os policiais na porta. Minha mãe chorando. America encolhida no chão. E as exatas palavras que o policial nos disse. "Sinto muito. Não conseguimos encontrar o corpo. O carro explodiu. Provavelmente, o Senhor Toslei virou cinzas."

Fui identificar o carro e não havia dúvida. Era o carro do meu pai. Com as coisas do meu pai. Com as músicas antigas do meu pai. Com as velhas histórias do meu pai. Olhei para o carro mutilado e carbonizado e me lembrei de todas as vezes em que me sentei ao lado do meu pai e cantamos Jazz.

Lembro-me dos vizinhos fazendo as suas homenagens no enterro para um caixão vazio. O Bob Mcclaen só falava de como a grama de nossa casa era a mais bem aparada de toda a cidade. Ele disse "Parece até mágica. Pois nunca vi Otto com um cortador de grama.". Não tínhamos cortador de grama. Que me lembre não. Tremi bastante quando chegou a minha vez. Olhei para minha mãe e irmã, que estavam chorando e tentei reunir o máximo de força possível. Reorganizei as palavras que iria usar e olhei para aquele maldito caixão vazio.

- Lamento muito ter que dizer. - Olhei para o papel. - Que hoje eu sou o único homem desta família. - Ouvi Carter rir em uma das primeiras cadeiras. - Meu pai era um homem que zelava a família acima de tudo. - Vi Vovó e tia Prudy chegarem. Algo me encomodou naquele momento. - Sinto que ele não morreu. - Olho novamente para o papel. Não havia nada do que falei e sei que não haveria nada ali, que eu gostaria realmente de falar. - Sinto que ele está em algum lugar se preparando para dar um grande susto na gente. E não duvido nada de que ele esteja rindo disso agora. - Vi minha mãe lançar um olhar de reprovação. - E que vai rir de mim por dizer que sou o único homem desta família. - Tia Prudy tinha um sorriso enorme no rosto. - Não vou perder tempo falando palavras de conforto para alguém que não está morto. Pois um bruxo morre só quando a magia acaba. - Minha mãe tinha os olhos arregalados para mim. Não sei por quê havia dito aquilo, mas me pareceu o mais apropriado no momento.

Doveva levantou do fundo e começou a bater palmas. Logo todos do fundo estavam de pé aplaudido. Todos estranhos. Mas eram os amigos mais próximos do meu pai. Nunca os vi.

- Loganland e America Toslei! Espero que já estejam acordados! - Me sentei rapidamente.

Peguei minha mochila e sai do quarto indo para a porta do quarto de America. Dei três batidas, que significava "Eu estou indo na frente. Ande logo." Fui em direção a escadaria e vi minha mãe no final da mesma. Ela tinha a mesma altura de America. Tinha cabelos castanhos e olhos da mesma tonalidade. Comecei a descer a escada mexendo no meu cabelo, que estava um pouco bagunçado.

- Cadê, America? - Ela segurava uma colher de pau.

- Não sei. Não nascemos grudados. - Falei quando cheguei no fim da escada.

- Me respeite, Loganland. - Ela me bateu com a colher, e eu dei graças a Deus que ela estava limpa. Não estava afim de ter que tomar outro banho. - AMERICA! SE EU FOR AI...

- Bom dia, Sargenta. - Sempre chamamos nossa mãe de sargenta, pois viver com as regras e ordens dela era a mesma coisa de ser um soldado do campo de guerra.

Peguei duas maçãs. Uma eu joguei dentro da mochila e a outra para comer agora, quando estou saindo da mesma minha mãe me para.

- A onde você pensa que vai, Loganland Toslei? - Ela havia cruzado os braços, enquanto me encarava.

- Tenho que ir. - Dei um beijo em sua bochecha. - Austin vai me dar carona. Tchau, mãe! - Sai correndo antes dela falar mais alguma coisa.

A caminhonete de Austin, estava estacionada na porta. Corri até ela. A música era alta, quando entrei.

- Eai? Vai na festa de Alison Darker? - Indagou Austin.

Alison Darker é a menina mais gata do colégio. Não tinha um cara que não se arriscava para fazer teste para o time de futebol americano com a intenção de ve-la com o uniforme de líder de torcida curto.

- Não sei. - Senti um tremor pecorrer o meu.

Olhei para o lado e vi um carro preto de luxo ultrapassar a caminhonete. Não reconheci o carro. Não me lembro de ninguém na cidade ter um carro igual aquele. Nem mesmo os Lavoisier.

O carro percorreu o caminho para o colégio. Isso pode dizer uma coisa. Temos carne fresca no pedaço.

A Menina De Ouro | As Chaves: UMOnde histórias criam vida. Descubra agora