- Capítulo 23 -

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- Pai, a Karen não quer ficar quieta. Já é a terceira vez que o laço do cabelo dela solta l - ouvi Bianca, que parece se divertido com tudo aquilo.

- Vem cá meu amor. O tio arruma seu lacinho - respondi estendendo os braços para aquela bolinha de pano vir em minha direção - Você sabe que seu pai é chato. Então tente não se bagunçar tanto antes da festa começar.

- O tio Tommy não é chato! - Bianca protestou. Uma característica adquirida após por na cabeça que, aos nove anos, já era uma moça quase adulta.

- Vida. Eu sou irmão dele, eu posso chamar ele de chato o quanto eu quiser. Aceite.

- Laxinho - Karen disse, exigindo atenção.

Havia pouco mais de um ano que Tommy havia adotado meu mordedor oficial que todos chamavam de Karen. Eu já havia tentando o convencer de que tiaras de cetim era uma opção melhor do que fitas amarradas em seu cabelo, uma coisa que eu havia aprendido por experiência própria, tanto com Bianca como com Jaqueline e Rose, mas ele não estava disposto a aceitar qualquer conselho meu a respeito. Nossa família estava infestada de garotas, isso dado o fato de que Call ainda não havia parado com uma garota por tempo suficiente para que o obrigassem a casar e April estava noiva de Daniel, que era quem ficava com as meninas de Ric e Ena nessas ocasiões.

- Liam - ouvi April me chamar, no inicio do corredor, onde ela estava com Danitria - Precisam de você aqui. - disse ao apontar para o quarto com a cabeça.

- Vida, amorzinho, vocês podem ficar com a tia Sara só um pouquinho? Eu já volto. Prometo!

Em resposta, eu ganhei um beijo de cada, incluindo April e Nitria, antes de ir atrás de Jack que parecia a ponto de desmaiar de tão pálido que parecia em frente ao espelho.

- Calma aí rapaz. Não vamos fazer uma cena hoje. Se quiser vomitar, temos que fazer isso antes de ir pro grande salão.

- Eu não vou conseguir... - o ouvir murmurar.

Eu sabia que aquilo não ia ser uma coisa fácil. Mesmo após se recuperar do acidente, os médicos disseram que Ric não estava bem o suficiente para cumprir com seus deveres reais. De inicio nossa ideia era deixar Jack como regente até que as coisas melhorassem, mas no fim, Ric achou que o melhor a fazer era entregar a coroa. O povo não havia feito objeção a decisão, principalmente por Jack ser figura da realeza mais amada por todos no reino, depois da nossa recente aquisição, a bola de pano Karen.

Fiz movimentos circulares com a mão em sua costa o que fez com que seus ombros desabassem.

- Está tudo bem - disse na tentativa de acalmá-lo - É normal ficar nervoso.

- Se eu já estou entrando em pânico apenas por ir lá e esperar colocarem uma coroa em minha cabeça, nem quero imaginar como vai ser quando tiver que resolver sozinho algo problema realmente sério.

- Não vai precisar se preocupar com isso. Você tem a mim, a seu pai, Tommy e Call. Você não está sozinho nisso. Sua tia Sara também é muito boa com política e sua mãe vai te puxar a orelha sempre que preciso.

- Eu... - ele começou a dizer, mas logo desistiu de terminar a frase, sentando em uma poltrona e colocando a cabeça no meio das pernas.

- Otá ligou. Disse que chegou na cidade e que estava a caminho daqui - comentei, achando que talvez, com tal notícia, ele ficaria um pouco menos tenso. Fazia pelo menos três anos desde que Otá havia se tornando embaixador de Etama na Grã-Ásia e só o víamos em teleconferências. Mas nada parecia ajudar.

- Eu não quero decepcionar todo mundo... As pessoas esperam muito de mim por ser o filho de Etama, o príncipe do povo. Mas não sei posso ser tudo o que eles esperam de mim...

- Sabe - eu comecei a dizer, ainda escolhendo minhas palavras - Seu pai tinha quatro anos a mais que você quando se tornou rei. Foi uma coisa muito difícil para todos nós. Foi de repente e nosso pai havia morrido e ainda não sabíamos que sua avó estava bem. Seu tio Tommy era rapaz dado a viagens, eu nunca havia precisado preocupar-me com nada realmente sério, Call era um moleque e April ainda brincava de boneca. Nenhum de nós estava preparado para aquilo e, mesmo que todos nós tenhamos dado o nosso melhor, cometemos muitos erros. Mas vejo o lado bom da coisa. Nós aprendemos, amadurecemos e conseguimos fazer com que Etama se tornasse ser um lugar bom pra se viver, na medida do possível. Sabe o que você tem que nós não tivemos? - perguntei a ele, que me olhava atento como o menino que eu havia conhecido em um abrigo para crianças em Fortal a doze anos atrás.

Não consegui evitar pensar em tudo que passamos durante aquele ano e como Jack havia crescido ao logo do tempo. Ele se mostrou um garoto habilidoso que aprendia muito rápido. Havia ficado encantado com Dagma a ponto de convencer Ric de passar os fins de semana comigo e Danitria. Fins de semana esses que começavam na quinta e só terminavam na segunda ao meio dia, quando Aliena em pessoa tinha que vim pegá-lo. Ele também tinha ficado animado com o cão tamanho família que tínhamos na época e por isso hoje tinha quatro deles. E como todos havíamos suspeitado, era uma cópia quase idêntica de mim, no que diz respeito a aparência, tirando os fios brancos que Bianca havia feito nascer em meu cabelo e os olhos verdes que ele havia ganho da mãe.

- Tio Will? - ele perguntou, me trazendo de volta a realidade.

- Desculpa. Eu só estava... não importa. O que eu estava dizendo?

- Você falava sobre algo que vocês não tinham quando o vovô morreu e papai teve que assumir o trono.

- Ah! Bem. Nós não tínhamos ninguém a quem pudéssemos a recorrer. Haviam alguns poucos amigos, mas não tínhamos parentes nem nada do tipo. Tivemos que nos virar sozinhos, e isso sem dúvida o que tornou tudo pior.

Assim como eu fazia com ele quando ainda era criança e estava preocupado ou nervoso com algo, me abaixei ao lado de sua poltrona e tomei uma de suas mãos na minha. Ele ainda reagia do mesmo jeito, dando um longo suspiro e deslizava na poltrona.

- Você não tem que passar por isso da mesma forma. Você não precisa perder seus pais, não precisa se esforçar sozinho e nem precisa ter medo. Nós estamos aqui por você. Eu estou aqui por você e sempre serei seu tio Will que corre pra te salvar sempre que algo acontece. Ok?

Jack ficou ali, encarando o chão por um bom tempo antes de simplesmente se levantar e colocar seu terno. Após uma última olhada no espelho, ele se aproximou e me deu um forte abraço antes de sair pelo corredor chamando por Bianca que havia pedido para acompanhar ele até o grande salão.

Naquela tarde eu ouvi uma das frases que ficaria guardada em minha memória juntos do sim que Danitria disse ao aceitar se casar comigo e do anuncio do médico de que minha menina tinha nascido perfeita.

"Eu vós apresento, Sua Majestade Real, José Ricardo de Bragança Macedo Persilhes, Rei de Etama".

- FIM -

Jogos da Ascensão II - As Garras de EtamaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora