- Boa noite pessoal. Boa Noite Jota. É uma honra estar aqui hoje. - Eu pensei em falar prazer, mas não ia soar muito convincente. Honra parecia mais com a verdade. 

- Meline, todo mundo quer saber... Todo esse sucesso repentino em cima de “Na Realeza” te surpreendeu ou você já estava preparada para isso? - Agora, com a maior naturalidade do mundo, ele começava nossa entrevista. 

- Na verdade eu não esperava. Eu apenas escrevia e torcia para que, ao menos, algumas pessoas pudessem gostar da minha história. Nem em meus maiores sonhos eu podia esperar que tanta gente fosse gostar tanto dele e eu só tenho a agradecer por isso. - eu sorria e tentava falar com naturalidade, mas até eu podia ver que a maldita timidez ainda estava lá comigo.

Quais são seus planos após “Na Realeza”? Você já está trabalhando em algum novo projeto?

- Sim, com certeza. - Aliás, projeto esse que está me deixando louca e trancada em casa 24 horas por dia para tentar entregá-lo dentro do prazo, pensei, mas claro, fiquei com minha boca calada. - Logo logo teremos novidades pra vocês.

E você pode nos adiantar um pouquinho sobre o que é essa nova história? Vai ser uma responsabilidade muito grande depois do sucesso do primeiro livro, não acha? - Jota sorria com aquele sorriso típico dos apresentadores que querem nos deixar sem ter o que dizer.

Na verdade era exatamente isso que me assombrava há dias. A pressão de escrever um livro que agradasse tanto quanto o primeiro era praticamente um convite ao bloqueio criativo. Agora, um apresentador de um programa famoso me perguntava sobre o tal novo livro e eu tentava me esforçar na esperança de encontrar uma resposta que não soasse como “Pois é Jota, pra ser sincera eu ainda estou escrevendo os primeiros capítulos, então nem eu sei direito sobre o que vai ser, mas fiquem tranquilos, se meu cérebro colaborar e um milagre acontecer, consigo terminá-lo e vamos viver felizes para sempre”.  Ao invés disso, só conseguir responder:

- Vai ser uma grande história. Diferente de “Na Realeza”, mas ainda um belo romance, que é o que eu mais gosto de escrever. - Nossa, eu era uma péssima entrevistada. Um dia eu ainda ia conseguir responder com mais de algumas poucas frases pelo menos uma das perguntas. Não podia ser tão difícil, vai...

- Você tem 22 anos, não é Meline? Muito jovem realmente... Você acha que com o tempo o seu amadurecimento pode refletir nos seus livros ou você se vê escrevendo livros juvenis por mais muito e muito tempo? - Ele continuava com um sorriso debochado e uma expressão desafiadora enquanto esperava minha resposta. “Amadurecimento”? Que tipo de pergunta era aquela? Era exagero meu ou na terceira pergunta aquela conversa já estava ficando meio constrangedora pro meu lado?

- Eu... não sei. Simplesmente gosto de escrever para jovens adultos, não tem nada a ver com minha idade. Um escritor de ficção científica escreve esse gênero porque ele gosta, não é mesmo? Não quer dizer que ele seja um alien por causa disso. - Tá, confesso que me senti orgulhosa da minha respostinha atrevida depois que a platéia riu dela. Há, Jota! Eu também consigo ser engraçadinha.

- Ótimo... ótima resposta. Agora, Meline... Acho que todos estão esperando que eu te faça uma pergunta que você provavelmente já ouviu muito...

Ah, não. Era vingança, não era possível. Calma Meline, essa não deve ser a pergunta que você está esperando e a que você mais tem medo de responder.

- De onde veio a ideia para “Na realeza”? É verdade mesmo que veio de um guarda-costas de verdade?

É, era essa a pergunta.

Era sempre a mesma história. Desde que eu abri minha boca grande e falei pela primeira vez que um cara tinha inspirado o personagem principal do meu livro, essa se tornou a pergunta mais frequente que me faziam. Até na rua eu já tinha sido parada para ouvir de uma senhorinha “Oi, adorei seu livro. Agora... aquele bonitão existe mesmo?”. É claro que se eu soubesse quando publiquei o livro que essa história ia render tanto, nunca teria contado isso naqueles primeiros eventos literários, mas eu estava tão empolgada... Além do mais foi só uma simples inspiração. Podia ter vindo em um banho, em uma viagem, durante uma insônia, mas não, veio quando olhei para aquele agente federal enquanto ele esperava a família real britânica, que estava protegendo, sair de um edifício no Centro da cidade. Simples assim. O que pode ter de tão anormal nisso e porque insistiam em me perguntar sobre essa história? Quando eu precisava explicar isso em público costumava me sentir uma louca obcecada. 

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