Capítulo Único

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Futuro.

O futuro estava a sua frente.

Joias de prata adornavam sua fronte, seus braços e pescoço, cintilando com safiras de diversos tamanhos que seu marido dizia serem suas favoritas. Ela lembrou de suas exatas palavras quando lhe disse que eram suas favoritas.

"Elas me fazem pensar na cor dos rios durante a primavera."

Em seguida recordou de outra coisa. Recordou quando reaprendeu as cores. Recordou de quando um garoto lhe perguntou sua cor favorita.

"É azul."

 "Ué, por quê?"

"Me lembra água, eu gosto de água."

Seus cabelos morenos estavam soltos, chegando à cintura em uma cascata ondulada. O castanho de seus olhos estava destacado por delineador. Pandora havia ajudado com sua maquiagem assim como com suas roupas. Um longo quíton  negro bordado com flores de prata e preso com fíbulas também de prata. Estava descalça, o chão negro estava frio sob seus pés.

"Perséfone."

O homem ao seu lado a chamou.

Respondeu. Mas não havia pensado em nada. Respondeu, mas não falou nada. Como podia ouvir a própria voz então.

"Sim, querido?"

"Está pronta?"

"Sempre estarei pronta para estar ao seu lado."

Ao seu lado na Guerra Santa contra Athena e seus cavaleiros.

Havia um destes cavaleiros em frente a seus tronos. Faltavam partes de sua armadura dourada e as que ainda estavam em seu corpo tinham sofrido muito dano. Seus olhos eram castanhos assim como seu cabelo, seu cosmo, agora fraco, parecia volátil como fogo.

Eu o amo.

Por quê?

Hades, deus do submundo, levantou-se graciosamente e tomou em mãos sua espada. Algo partiu no coração da mulher ao seu lado vendo-o se aproximar do cavaleiro de Atena, mas ela não conseguiu mover-se, não conseguiu dizer sequer uma palavra. Seu corpo parecia de outra pessoa, não lhe obedecia! Cada vez mais ela se sentia dividida entre a pessoa que aparentava ser e aquela que estava lutando para tomar o controle.

"Lou."

Seu coração doeu ainda mais ao ouvir aquele nome. Sentia-se com um nó na garganta e algo escorria de seus olhos. Então ela sentiu.

Foi como ser atingida por uma explosão. 

"... Romulus."

*

Levantei do trono.

O sorriso na cara de Romulus era o maior que eu já tinha visto. Me fez sorrir também. Podia sentir meus movimentos, minha voz, meu cosmo. Deixei-o queimar. Meu coração batia forte, animado e me senti simplesmente viva.

Hades olhava para mim em choque. Seus olhos cinzentos um turbilhão.

Sorri para ele. Ataquei.

"Alucinação das Rosas Azuis."

Facilmente, Hades desviou do golpe. Seu desvio me deu uma brecha.

Corri para o encontro de Romulus. 

"Bom te ter de volta."

"É bom estar de volta."

"Bela fantasia."

"Cala a boca."

Hades olhava para nós agora. Seu olhar tempestuoso um misto de raiva e tristeza. Eu estava de volta. Meu coração, no entanto, ainda doia.

"Lou, vamos sair daqui!"

Se Romulus contar que dei um gritinho de surpresa quando ele me pegou no colo como uma noiva eu negarei veementemente. Mas foi assim que escapamos pela saída mais próxima: a janela.

 "Não me solte." Ele sussurrou antes de atravessar a janela com ela, estilhaçando o vitral que representava a deusa Perséfone.

Não soltei. Envolvi meus braços no pescoço dele e me agarrei como se ele fosse minha boia sala-vidas.

*

A sensação de ter Lou em meus braços era tranquilizadora. Ela estava belíssima e altiva vestida daquela forma, no entanto, ao lado de Hades, inimigo mortal de Athena, a quem juramos proteger. Eu não devia ter ido atrás dela.

Traidor.

Eu podia ser considerado um traidor por ter salvo a mulher que amo. Destruí minha armadura no processo. Abandonei meu posto na casa de Escorpião com a Guerra Santa estando eminente. Quase fui decapitado por um Deus. Mas Lou estava segura. Lou estava de volta onde deveria estar, ou quase, ainda estávamos no Mundo Inferior.

Corri.

Descemos um penhasco.

Subimos uma encosta ingrime.

Lou ainda em meus braços.

"Romulus, para."

"Não podemos parar, temos que sair daqui."

"Romulus."

Parei.

Coloquei-a no chão com toda a delicadeza. Ela deu um passo para trás.

"Ele não vai vir atrás de nós, ele vai esperar que eu volte. Que ela volte."

"Ele te sequestrou!"

"Não. Ela veio por vontade própria."

"Quem é ela?"

"Perséfone. Você ouviu quando ele a chamou. Agora senta essa bunda no chão que eu quero ver o que você quebrou nessa carcaça que chama de corpo."

Sentei.

Ela me examinava com as mãos e com os olhos. Eu só sabia ficar tenso. Enquanto ela examinava meu rosto eu percebi que sua maquiagem estava borrada.

"Você chorou."

Silêncio.

"Você achou que ele ia me matar e chorou por mim."

"Para de falar, estou tentando ver o nível do estrago."

"Você ama ele?"

"Eu amo você."

Pela Deusa, como eu queria beijá-la.

Lou levantou-se com uma elegância que eu não sabia que ela tinha. Não sei de onde ela tirou a 'tag' onde ficava contida sua armadura, mas ela a ativou e a vestiu novamente. Foi uma alívio não vê-la mais como uma deusa fria e sim como a Lou autêntica que conheço e amo.

Amo.

"Lou, eu-"

"Você não está tão ferido assim. Levanta e vamos indo."

"Escuta aqui-"

"Para logo de-"

Levantei. Doeram partes do meu corpo que nem sabia que podiam doer. Nunca fiquei tão feliz por ser mais alto que ela.

"De falar?"

"É, vê se cala a boca."

"Certo."

Então, eu beijei Lou.

FuturoWhere stories live. Discover now