Desvario

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Era noite outra vez; e eu, débil, bebericava a mudez.

E, já quase ao adormecer, ouvi da cachola um bater,

bater suave, como do canto de uma ave.

"És um perdido" — logo pensei. "Isto, e menos de um mais! "

Opacamente me lembro; um rosto perdido, puro e opulento.

Desatento, logo falei: "O que um belo rosto me traz? "

"Trago-lhe apraz, felicidades e nada mais. É o que belo rosto lhe traz. "

Logo me irei, de uma maneira incapaz, falei: "Isto não quero, nunca, nunca mais! "

O belo rosto irou-se, virou-se e desatou-se. O quão são isso me trouxe.

Intento, olhei ao relento, percebendo o quão repentino o momento.

De um belo rosto opulento à um violento rosto cinzento.

"Isto é demais " — pensei. "Um pouco mais de menos e logo se transforma em um "mas". "

Da cachola rangendo, um vulto me saltou ao momento.

Tão certamente me lembro; um vulto alto, olhos escuros e turvo uivo.

Desatei-me e exclamei: "De onde veio e para onde vais? O que queres de um homem incapaz? "

"Quero-lhe a paz; trago-lhe a tristeza que só eu sou capaz. É o que o velho vulto lhe traz. "

"Isso já tenho e não preciso mais " — disse. "Volte ao caminho; alto vulto voraz. "

O vulto virou-se e desvaneceu-se na penumbra. Grunhindo um som que só no inferno se faz.

Sentei-me ao vento, penumbrando no quão confuso momento.

"Isto é de menos " — falei. "Mais um pouco de menos e logo se transforma em um pouco de mais. "

D'um alto vulto voraz, transformando-se em um grunhindo hostil e incapaz.

Da cachola fechando, um velho me trouxe paz.

Deste, claramente lembro: um velho maníaco, com roupas de hospício e um sorriso fictício.

Ajustei-me o pensar e perguntei: "De onde és e que ás trarás? Que importuno este fadigo homem lhe darás? "

"Trago-lhe a loucura, delirarás em insânia; a quão veemente fora tirada. Disto-lhe trago, homem sensato. "

"Deste não escapo, penso em um passo, me entrego devasso " — exclamei. "Toma-me homem louco, já não suporto o cuidado e nem o preço que o traz. "

Regicídio PoéticoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora