CINCO

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Durante toda a minha vida, tentei passar uma imagem forte. Fosse na escola, faculdade ou até mesmo em casa. Fiz escolhas terríveis ao longo da minha curta caminhada e tive que lidar com as consequências delas em silêncio, por ter vergonha dos meus atos nojentos. Fui sempre gentil e prestativa com todos, mas comigo mesma não.

Meu pai era meu refúgio. As únicas horas do dia em que eu me sentia uma garota normal e sem demônios, eram quando eu e meu pai nos sentávamos a tarde, para conversar sobre as palavras cruzadas dos jornais ou até mesmo sobre séries, que ele assistia comigo para que eu não ficasse sozinha.

Meu refúgio não existia mais. E eu não podia fazer nada para reverter isso a não ser superar e me segurar em mim mesma desta vez.

Eu me sento em minha cama, segurando ao máximo minhas lágrimas. Jake precisa de apoio agora, posso lhe dar comigo mesma mais tarde quando ele estiver melhor. Dou um longo suspiro e olho para cima, em uma última tentativa de não chorar.

Eu estive aqui por semanas, e liguei para meu velho apenas uma vez. Ele não tinha celular, não gostava de tecnologia, mas eu podia ter pedido para minha mãe passar o telefone. Tive oportunidades, mas ou julgava estar cansada demais ou preferia desligar para fazer outra coisa.

Me levanto e pego uma carta que estava em cima do criado mudo. A carta que meu pai me enviou em resposta à que eu lhe mandei há alguns dias. Sento-me novamente na cama e começo a ler:

"Minha querida filha, as coisas vão muito bem por aqui, tirando o fato de que você não está comigo. Li a matéria que me mandou na carta, fiquei orgulhoso. Saber que as coisas estão dando certo para você me deixa muito feliz. Estou com saudades, muitas. Lembre-se de mim sempre, por favor. Venha me fazer uma visita quando puder ou mande-me mais cartas. Sinto muito a sua falta. Lhe amo, minha princesa"

As lágrimas descem inevitavelmente. Solto alguns soluços teimosos e choro mais alto sem conseguir me conter.

- O que foi? – sinto Jake chegar perto de mim e se ajoelhar em minha frente.

- N-não é nada, sério... só alguns problemas em casa, coisas fúteis.

- Não acho que estaria chorando tanto por algo fútil. O que é isso? – aponta para a folha em minha mão.

- Coisas pessoais, já disse!

- Talvez eu possa fazer algo para que pare de chorar, não sei...

- Você não pode trazer ninguém de volta dos mortos, pode? – perguntei com sarcasmo.

Ele continua a me olhar, confuso. Suas sobrancelhas estão unidas e ele toca em meu rosto.

Certo, eu posso fazer isso, não posso? Posso dizer à ele. É só o Jake, não um mostro.

- É o meu pai, ele... ele morreu e eu... – me levanto, o deixando ainda ajoelhado. - Você... você não entende... meu pai é... era... ele...

Bufo nervosa, chorando mais.

- Fique calma – ouço-o dizer.

Olho-o indignado. Ele está de pé agora, me olhando com repreensão.

- CALMA? VOCÊ OUVIU O QUE EU ACABEI DE DIZER? MEU PAI MORREU, P-PORRA!

- Não grite! Não se esqueça de que têm mais pessoas morando nesse prédio. Mantenha a calma – ele diz, tranquilo.

Song About Love • Jake Bugg ft. Emily BrowningOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz