Capítulo 5 - Redescobrindo o Amor

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A partir daquele 18 de dezembro, Pedro e eu passamos a ser um só. Nós já éramos muito unidos como amigos e, agora, como ficantes então, estávamos insuportavelmente grudados.

Todo mundo comentava o quanto éramos bonitinhos juntos e o quanto havíamos sido feitos um para o outro.

Era incrível como eu me sentia melhor na presença do Pedro, como nós nos conhecíamos e como éramos capazes de saber o que outro sentia só com o olhar. Isso era meio perturbador, às vezes, eu confesso, mas, na maior parte do tempo, era fascinante.

Em todos os meus relacionamentos passados eu sempre fui a ciumenta e insegura que tem medo de perder o namorado a todo instante. Claro que o pouco de orgulho que Meu Eu Ruth tinha me impedia de cometer desatinos em público por causa desses ciúmes e, assim, eu evitei grandes vexamos na vida. (Não que eu não tenha cometido alguns) Graças a Deus! Todos os rapazes com quem me relacionei eram extremamente ciumentos também (até o Heitor antes de sumir) e eu acreditava que esse era o tipo de relacionamento padrão. Na verdade, qualquer outro perfil de relacionamento me parecia modelo de livro de auto-ajuda. Ou seja, não existia.

Com o Pedro, no entanto, era diferente. Nem éramos namorados, mas ele me fazia sentir uma segurança que nenhum outro havia conseguido. Eu me sentia tão indispensável pro Pedro que não havia ciúmes. Mas também não era chato. Eu não tinha certezas absolutas, eu só não tinha medos absurdos.

Os namoros dele sempre foram assim. Ele dizia que ciúmes demais é veneno e não alimento e que a pessoa que está com você precisa ter certeza que você a quer exatamente ali: ao seu lado. E que se não fosse assim, era melhor nem levar aquilo adiante porque iria fazer mais mal que bem. Todas as vezes que conversei isso com ele eu pensava que era tudo muito bonitinho na teoria, mas que aquilo só funcionava pro Pedro porque ele nunca havia amado ninguém de verdade.

Foi esse medo que me assombrou no começo da relação. O Pedro não era ciumento e isso era claro indicativo de desamor para mim. Mas era tão cuidadoso, tão atencioso que eu fui perdendo os medos. Ele não surtava com minhas ausências, mas deixava evidente o quanto minha companhia era importante, ele não caia nos meus joguinhos (e eu era muito boa nesses joguinhos! Se é que isso é algo de que eu deva me orgulhar.), mas me reconquistava sempre. Pedro era intrigantemente diferente de tudo que eu estava acostumada e eu tinha muito medo dele não gostar de mim o tanto que eu estava gostando dele.

Quando ele passou no vestibular e começou a cursar Engenharia Civil eu me apavorei com a possibilidade dele viver tudo que eu havia vivido no meu ano de caloura. Até porque, nós sabemos que para os homens o mundo é ainda mais livre e cheio de coisas incríveis. Pedro, no entanto, me inseriu no seu mundo com sutileza e me fez ser parte daquilo tanto quanto aquilo ser parte de mim.

No começo, nós nos falávamos todos os dias, mas no víamos apenas nos fins de semana. Eram divertidos fins de semana revezando entre festas, cinemas, filmes em casas, jogos de Buraco e jantares em família. Nós éramos incrivelmente opostos, eu gostava de balada, de rua, de agitação; Pedro era caseiro, odiava festas lotadas com música alta e pra ele nada melhor que passar o fim de semana em casa fazendo maratona de séries. Ainda assim, nós nos entediamos de maneira singular, era (isso vai parecer piegas, mas não consigo pensar em nenhuma palavra que melhor defina) mágico.

Dona Luiza fez um esforço monstruoso e deu um carro novo para o Levi e o carro usado dele ficou para o Pedro. A partir daí começamos a nos ver mais, ele dava umas fugidas entre o trabalho e a faculdade pra me ver e eu sempre dava um jeito de achar brecha pra esses encontros na minha agenda. Uma coisa importante a ser dita: eu tinha carro nessa época já, mas o Pedro não gostava que eu fosse vê-lo no meu carro. Ele tinha medo, afinal o local onde trabalhava/estudava era perigoso. Tão cuidadoso!

Ainda nos apresentávamos como amigos, afinal nada mais sério havia sido oficializado. Isso já estava se arrastando e começou a rolar uma pressão, principalmente por parte das minhas amigas de colégio que também eram amigas do Pedro e diziam que a gente já enrolava esse namoro a tempo demais.

As coisas eram maravilhosas, mas o fato do Pedro não me pedir em namoro começou a me incomodar, mas eu não podia reclamar, não podia parecer insegura e imatura, não com o Pedro.

Um dia combinamos dele jantar lá em casa, nada demais, só um jantar normal seguido de um filme. Marcamos às 19h, mas ele atrasou quase uma hora e quando chegou estava meio suado e esbaforido. ALERTA! Marcela ciumenta e insegura na área. Estavam todos esperando o Pedro, mas ninguém, além de mim, parecia incomodado com o atraso. Ok, ele deve ter motivos, vai me explicar. Não explicou, jantou normal e depois pediu pra falar com meus pais a sós.

Oi? Que história é essa?

Eles foram para a varanda e depois de uns dez minutos voltaram rindo e abraçados, radiantes. Meu pai me chamou na sala e falou:

- Marcela, meu amor, o Pedrinho acabou de pedir sua mão em namoro e eu e sua mãe aceitamos. Fazemos muito gosto desse namoro. Ele é muito querido por nós e sei que ninguém poderia fazer você mais feliz.

Oiiiii??? Pedro o que? Isso deve ser piada! Pedro pediu minha mão? Em que século esse menino vive?

Minha mãe estava emocionadíssima, me abraçou, me desejou felicidades, riu e disse que estava muito feliz. Todos estavam radiantes com a notícia. Só eu que parecia esta fora de órbita. Aquilo não podia ser real!

Nesse momento, Pedro me chamou para irmos à sacada e eu, completamente atordoada com aquilo tudo, fui meio que acompanhando-o, com a sensação de meio que ser guiada por ele. Essa sensação eu tive muitas outras incontáveis vezes enquanto estive com o Pedro, mas isso é assunto pra outra hora.

Ainda no elevador, eu voltei à realidade e comecei a questioná-lo sobre a bizarrice que havia acontecido lá em casa:

- Dá pra me explicar o que foi aquilo? Pedir minha mão pro meus pais? Sem falar comigo antes? E se eu não quisesse? (Eu queria muito, mas precisava demonstrar meu espanto e indignação) Já acertaram o dote também?

Ele riu! Oii? Tá rindo de que, menino? Tá louco?

- Ah, Má! Eu queria fazer tudo do jeito certo e eu sentia que devia isso aos seus pais.

Ai ele sorriu, me encostou na parede do elevador, me beijou e eu esqueci toda a indignação. Eu esqueci até meu nome naquela hora. Normal, era sempre assim.

Quando chegamos à sacada, eu voltei ao estado zumbi atônito. Havia uma centena de rosas, ~ Cara, quem falou que rosas são legais? Não sei, mas eu não acho! Quer dizer, naquela hora achei a coisa mais linda da vida, mesmo odiando. Vai entender. ~ um vinho, duas taças, um som a música e a música It Will Rain do Bruno Mars e no centro, no baquinho que costumávamos sentar, um balão (eu amo balões) em formato de coração amarrado, uma caixinha e um bilhete.

Gente do céu, era tudo tão brega, tão exagerado, tão over e tão lindo que eu não sei descrever o que eu senti naquele momento.

Ele disse pra eu ler o bilhete: Marcela Medeiros de Almeida, por favor responda a pergunta o mais alto que puder: você quer namorar comigo?

Eu estava em êxtase, em choque, era tudo muito surreal, mas eu segui meu extinto e gritei em plenos pulmões que sim. Depois eu abri a caixinha e vi um colar com uma metade de um coração, ele pegou e colocou no meu pescoço. Depois me mostrou a outra metade que estava "amarrada" no chaveiro do carro dele. Ele, enfim, pediu desculpas pelo atraso e disse que estava preparando tudo e que todos da minha casa sabiam. Eu fiquei ainda mais confusa, mais atordoada com tanta breguice e tanto amor. Não sabia o que dizer, nem o que pensar e, então, resolvi me entregar aquilo tudo, abracei meu agora namorado e ficamos ali até alta madrugada, sem nem perceber o tempo passar e nem notar quantas incontáveis vezes aquela que seria nossa música havia tocado..

Quando nos despedimos, com o dia quase nascendo, eu voltei para casa e fiquei pensando o quanto o Pedro estava me fazendo redescobrir o amor ou o quanto eu também nunca havia amado antes. Não daquela maneira!

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⏰ Last updated: Jun 09, 2016 ⏰

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