Capítulo 3 - Semelhanças

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Esse capítulo é um adendo, um momento em que meu Eu Ruth irá prevalecer. Um dos poucos! Eu não gosto muito de deixá-la falar porque ela é piegas demais, há de dar sono em vocês, mas é importante para que vocês entendam o nível da minha (ou seria dela? acho que nossa, né? sei lá!) relação com o Pedro.

Bom, não é tipo uma substituição de jogo de futebol, mas vocês irão notar as diferenças, então, primeiramente, peço desculpas pela meiguice (leia-se chatice) e pelo romantismo que virá a seguir. Segundamente, boa sorte! Avante!

Eu e o Pedro tínhamos muito um do outro. Mesmo quando ainda éramos crianças, isso saltava aos olhos. Não eram apenas gostos em comum, eram semelhanças de temperamento, personalidade, jeito de ser. Cansei de ouvir nossos pais conversarem e, entre uma risada e outra, dizerem que se fossemos irmãos não seriamos tão parecidos. E era bem isso. Nossa ligação era meio simbiótica e ultrapassava explicações muito racionais.

A lembrança mais remota e forte que eu tenho dessas semelhanças, foi uma vez em que voltávamos para casa da aula, no transporte escolar. O Levi, irmão do Pedro, e o Eduardo, meu irmão mais novo, tinham aula extra à tarde e haviam ficado na escola. O Matheus estava adoentado e nem fora a aula naquele dia. Pedro estava mostrando para os meninos seus tazzos, enquanto eu brincava com meu Tamagosh. Do nada, alguém falou sobre Cavaleiros do Zodíaco (que eu amava!) e começamos um acalorado debate sobre qual personagem era melhor, mais forte e mais importante. Eu sempre detestei gostar do que todos gostam, odiava seguir a moda, sempre preferi a Ranger Amarela à Rosa, a Eliana à Xuxa, a Vampira à Jean Grey, o Draco ao Harry, por ai vai. Nunca havia encontrado ninguém que preferisse o Ikki ao Seiya. Até ouvir o Pedro falando sobre Cavaleiros do Zodíaco naquele dia. Meus olhos brilharam: ele era exatamente como eu, achava o personagem principal modinha e detestava isso. Depois disso foi fácil perceber milhões de outras coisas em comum.

Eu fazia Balé e ele fazia Futebol num clube próximo do nosso prédio e íamos a pé, no começo a Tia Neide, moça que trabalhava aqui em casa, ia conosco, mas com o tempo passamos a ser independentes e irmos sozinhos.

Eu sempre andava pelo meio-fio, me sentia A AVENTUREIRA, andando numa corda bamba. Pedro fazia o mesmo. Confesso que isso, no começo, gerou um atrito porque tínhamos um único meio-fio para os dois, mas a Tia Neide era mestre em criar histórias que nos faziam para de brigar, e dizer que éramos uma dupla de escaladores de grandes montanhas funcionou muito bem.

Eram muitas semelhanças, viu? E eu poderia passar horas falando de cada uma delas, como cada uma nos fazia mais próximos um ao outro e do quanto eu amava ter essa ligação tão intensa com ele.

Adorávamos assistir a Seleção de Vôlei jogar (com o tempo, Pedro, passou a preferir a feminina, por motivos óbvios), preferíamos o banco de trás do carro, adorávamos ir ao Supermercado fazer a feira do mês, amávamos jogar basquete, mesmo que não tivéssemos o menor saco para assistir, escutávamos Mamonas Assassinas no volume máximo, nos imaginávamos no Gente Inocente fazendo perguntas para os famosos e tínhamos medo do escuro. Ahh, e não para por ai, mas vocês entenderam o ponto principal.

Os anos foram passando e os gostos foram ficando cada vez mais parecidos. O que mais chamava atenção, no entanto, era o quanto nossas personalidades eram parecidas. Aparentemente, nós havíamos moldado-as de maneira bem semelhante, como se fôssemos um ao invés de dois.

No aniversário de 18 anos do Pedro, fomos passar o fim de semana na praia, na casa de um amigo dos pais dele. O Pedro e o Eduardo levaram os violões e passamos a noite na fogueira, tocando, cantando e vendo a lua crescente bem alta no céu. Desde então, nós adorávamos olhar o céu em noites de Lua Crescente, nos fazia lembrar aquele fim de semana maravilhoso e não fugia à nossa regra, nada de Lua Cheia como a maioria das pessoas, Lua Crescente tinha mais a ver conosco.

Eram muitas semelhanças, muita coisa em comum, até gostamos de ouvir a Voz do Brasil (diferente do resto do universo, convenhamos). Mas também não tínhamos só semelhanças. Nós éramos incrivelmente parecidos, mas surpreendentemente diferentes. E isso dever ter sido o que sustentou por tanto tempo a amizade.

Hoje, eu percebo que isso não podia ser normal, duas pessoas tão parecidas não podiam dar certo. E não deram!

AMOR OU OUTRA DROGA QUALQUERWhere stories live. Discover now