Introdução

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A humanidade sempre fora como um grande jardim de infância, sempre derrubando uma caixa de suco de uva nas blusas brancas e limpas, mas nunca sendo capaz de limpar a própria bagunça.

Em parte porque grande maioria não passava de tolos, esperançosos e acomodados, esperando que alguém resolvesse todos os seus problemas em um passe de mágica. Eram hábeis em digitar suas indignações nas pequenas telas de seus smartphones, acostumando-se com a injustiça, a corrupção e o medo na certeza de que não havia mais o que ser feito em busca de uma salvação.

A outra metade acreditava fielmente que, para começar um incêndio, bastava uma fagulha.

Sendo assim, toda cidade precisava de heróis. Heróis em suas profissões, normalmente desacreditadas, mas que salvavam a vida de diversas pessoas todos os dias. Heróis na rua, que indicariam o caminho certo com um sorriso amigável quando o GPS do celular decidia parar de funcionar, ou o mapa do aplicativo estava completamente errado. Heróis tão apressados quanto você, mas que parariam para te ajudar no metrô se algum desatencioso mal educado empurrasse todas as suas coisas para o chão e sequer gritasse um desculpa antes de sair correndo.

A humanidade precisava de super-heróis muito antes dos filmes existirem, muito antes dos quadrinhos e das séries animadas. Foi assim que tudo isso surgiu, afinal.

A arte imita muito mais a vida do que ao contrário.

O que a vida não sabia era que a arte também podia ser realidade. E, talvez por sorte, ou talvez por plano divino, a hora mais necessária seria a escolhida para que, uma vez mais, a Terra voltasse a ser habitada por aqueles que tinham poder suficiente para salvá-la.

Mais do que collants coloridos e nomes extravagantes, muito mais do que músculos e habilidades que antes só eram atribuídas as antigas divindades, o fator crucial aqui é a capacidade de deixar que um instante de coragem mudasse para sempre a vida de alguém.

Heróis de verdade, com superpoderes.

Heróis que fariam algo mesmo que não coubesse a eles a responsabilidade.

Quando a hora derradeira chegasse, um grupo de jovens vigilantes precisaria deixar as diferenças de lado e trabalhar como um só, visando exterminar um mal maior do que qualquer um que já houvessem enfrentado antes.

Esta é a história desses heróis.

~

A lua estava no topo, cortando o breu formado por outra noite fria no coração da cidade; era o horário perfeito, o horário que vinha esperando há algum tempo. Não apenas isso; era uma noite de lua cheia, também. Ou seja, era o ambiente perfeito. Tudo conspirava para o sucesso, para uma vitória que logo poderiam desfrutar. Seus cabelos pretos eram mais escuros que a noite, e o afro acompanhava o vento para qualquer que fosse o seu destino, muitas vezes cobrindo o seu rosto.

Ela não se movia.

O vento se comportava de formas estranhas quando ela fazia aquilo com tanta dedicação, como se dançasse ao comando de uma música que nem mesmo ela poderia ouvir.

Seu notebook branco iluminava o rosto moreno, escuro e brilhante. Seus olhos não eram desse mundo; sua íris toda prata, em diversas tonalidades, e sua pupila cinza, mais escura.

Naquele momento, ela não piscava. Sua respiração era estável e baixa.

No topo daquela colina, olhando a cidade grande embaixo de si, Amberlee estava pronta para os chamar.

VictoriousOnde as histórias ganham vida. Descobre agora