Capítulo 2 - Brianna

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- Vamos procurar um lugar para nos esconder, - Chad respondeu. – E então, quando os portões se abrirem, tentaremos entrar sem sermos notados.

Eu fiz que sim com a cabeça, sem conseguir mover meus lábios, tanto de frio quanto de nervosismo. Essa história toda estava revirando meu estômago.

Regressando um pouco o caminho, Chad conseguiu encontrar uma pequena abertura entre algumas árvores que estavam ali por perto. Com a ajuda do seu Dom, esconder-nos entre árvores passou a ser nossa atividade favorita, uma das únicas coisas que tínhamos certeza de que daria certo.

Desmontamos do cavalo e sentamos ao pé de uma árvore. Tínhamos algumas horas de espera até o amanhecer, quando abririam os portões, e o momento parada no silêncio deu abertura a pensamentos invadirem minha mente. Pensamentos que eu vinha ignorando durante todo o percurso graças às diversas lutas que tivemos no meio do caminho. Por mais que eu tentasse, era inevitável eu pensar nas coisas horríveis que estariam acontecendo com minha irmã. Os pesadelos me assombravam todas as vezes que meus olhos se fechavam e eu imaginava seu corpinho frágil e miúdo machucado, seus olhos inocentes sem vida, jogada em um canto depois dos maus-tratos que ela deveria ter sofrido. Às vezes a imagem de minha mãe também vinha em minha mente, mas eu os puxava para longe de mim. A ideia dela ainda não era algo que descia suavemente para mim. Aquela coisa que eu guardava em relação a ela ainda estava dentro de mim, intacto, intocável, e eu sentia que, caso eu a desenterrasse, estaria tirando uma parte enorme daquilo que eu havia guardado comigo durante todos esses anos. E eu não sabia se estava pronta para deixar sair outra parte de mim. Eu já havia abrido mão de muita coisa para me tornar uma Guardiã.

- Ei, vai ficar tudo bem. – Eu ouvi Chad sussurrar ao meu lado.

Ele sempre dizia isso. Vai ficar tudo bem. Eu sempre quis acreditar nisso, sempre quis ter esse otimismo que Chad tinha. Essa facilidade de ver o lado positivo em tudo.

Senti o dedo de Chad tocar minha bochecha e foi quando eu percebi que havia deixado escorrer algumas lágrimas de meus olhos. Era incrível como elas vinham agora com tanta facilidade. Antes de tudo isso acontecer, chorar seria um sinal de fraqueza que eu havia me proibido de ter. Lágrimas não impediram a morte do meu pai. Lágrimas não impediram que minha mãe mentisse para mim durante todos aqueles anos. Lágrimas não haviam impedido minha irmã de ser levada por aquele doente que comandava Astafleer agora. De que adiantaria, então, elas escorrerem? Porém, eu não conseguia segurá-las mais. Algo havia mudado dentro de mim. E isso era assustador.

Os soluços vindos do meu íntimo aumentaram gradualmente e, antes que percebesse, eu já estava chorando incontrolavelmente, despejando para fora toda aquela agonia e tristeza que estava acumulada dentro de mim. Senti Chad se aproximar, envolvendo seu braço ao meu redor e me puxando para mais perto de si. Eu apoiei minha cabeça em seu ombro e deixei que minhas lágrimas ensopasse a veste negra que ele ainda vestia. Chad não disse nada, mas tive a sensação de que eu não era a única ali com os olhos molhados.

Ficamos em silêncio, esperando a noite ir embora, enquanto nós dois antecipávamos o luto eminente.

Pareceu uma eternidade desde que o alvorecer substituiu o céu negro da noite. Os sons de cavalos se aproximando pela estrada começaram a se tornar mais repetido, até que diversas vozes começaram a preencher o ar. O barulho de carroças de camponeses que haviam passado a noite viajando cresceu à medida que se aproximava o horário dos portões se abrirem, o que cooperou para minha ansiedade aumentar.

Ainda em nosso esconderijo, eu comecei a me aprontar, tirando as roupas escuras que havíamos roubado dos serviçais durante a noite e guardando na saca. Desfiz minha trança e a fiz novamente, tendo certeza de que nenhum fio seria deixado para trás para não correr nenhum risco de ser identificada novamente. Tirei minha capa dos ombros e o envolvi em minha cintura, cobrindo minhas calças. A capa enorme cobriu perfeitamente, assemelhando-se à uma saia longa. Chad passou para mim uma manta fina que ele havia encontrado na saca pendurada na sela do cavalo e eu cobri minha cabeça como, segundo Chad, faziam as mulheres da região.

O Cristalizar da Água - O Florescer do Fogo #2Where stories live. Discover now