IV

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- Vamos lá, Marie! - Insiste Shannon, eu nego. - Só falta o batom vermelho para ficar perfeita!

- Então eu não quero ficar perfeita, isso é muito escuro para mim, Shannon! - Argumento e ela bufa.

- Ok! Passamos só um pouco e eu vou retirando com papel até ficar bem clarinho, combinado? - Dessa vez eu concordo e ela sorri feliz. Quando, depois de quase três horas, terminamos, eu lembro de algo: - E os sapatos?

- A-I-M-E-U-D-E-U-S! Eu esqueci! E nem dá mais para ir ao shopping. - Ela começa a andar de um lado para o outro balançando a cabeça.

- Hum. Hum. - Kelvin surge na porta limpando propositalmente a garganta e antes de pronunciar-se, olha-me dos pés à cabeça. - Eu sempre fui o cérebro da família, né irmãzinha?

Kelvin, que está muito bonito em um terno azul marinho, tira as mãos de trás das costas trazendo com elas uma caixa de sapato. Ele a abre, e os olhos de sua irmã arregalam-se. É um salto preto, não tão alto, especialmente para que eu não caía.

Antes que eu tenha alguma reação, Kelvin vem até mim e ajoelha-se com um pé do sapato na mão. Segura em meu pé com suas mãos frias e coloca o calçado plantando um beijo castro no mesmo e faz isso com o outro pé também.

- Nossa, irmão! Quanto tempo eu dormir que nunca soube que você era tão romântico? - pergunta Shannon limpando os cantos dos olhos. Nós rimos.

- Acho que acabaram os problemas por aqui!

Nós despedimos de Shannon e de Jorge, e seguimos para o baile.

- Você está lindíssima com esse lencinho e vestido verde-água, combina com seus olhos. - Elogia de repente e eu coro. O vestido é bem justinho e meu cabelo cai como cascatas nos meus ombros.

- Devo dizer o mesmo de você, de terno, digo.

Somos recebidos por um grupo de amigos de Kelvin que logo tratam de me deixar para dentro da turma, eles fazem perguntas de como eu conheci o Kelvin e consegui conquistar o coração do quieto do colégio, e nós temos que inventar alguns encontros e esbarrões. Sinto-me realmente humana dançando e bebendo com eles.

Assustamos quando vemos que já se passa da meia noite, Kelvin despede-se dos amigos e nós vamos andar pela areia para aproveitar nossos últimos momentos juntos e os meus como humana.

- Acho que não é preciso dizer o quanto você é importante para mim, não é? - Digo parando na praia em que nos conhecemos. - Você me fez arriscar e sonhar mais alto até chegar aqui, me fez ver que o amor pode nascer em qualquer lugar, até entre seres de mundo diferentes, me fez ver o lado bom dos humanos. Só tenho à agradecer a ti, Kelvin.

- Não, não tem que agradecer Marie. Ter você na minha vida por esses meses foi libertador, já ouviu que eu era o nerdzinho do terceirão e não saía com ninguém antes de te conhecer, né minha menina dos mares. Não queria que isso virasse uma despedida de cara, mas faz o quê? A vida tem como uma de suas desvantagens ser injusta. - Kelvin fala e nega com a cabeça. - Se achar algo no mar nas águas de março sou eu.

- O que planeja? - indago segurando algumas lágrimas. Não quero uma despedida chorosa depois de tantos dias sorrindo ao lado dele.

- Você saberá na hora certa. - Ele olha o relógio no pulso e suas sobrancelhas erguem-se. - São uma hora. Você tem cinco minutos, minha Marie.

- Certo. - O puxo pela nuca para um beijo. Afasto-me e olho em seus olhos castanhos. - Valeu a pena, Kelvin, eu te amo!

- Eu também te amo, Marie. - Ele beija minha mão e eu corro para o mar, de volta à minha casa. Mas uma parte sempre fica, né? A parte de Kelvin em mim sempre estará bem guardada, assim como sei que a minha também está nele.

Tranformo-me de volta assim que as ondas me cobrem. Nado até o fundo do oceano deixando as lágrimas se misturarem com a água salgada.

Durou tempo bastante para tornar-se inesquecível e isso é que vale! Adeus, meu Kelvin.

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Marie - A Cinderela Das ÁguasWhere stories live. Discover now